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RUMO A 2002
Ministros disputaram cargos no Cade e tentam apoio parlamentar
Sucessão de FHC acirra rivalidade Serra-Malan
KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL
José Serra (Saúde) e Pedro Malan (Fazenda) voltaram a duelar.
Os dois ministros divergem sobre
economia desde o começo do primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso, mas a sucessão presidencial de 2002 acirrou a
disputa entre eles.
Aos 58 anos, Serra está travando
a batalha mais importante de sua
carreira política: viabilizar sua
candidatura a sucessor de FHC.
Quando dava como certo que os
adversários tucanos, os governadores Mário Covas (SP) e Tasso
Jereissati (CE), estavam fora do
páreo, estreitava laços com o
PMDB e aproximava-se do PFL,
apareceu uma pedra no meio do
caminho: Malan, 57.
A "ameaça" Malan desencadeou uma ação deliberada de Serra para minar o poder do ministro
da Fazenda no governo. Malan,
para surpresa do colega da Saúde,
deu o troco na mesma moeda.
Um dos rounds aconteceu em
torno de cargos no Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica). Serra queria prorrogar por mais um ano o mandato
de Gesner de Oliveira, ex-presidente do Cade, e o do conselheiro
Marcelo Calliari por meio de uma
MP (medida provisória).
Um dos ministros que mais
atuaram nos bastidores a favor da
AmBev (fusão da Brahma com a
Antarctica julgada pelo Cade),
Serra gostou da condução do caso
feita por Gesner.
Malan desejava emplacar Paulo
de Tarso Ribeiro (Secretaria de
Direito Econômico) no lugar de
Gesner. Não conseguiu o que queria, mas derrubou, com a ajuda de
Pedro Parente (Casa Civil), a MP
articulada por Serra.
Acabou escolhido para presidente do Cade o advogado João
Grandino Rodas, um nome do
ministro da Justiça, José Gregori.
No entanto, conta um assessor de
FHC, a fim de dinamitar o candidato de Malan, Serra ameaçou
romper a antiga amizade com
Gregori e Aloysio Nunes Ferreira
(Secretaria Geral), que não teriam
ficado ao seu lado.
Outra batalha é pela simpatia de
parlamentares. Malan aumentou
o espaço na agenda para falar com
governistas e até oposicionistas
-recebeu, por exemplo, o líder
Aloizio Mercadante na quinta. Está preocupado com a pecha de
tecnocrata teleguiado do FMI
(Fundo Monetário Internacional), mortal para um candidato.
Serra, que enfrenta enorme resistência no PFL, reuniu-se há
duas semanas com o líder pefelista Inocêncio Oliveira (PE). Acenou com eventual apoio tucano
para a presidência da Câmara, um
sonho de Inocêncio.
Ao mesmo tempo, Andrea Matarazzo, o secretário de Comunicação de Governo e fiel escudeiro
de Serra junto ao empresariado,
conversou com Inocêncio. Falou
da intenção do governo de investir na propaganda em mídias regionais. O pefelista é dono de uma
TV e de uma rádio em Pernambuco. Antigo desafeto de Serra, Inocêncio já não acha hoje tão inviável levar o PFL a apoiá-lo.
Avaliando que estava sendo fritado, Malan foi a FHC pedir que
ele desse um basta nas frequentes
especulações sobre sua candidatura presidencial. Achou que Serra alimentava a versão de que o
ministro da Fazenda tentava se
viabilizar entre os políticos e dera
guinada no discurso. Nasceu aí "o
Malan social". Assessores do ministro foram obrigados a levantar
pronunciamentos antigos e mostrar aos jornalistas que Malan,
desde 95, menciona o combate à
pobreza. O detalhe, entretanto, é
que a ênfase agora é maior.
FHC, porém, saiu rapidamente
em socorro de Malan. Deu uma
declaração atribuindo a candidatura Malan a uma invencionice do
jornalismo brasiliense.
O presidente deve ter se esquecido que o presidenciável Malan
surgiu, por inspiração do Planalto, como forma de o governo vender que confia no cenário de crescimento econômico, principalmente em 2002 (ano da eleição).
Nesse cenário, o nome de Malan
faria sentido como um continuador da obra do atual campo governista (PSDB, PMDB e PFL). O
adiamento da desvalorização
cambial, já dada como certa por
membros do governo durante as
eleições de 98, mostrou que, se
quiser, o governo tem margem de
manobra para "melhorar" a economia. Se os indicadores ajudarem, mais fácil ainda.
Malan sempre negou e nega a
candidatura, mas, reservadamente, assessores não afastam essa hipótese. Dizem que, em termos de
intenção de voto, os tucanos não
estão em melhor situação.
Na última pesquisa Datafolha
de sucessão presidencial, Covas
teve 5%. Serra e Tasso, 3%. Como
a margem de erro foi de dois pontos para mais ou menos, até Covas
pode estar, no limite, empatado
com Malan (2%). Estatisticamente, ficam todos bem atrás dos 28%
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
dos 18% de Ciro Gomes (PPS).
Ou seja, argumentam os defensores de Malan, intenção de voto
não é parâmetro hoje para definir
um candidato governista. Lembram que os pefelistas também
não empolgam -ACM teve 6%, e
a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, 7%. Afirmam que o
importante é trabalhar uma candidatura (leia-se apoio político,
empresarial e de mídia).
No Ministério da Fazenda, ouve-se o seguinte raciocínio: se Covas disputar, tende a fazer um discurso quase anti-FHC; Tasso ou
Serra seguiriam mais levemente o
mesmo caminho, defendendo
uma correção de rumos.
A candidatura Malan não. Essa
teria de defender o governo. Mais:
em caso de vitória, significaria
uma conquista de FHC. O próprio
presidente fez essa análise a interlocutores. Uma vitória de Malan
seria claramente uma vitória sua.
Daí nasceu a frase atribuída a
FHC: "Serra é o candidato da
mente. Malan, o candidato do coração". O primeiro seria o companheiro partidário a quem o presidente passaria o bastão. O segundo, o nome preferido para continuar sua obra.
Na avaliação de ministros e tucanos ouvidos pela Folha, Serra
tem pressa em inviabilizar a candidatura Malan. Acha que Malan
é o ministro que mais consegue se
impor a FHC, recorrendo até a
ameaça de pedido de demissão.
Procura ainda estimular a ojeriza
do PSDB a Malan e alimentar resistências no PMDB e no PFL
(ACM, por exemplo).
ACM, aliás, era o grande inimigo de Serra e chegou a fazer corte
política a Malan, mas hoje o senador pefelista também se distanciou do ministro da Fazenda.
Do lado de Malan, Serra é visto
como um hábil vendedor de versões para imprensa. Se não respondesse ao fogo de bastidor de
Serra, o ministro da Fazenda pensa que fecharia a porta para uma
eventual candidatura.
No Congresso, a rivalidade também se dá pela aprovação de uma
emenda para vincular recursos do
Orçamento para a Saúde. A
"emenda Serra" seria um boa
bandeira social. Malan é contra a
vinculação de recursos. Serra
também era, mas mudou de posição na pasta da Saúde.
Para evitar uma guerra pública,
o Planalto pediu a parlamentares
o cancelamento de um debate no
Congresso entre Serra e Malan a
respeito da emenda. Mais arredio
a dar respostas a Serra, Malan demonstrou vontade de atacar.
Depois que perderam a chance
de ver Malan e Serra se trucidando no Congresso, os parlamentares se divertiram com a descoberta do site www.serra2002.com.br.
Rapidamente, espalhou-se a versão de que, por inveja do
www.malan2002.com.br, Serra
teria registrado seu domínio na
rede mundial de computadores.
Um advogado amigo de Malan
registrou o site para o ministro.
No caso de Serra, porém, foi
alarme falso. Um economista de
Franca registrou o www.serra2002.com.br e até um www.tasso2002.com.br. Telefonou para
um assessor e disse que alguém da
Bahia oferecera R$ 5.000 pelo domínio. A assessoria entendeu que
o economista queria vender o site
para Serra e se recusou a comprá-lo, alegando que o ministro não
tem interesse nem acredita em
campanha via Internet.
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