São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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Maior débito é com a empresa do vice

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A prestação de contas do PT do ano passado, entregue anteontem à Justiça Eleitoral, mostra que R$ 11 milhões, ou quase um quarto da dívida reconhecida pelo partido, é com a Coteminas, empresa têxtil da família do vice-presidente da República, José Alencar.
O PT também deve cerca de R$ 14 milhões para bancos e reconhece débitos com vários dos principais protagonistas do escândalo do mensalão. O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, arquiteto do esquema de financiamento ilegal montado pelo partido no passado, é credor de R$ 393 mil; o publicitário Duda Mendonça, que confessou ter recebido pagamentos por meio de offshores, tem a receber R$ 210 mil, por meio da empresa CEP (Comunicação e Estratégia Política). Até o ex-secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, tem direito ao pagamento de R$ 4.184,26.

Coteminas
À Coteminas são devidos R$ 11.031.216,48, pela confecção de 2,75 milhões de camisetas para as campanhas municipais do partido de 2004, ou 23,66% do rombo petista. No ano passado, a Coteminas recebeu R$ 1 milhão do PT para o abatimento da dívida.
Os petistas admitem dívidas com três bancos: Rural, BMG e Banco do Brasil. Foram essas as instituições que alimentaram a parte "oficial" das finanças petistas na gestão do então secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares. Para o Banco Rural, o PT deve R$ 6.017.464,76; para o BMG, R$ 4.404.901,49; e para o Banco do Brasil, R$ 3.505.259,14.
Mas os empréstimos "não contabilizados", que, segundo Marcos Valério, somam quase R$ 110 milhões, ficaram de fora da prestação de contas do partido.
A parcela de R$ 351.508,20 paga por Valério em nome do PT, por ter avalizado o empréstimo junto ao BMG, é reconhecida pelo partido. Da mesma forma, a prestação de contas acusa a existência de dívida com uma das muitas empresas do publicitário, a Multi Action, no valor de R$ 41.716,08. Segundo o atual tesoureiro do partido, Paulo Ferreira, esta última teria sido quitada no início do ano.

Duda
Já o débito com a CEP, empresa controlada por Duda Mendonça, está sendo negociado. É mais uma herança da eleição de 2004, em que o publicitário fez campanhas petistas em cinco capitais (São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Goiânia).
"Nos próximos meses, será possível quitar dívidas com vários dos fornecedores, para ter mais fôlego para resolver os casos mais complexos", afirma Ferreira. Segundo ele, todas as dívidas, incluindo a da Coteminas, estão sendo negociadas amigavelmente. A única exceção é Valério, que cobra o PT na Justiça.
A Folha entrou em contato ontem com o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva (filho de José Alencar), mas a informação foi de que ele estava viajando.
Vários dirigentes ou ex-dirigentes petistas aparecem como credores do PT. O próprio presidente da legenda, Ricardo Berzoini, tem R$ 12 mil a receber. Ferreira afirma que o valor pode se referir a despesas de viagens pagas pelo dirigente e depois cobradas do partido. Seria essa também a razão para a dívida com Pereira, que se desfiliou do partido após vir a público a informação de que recebeu um Land Rover de uma empresa.

Doadores
Entre os doadores declarados, as maiores contribuições vieram de empresas de áreas de infra-estrutura. A campeã, com R$ 600 mil, é a Petrowax, fabricante de lubrificantes sediada em Iperó (SP), seguida pela Companhia Siderúrgica Nacional (R$ 500 mil), TEC Participações (R$ 350 mil), Construtora OAS (R$ 300 mil) e Coesa Engenharia (R$ 220 mil).
O total de doações recebidas pelo partido em 2005 foi R$ 3.334.830,52, valor bem menor do que o de 2004, quando entraram nos cofres petistas mais de R$ 14 milhões oriundos de pessoas jurídicas e físicas.


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