São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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Ameaças à mídia hoje são mais "insidiosas", afirma Bernstein

DA SUCURSAL DO RIO

O americano Carl Bernstein, 66, famoso pelas reportagens que contribuíram para a queda do presidente Richard Nixon em 1974, traçou um quadro crítico da atuação da imprensa nos EUA e no mundo ao encerrar o seminário no Rio.
"Devemos encorajar uma nova cultura de responsabilidade, do contrário não seremos levados a sério quando trouxermos [à tona] questões relativas à liberdade de expressão", disse o jornalista. "Se usarmos mal essa liberdade, serviremos aos interesses da ignorância e da tirania, seja de um [Hugo] Chávez na Venezuela ou de um [ Silvio] Berlusconi na Itália."
As investigações feitas por Bernstein com Bob Woodward, publicadas "Washington Post", desencadearam o escândalo de Watergate e levaram o governo Nixon a processar e ameaçar o "Post" e outros meios.
Para Bernstein, empresas e jornalistas se distanciaram de duas noções que devem ser "pilares" do seu trabalho: a de que a imprensa "existe para o bem público, não apenas para fazer dinheiro ou entreter" e a de que "nossa função primária é dar aos nossos leitores e espectadores a melhor versão da verdade possível de obter".
"Viemos perdendo esse ideal de vista e no seu lugar estamos vendo a dominância de uma cultura jornalística global que tem cada vez menos a ver com a realidade", afirmou.
O jornalista atacou os meios que se caracterizam pelo "culto à celebridade, pela fofoca, pelo sensacionalismo, pela negação das verdadeiras condições de nossas sociedades e pela fabricação de controvérsias".
Ele comparou a tentativa de Nixon de cassar a licença da emissora CBS às ações de Chávez contra TVs. Mas disse que hoje as ameaças à imprensa são mais "insidiosas" e difíceis de combater do que quando começou sua carreira e muitas ditaduras, de direita e de esquerda, não escondiam a intenção de controlar a comunicação.
"Hoje as ameaças visam induzir à autocensura e evitar que se pratique um jornalismo independente", disse. (CA)


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