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Ameaças à mídia hoje são mais "insidiosas", afirma Bernstein
DA SUCURSAL DO RIO
O americano Carl Bernstein,
66, famoso pelas reportagens
que contribuíram para a queda
do presidente Richard Nixon
em 1974, traçou um quadro crítico da atuação da imprensa
nos EUA e no mundo ao encerrar o seminário no Rio.
"Devemos encorajar uma nova cultura de responsabilidade,
do contrário não seremos levados a sério quando trouxermos
[à tona] questões relativas à liberdade de expressão", disse o
jornalista. "Se usarmos mal essa liberdade, serviremos aos interesses da ignorância e da tirania, seja de um [Hugo] Chávez
na Venezuela ou de um [ Silvio]
Berlusconi na Itália."
As investigações feitas por
Bernstein com Bob Woodward,
publicadas "Washington Post",
desencadearam o escândalo de
Watergate e levaram o governo
Nixon a processar e ameaçar o
"Post" e outros meios.
Para Bernstein, empresas e
jornalistas se distanciaram de
duas noções que devem ser "pilares" do seu trabalho: a de que
a imprensa "existe para o bem
público, não apenas para fazer
dinheiro ou entreter" e a de que
"nossa função primária é dar
aos nossos leitores e espectadores a melhor versão da verdade
possível de obter".
"Viemos perdendo esse ideal
de vista e no seu lugar estamos
vendo a dominância de uma
cultura jornalística global que
tem cada vez menos a ver com a
realidade", afirmou.
O jornalista atacou os meios
que se caracterizam pelo "culto
à celebridade, pela fofoca, pelo
sensacionalismo, pela negação
das verdadeiras condições de
nossas sociedades e pela fabricação de controvérsias".
Ele comparou a tentativa de
Nixon de cassar a licença da
emissora CBS às ações de Chávez contra TVs. Mas disse que
hoje as ameaças à imprensa são
mais "insidiosas" e difíceis de
combater do que quando começou sua carreira e muitas ditaduras, de direita e de esquerda,
não escondiam a intenção de
controlar a comunicação.
"Hoje as ameaças visam induzir à autocensura e evitar
que se pratique um jornalismo
independente", disse.
(CA)
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