São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


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REESTRUTURAÇÃO
Grupo de senador redireciona negócios para alterar origem do lucro, 80% originados de emissora afiliada
ACM quer reduzir dependência da Globo

WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O grupo empresarial da família de Antonio Carlos Magalhães tem um problema a enfrentar: precisa diversificar seus negócios para reduzir o peso da Rede Globo no desempenho do conglomerado formado por 14 empresas e 1.100 funcionários.
A tarefa está entregue a Antonio Carlos Magalhães Júnior, 47, filho mais velho do presidente do Congresso. Na família, ele é o responsável por administrar e aumentar um império empresarial que faturou R$ 185 milhões em 99 -23% a mais do que em 98. Império que ganhou vocação para a TV quando ACM foi ministro das Comunicações, no governo Sarney.
Magalhães Júnior não diz quanto o grupo tem lucrado ultimamente. Mas informa que "a área de TV respondeu por 72% do lucro do grupo no ano passado, o que é bastante expressivo".
"Não vejo essa concentração, necessariamente, como um problema. Mas é claro que os novos negócios vão reduzir proporcionalmente a participação da televisão nos resultados do grupo", avalia o empresário.
Isso, a princípio, não muda o trato com a família Marinho, da Globo. "Nosso relacionamento é muito bom. Nos últimos anos, procurei ampliar essa relação integrando nossos departamentos com a Rede Globo", diz o empresário.

Relacionamento
A amizade entre Magalhães Júnior e os herdeiros da Rede Globo, porém, é muito diferente daquela mantida durante anos pelos respectivos patriarcas, ACM e Roberto Marinho.
"Nosso relacionamento é profissional", define o presidente da Bahiapar.
No início de março, quando a Rede Globo levou ao ar uma série de reportagens sobre as denúncias da ex-primeira-dama Nicéa Pitta, o senador chegou a escrever aos filhos de Marinho.
Nicéa acusou ACM porque ele teria pressionado a Prefeitura de São Paulo para liberar pagamentos à empreiteira OAS, pertencente a um genro do senador.
Na carta aos filhos de Marinho, ACM lamentava o fato de a reportagem ter ido ao ar sem ouvi-lo antes-o que, na avaliação do presidente do Congresso, não aconteceria quando Roberto Marinho dirigia pessoalmente as empresas Globo.

Projetos
De uma sala fria, com piso em granito e sem vista para o mar, o executivo da família ACM experimenta na prática seu tema de estudos predileto: avaliação de empresas e negócios. "É a minha paixão acadêmica", conta.
Dessa paixão têm nascido vários projetos nos últimos meses com o objetivo de diversificar os negócios.
O último deles produziu uma parceria entre o megaportal Terra e a Santa Helena Informática, administrada pela Bahiapar Participações -holding das empresas da família.
O casamento, apesar de novo, promete não durar para sempre. "Essa participação poderá ser vendida. É muito natural que, no futuro, o Terra queira ter um controle único", prevê Magalhães Júnior.

TV a cabo
Onde não há titubeio é no mercado de TV a cabo. Três empresas criadas pela Bahiapar estão encarregadas de avançar sobre esse nicho e resistir à concorrência da TV Cidade (SBT/Bandeirantes).
A Bahia Cabo Telecomunicações (BCT), a Bahiasat e a Salvadorsat têm como missão central incrementar a rentabilidade do grupo.
O grupo já investiu R$ 11 milhões nesse setor e até o final do ano que vem estão programados mais R$ 29 milhões. Do Eximbank americano, veio um empréstimo de US$ 1,95 milhão para o projeto.
Outro bom negócio foi feito no final de 99 e durou apenas seis meses. No início de 2000, a Bahiapar vendeu para a Telefônica, por R$ 5,7 milhões, sua participação na Quatro/A Nordeste, uma empresa de telemarketing. "Preferimos sair a manter uma participação minoritária", explica Magalhães Júnior.
Minoritária, segundo ele, só a participação do setor público na receita do grupo. O empresário não espera nem ser questionado sobre o tema para dizer: "Nossos negócios com setor privado respondem por 90% do faturamento".
E volta a crispar o rosto quanto o assunto é pagamento de tributos. "Há uma regra bem clara em todas as empresas do grupo: imposto é para ser pago. E quem não cumprir isso está na rua. Não tem conversa", diz Magalhães Júnior, lembrando algumas reações do pai senador.

Ambição
O executivo que administra o patrimônio da família ACM formou-se administrador de empresas, em 75, nos bancos da Universidade Federal da Bahia, onde atualmente dá aulas de Finanças Corporativas.
Sua primeira experiência profissional deu-se nas salas do antigo Banco Econômico. Ali, entre 75 e 88, Magalhães Júnior passou pelos departamentos de comércio exterior e mercado de capitais. Ângelo Calmon de Sá, dono do Econômico, e ACM ainda eram bons amigos. Dali, o executivo saltou para as empresas da família e, em 94, assumiu a presidência do grupo.
Magalhães Júnior nunca estudou nem morou fora de Salvador, mas fez cursos rápidos nos Estados Unidos.
Nas conversas sobre negócios, usa termos em inglês -relação "price/sales" (preço/ vendas) e "fly to quality" (fuga para a qualidade)- com a mesma naturalidade com que qualquer baiano pede acarajé ou vatapá nas ruas de Salvador.
Por ele, não mudaria de vida. "Virei suplente do senador (ACM) por uma decisão dele. Ele me comunicou e eu respeitei", resigna-se Magalhães Júnior.
"Minha ambição é trabalhar para o nosso grupo e prefiro ficar na iniciativa privada, onde sempre trabalhei", declara.


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