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Oposição é no Congresso, diz Serra
Governador de SP afirma que questões administrativas "têm de ter entendimento federal ou estadual"
Tucano, em viagem a Washington para negociar empréstimo com o BID, fala dos conflitos no PSDB em 1ª entrevista após eleito
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Oposição é no Congresso,
não é nos Executivos estaduais
ou municipais." A opinião é do
governador de São Paulo, José
Serra (PSDB), sobre frase em
que o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso critica a
aproximação do PSDB e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada, FHC
disse: "O povo está olhando para nós e dizendo: o que vocês
são, peixe ou carne de vaca?"
Para o governador, "as preocupações do Fernando Henrique são legítimas" mas "as
questões administrativas têm
de ter entendimento federal,
estadual ou municipal", o que
"não significa atrelamento".
Serra falou à Folha na saída do
prédio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
na tarde de anteontem, onde
havia discutido empréstimos
para a malha ferroviária e as estradas vicinais do Estado.
Leia trechos da entrevista
exclusiva, com perguntas e respostas reagrupadas por temas:
FOLHA - O sr. ouviu certamente a
frase do ex-presidente FHC sobre
"peixe e carne de vaca".
JOSÉ SERRA - As preocupações
do Fernando Henrique são legítimas. Agora, não tenhamos
dúvida, por outro lado, de que
oposição é no Congresso, não é
nos Executivos estaduais ou
municipais, nem ele pensa isso.
Oposição ou situação. O que
não significa atrelamento. As
questões administrativas têm
de ter entendimento federal,
estadual ou municipal.
FOLHA - Critica-se que o PSDB não
está desempenhando esse papel no
Congresso.
SERRA - Olha, é muito cedo.
Mas está. Tanto que a CPI [do
Apagão Aéreo] foi uma proposta do PSDB. Agora, tem uma dinâmica, a eleição acabou há
pouco, não faz seis meses, o Lula foi reeleito. Há uma ansiedade que se explica, mas que não
se justifica com relação a isso.
FOLHA - O sr. citou a reeleição. Há a
questão da emenda para acabar
com a reeleição.
SERRA - Não sou a favor de reeleição, mas já disse que não participei nem participarei de nenhuma articulação a esse respeito. Não há inclusive uma posição única no PSDB. E há também considerações a respeito
da oportunidade política para
isso. Eu não entro nesse detalhe. Apenas não vou articular,
isso é uma questão do Congresso. Tenho sim, sempre defendi
- aliás, eu que dei a idéia -
uma emenda criando o voto
distrital nos municípios que tenham dois turnos, portanto
com mais de 200 mil eleitores.
Se alguém quisesse fazer uma
mudança no sistema eleitoral,
eu começaria por aí, porque aí
não tem resistência política.
FOLHA - E a duração do mandato?
SERRA - Pode ser quatro anos,
pode ser cinco, pode ser seis, aí
é outra questão. Mas não sou a
favor de reeleição.
FOLHA - Lula disse que apoiaria
uma emenda, e o governador Aécio
Neves (PSDB-MG) também. O que
falta para sair do papel?
SERRA - Vontade política do
Congresso e provavelmente
uma conjuntura que favoreça.
FOLHA - O sr. se encontrou com o
ex-governador Geraldo Alckmin?
SERRA - É possível que me encontre. É uma visita natural, estou nos EUA, posso dar um pulo lá, ele está estudando [em
Harvard]. [Ontem, um dia após
a entrevista, o governador esteve com Alckmin]. Mas é muito
mais uma visita pessoal, não
tem nada de especial. Além do
que, decisão sobre candidatura
à Prefeitura [de São Paulo] vai
ser só no ano que vem. Eu decidi ser candidato em abril de
2004, nem passava pela minha
cabeça antes disso.
FOLHA - Vamos dizer que disputem o ex-governador e o prefeito
Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL).
SERRA - Não, o PSDB vai ter
aliança.
FOLHA - Vamos dizer que os dois
queiram ser o candidato da aliança.
Qual seria o critério de desempate?
SERRA - Será uma solução natural. Não sei, tem muito tempo
pela frente.
FOLHA - Hoje [quinta-feira] o Estado divulga a mudança no cálculo do
número de assaltos a bancos. É o dobro do que foi divulgado antes.
SERRA - Realmente, por estímulo da imprensa, a Secretaria
da Segurança fez uma revisão
dos assalto a bancos. Realmente os números não batiam e isso
foi corrigido. Aí é uma questão
do sistema de informações.
FOLHA - Pode-se esperar então a
correção para cima de outros índices, como homicídios?
SERRA - Não, não há nenhuma
indicação nesse sentido. Além
do que, homicídio entra pelo
IML, é outro sistema. Mas, se
for constatada alguma incorreção, corrigiremos também.
FOLHA - O governo federal disse
que não abrirá mão da transferência
dos 205 mil servidores temporários
do Estado para o regime da Previdência [o INSS].
SERRA - Acho errado. E a ironia
é que o PT de São Paulo, que
controla boa parte das entidades do ensino, esteja fazendo
greve contra o governo estadual porque quer que os temporários fiquem na aposentadoria estadual. Só que nós não
só queremos isso como fomos
pedir isso para a Justiça contra
o governo federal. Eles estão,
portanto, com a greve errada. É
incrível.
FOLHA - O governo do Estado teria
o dinheiro para recolher o INSS desse pessoal?
SERRA - Não. Mas aí são duas
questões. Uma é financeira, outra é conceitual. Conceitualmente nós achamos que eles
são funcionários públicos, não
tem cabimento serem transferidos para o INSS. Além do problema financeiro. Mas eu jamais faria isso, mesmo que a
custo zero.
FOLHA - Qual foi o tema principal
do encontro no BID?
SERRA - Etanol. Pesquisa. São
Paulo não tem mais que expandir a cana extensivamente. Nós
vamos ficar centrados na produtividade. Produtividade é
pesquisa e logística. Envolve o
quê? Estradas, daí o programa
de vicinais que eu trouxe aqui.
E também a malha ferroviária
da região metropolitana. Nós
temos 60 km de metrô, mas temos 250 km de trilhos na Grande São Paulo. Já tem os trilhos,
já tem as estações. O que você
precisa fazer é sistema de funcionamento de trem e equipamentos novos. Isso vira metrô
de superfície, para poluição, para condição de vida, é uma revolução em São Paulo.
FOLHA - O ditador cubano Fidel
Castro critica o uso da terra para biocombustível, alegando que roubaria
área destinada a alimentos.
SERRA - É um falso dilema. No
caso brasileiro, não existe esse
conflito. Excluída a Floresta
Amazônica, há pelo menos 90
milhões de hectares de terra
sem ocupação agrícola definida
que podem ser incorporados.
Desses 90 milhões, pelo menos
25 milhões servem para a cana.
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