São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Datafolha cresce e completa 25 anos como referência

Instituto, criado na redemocratização, tem trajetória marcada por transparência metodológica e independência dos políticos

Mauro Paulino, atual diretor, diz que "o instituto aliou a agilidade e o faro jornalístico ao instrumento científico de investigação da opinião"


FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Datafolha Instituto de Pesquisas está completando 25 anos de atividades. "Nasceu junto com a redemocratização do país, preocupado em mostrar transparência na maneira de fazer pesquisas", diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, superintendente da Folha e primeiro diretor do instituto.
O Datafolha foi criado em 1983. Um ano antes, ainda com o nome de "Pesquisa Folha", inaugurou estudos de intenção de votos, na primeira eleição direta para governos estaduais. O futuro instituto era só uma mesa, no meio da Redação, onde a socióloga Mara Kotscho, com sua máquina de calcular, orientava os entrevistadores, estudantes da PUC (Pontifícia Universidade Católica).
"Tenho muito orgulho de ter montado o Datafolha", diz Mara, mulher do jornalista Ricardo Kotscho. Ela aplicou a metodologia do professor Reginaldo Prandi, então titular do Departamento de Sociologia da USP e um dos pesquisadores do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Prandi foi apresentado ao "publisher" da Folha, Octavio Frias de Oliveira, por Vilmar Faria, que anos depois seria assessor do presidente FHC. O professor da USP mantinha uma equipe de pesquisa no comitê de Lula, e foi convidado por Frias a levar sua metodologia ao Datafolha. "Ele impunha certas regras: a pesquisa tinha que ser rápida, econômica e transparente", diz Prandi.
"A primeira grande pesquisa nacional foi bastante inovadora, usando o método que desenvolvi para o PT."
Os sociólogos Reginaldo Prandi, Antonio Manuel Teixeira Mendes e Antonio Flávio Pierucci desenvolveram a metodologia que cruza dados geográficos, de renda e sociais.
Até então, metodologia de pesquisas era "segredo industrial" dos institutos. O jornal passou a explicar o processo de amostragem e o conceito de margem de erro. "O instituto aliou a agilidade e o faro jornalístico ao instrumento científico de investigação da opinião pública", diz Mauro Paulino, atual diretor do Datafolha.

Pesquisas eleitorais
Em 1988, o Datafolha mostrou, na véspera da eleição, que a então candidata petista à prefeitura paulistana, Luiza Erundina, estava em ascensão e poderia derrotar Paulo Maluf, o que de fato ocorreu.
Em 1989, o Datafolha cravou que Lula, e não Leonel Brizola (PDT), iria para o segundo turno contra Fernando Collor (então no PRN).
Em 1998, o instituto foi o único a mostrar que, na disputa pelo governo paulista entre Paulo Maluf, Mario Covas e Marta Suplicy, a petista tinha, na véspera do primeiro turno, chances reais de ir ao segundo.
Diferentemente de outros institutos, o Datafolha não faz pesquisas encomendadas por políticos ou partido políticos. Entre as suas capacitações ao longo do tempo, o instituto desenvolveu metodologia própria para medir aglomerações. Ela foi usada, por exemplo, durante a campanha das Diretas.
O instituto elaborou pesquisas de fôlego, como o estudo que resultou no livro "O Racismo Cordial" (1995), e dossiês sobre religião, família, sexualidade, sem-terra e outros.
"A freqüência com que o Datafolha passou a publicar estudos comportamentais e eleitorais foi um processo de educação da própria opinião pública", diz o sociólogo Gustavo Venturi, que dirigiu o Datafolha entre 1992 e 1996.
Em 1993, a economista Eneida Nogueira assumiu a diretoria comercial, desenvolvendo a área de pesquisas de mercado. "Tenho orgulho de ter trabalhado no Datafolha. Estou na TV Globo, que é cliente do instituto, porque a qualidade do trabalho continua excelente."
Com metodologia própria, o Datafolha faz pesquisas de mercado para grandes companhias. "Hoje é uma empresa com vôo próprio e continua tendo na Folha o seu principal cliente", diz Teixeira Mendes.


Texto Anterior: Viés de alta: Desmatamento cresce em quatro áreas indígenas
Próximo Texto: Droga na família apavora paulistanos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.