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Datafolha cresce e completa 25 anos como referência
Instituto, criado na redemocratização, tem trajetória marcada por transparência metodológica e independência dos políticos
Mauro Paulino, atual diretor, diz que "o instituto aliou a agilidade e o faro jornalístico ao instrumento científico de investigação da opinião"
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Datafolha Instituto de Pesquisas está completando 25
anos de atividades. "Nasceu
junto com a redemocratização
do país, preocupado em mostrar transparência na maneira
de fazer pesquisas", diz Antonio Manuel Teixeira Mendes,
superintendente da Folha e
primeiro diretor do instituto.
O Datafolha foi criado em
1983. Um ano antes, ainda com
o nome de "Pesquisa Folha",
inaugurou estudos de intenção
de votos, na primeira eleição
direta para governos estaduais.
O futuro instituto era só uma
mesa, no meio da Redação, onde a socióloga Mara Kotscho,
com sua máquina de calcular,
orientava os entrevistadores,
estudantes da PUC (Pontifícia
Universidade Católica).
"Tenho muito orgulho de ter
montado o Datafolha", diz Mara, mulher do jornalista Ricardo Kotscho. Ela aplicou a metodologia do professor Reginaldo Prandi, então titular do Departamento de Sociologia da
USP e um dos pesquisadores
do Cebrap (Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento).
Prandi foi apresentado ao
"publisher" da Folha, Octavio
Frias de Oliveira, por Vilmar
Faria, que anos depois seria assessor do presidente FHC. O
professor da USP mantinha
uma equipe de pesquisa no comitê de Lula, e foi convidado
por Frias a levar sua metodologia ao Datafolha. "Ele impunha
certas regras: a pesquisa tinha
que ser rápida, econômica e
transparente", diz Prandi.
"A primeira grande pesquisa
nacional foi bastante inovadora, usando o método que desenvolvi para o PT."
Os sociólogos Reginaldo
Prandi, Antonio Manuel Teixeira Mendes e Antonio Flávio
Pierucci desenvolveram a metodologia que cruza dados geográficos, de renda e sociais.
Até então, metodologia de
pesquisas era "segredo industrial" dos institutos. O jornal
passou a explicar o processo de
amostragem e o conceito de
margem de erro. "O instituto
aliou a agilidade e o faro jornalístico ao instrumento científico de investigação da opinião
pública", diz Mauro Paulino,
atual diretor do Datafolha.
Pesquisas eleitorais
Em 1988, o Datafolha mostrou, na véspera da eleição, que
a então candidata petista à prefeitura paulistana, Luiza Erundina, estava em ascensão e poderia derrotar Paulo Maluf, o
que de fato ocorreu.
Em 1989, o Datafolha cravou
que Lula, e não Leonel Brizola
(PDT), iria para o segundo turno contra Fernando Collor (então no PRN).
Em 1998, o instituto foi o único a mostrar que, na disputa pelo governo paulista entre Paulo
Maluf, Mario Covas e Marta
Suplicy, a petista tinha, na véspera do primeiro turno, chances reais de ir ao segundo.
Diferentemente de outros
institutos, o Datafolha não faz
pesquisas encomendadas por
políticos ou partido políticos.
Entre as suas capacitações ao
longo do tempo, o instituto desenvolveu metodologia própria
para medir aglomerações. Ela
foi usada, por exemplo, durante
a campanha das Diretas.
O instituto elaborou pesquisas de fôlego, como o estudo
que resultou no livro "O Racismo Cordial" (1995), e dossiês
sobre religião, família, sexualidade, sem-terra e outros.
"A freqüência com que o Datafolha passou a publicar estudos comportamentais e eleitorais foi um processo de educação da própria opinião pública", diz o sociólogo Gustavo
Venturi, que dirigiu o Datafolha entre 1992 e 1996.
Em 1993, a economista Eneida Nogueira assumiu a diretoria comercial, desenvolvendo a
área de pesquisas de mercado.
"Tenho orgulho de ter trabalhado no Datafolha. Estou na
TV Globo, que é cliente do instituto, porque a qualidade do
trabalho continua excelente."
Com metodologia própria, o
Datafolha faz pesquisas de
mercado para grandes companhias. "Hoje é uma empresa
com vôo próprio e continua
tendo na Folha o seu principal
cliente", diz Teixeira Mendes.
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