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QUESTÃO AGRÁRIA
Dezesseis anos depois de distribuição de terras, Estado tem 13 mil famílias trabalhando na agricultura
Assentado produz 20% do feijão de MS
CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAQUIRAÍ
Dezesseis anos depois de seu
surgimento, os assentamentos
respondem por 20% da produção
de alguns produtos agrícolas em
Mato Grosso do Sul, como mandioca e feijão.
Os ex-sem-terra conquistaram
um número maior de lotes nos últimos cinco anos, quando foram
criados 65 novos assentamentos.Na década de 80, eles foram
beneficiados com 23 áreas.
Atualmente, cerca de 13 mil famílias estão assentadas em mais
de 700 mil hectares distribuídos
por 37 dos 77 municípios do Estado.
Estudo feito pela Superintendência Regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) revela que os assentamentos no Estado produziram, no ano passado, 143 das 612
toneladas de mandioca colhidas,
ou 23,49% de todo o plantio.
Ainda na safra do ano passado,
os ex-sem-terra foram os responsáveis por 19,7% do plantio de feijão -eles colheram 5 toneladas
das 26 produzidas.
Os assentados atuam também
na pecuária leiteira, pois já possuem quase 100 mil cabeças de vaca e a produção diária é de 220 mil
litros de leite, o equivalente a 11%
da produção estadual.
A performance econômica dos
assentamentos é mais destacada
em Itaquiraí (400 km ao sul de
Campo Grande), região que serviu de palco a conflitos entre sem-terra e fazendeiros.
No início da década de 90, Itaquiraí possuía uma população de
12 mil habitantes, número que
saltou atualmente para 29 mil,
conforme estudo da prefeitura.
Para ter uma idéia das mudanças ocorridas nessa região, basta
acompanhar os dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). Em 1989, o município possuía 125 grandes propriedades rurais. Atualmente, a cidade conta com 1.553 pequenas propriedades, que abrigam cerca de
2.000 famílias.
A maioria dos assentados eram
bóias-frias, homens e mulheres
com grau de instrução nunca superior ao ensino fundamental.
Antes do assentamento, ganhavam R$ 5 por dia, em média, e, de
acordo com relatos deles próprios, não tinham nenhuma perspectiva de vida.
Dailton Flauzino, 36, é hoje sócio de um grupo de ex-sem-terra
que possui 126 hectares. Ele afirma que trabalhou a maior parte
da vida como cortador de cana e
peão de fazenda, ganhando menos de um salário mínimo.
Flauzino foi beneficiado com
um lote, em 1996. Integrou-se a
um grupo de oito lavradores. A
sociedade, conhecida como GCT
(Grupo Coletivo de Trabalho),
método aplicado em alguns assentamentos do Estado pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores
Sem-Terra), deu certo até agora.
Flauzino movimenta uma conta
bancária com saldo e adquiriu
máquinas agrícolas.
O ex-sem-terra e os sócios disseram que a produção garante a
alimentação de suas famílias e
ainda vendem feijão, milho e produtos hortifrutigranjeiros.
Jilvan Coelho dos Santos, 34, sócio de Flauzino, disse que o grupo
já conseguiu comprar uma picape, um trator, uma motocicleta e
um caminhão, veículos usados no
transporte dos produtos para Itaquiraí, a 30 km de distância.
Morando em uma casa de cinco
cômodos, com freezer e antena
parabólica, Darci Pino Garcia, 37,
disse que o assentamento "é uma
obra de Deus" e que está garantido o futuro da filha Franciele.
Recursos federais
O coordenador da Cooperativa
de Prestações de Serviços e Reforma Agrária do Cone Sul, Carlos
Ferrari, disse que as 422 famílias
beneficiadas com um lote no Sul
Bonito receberam cerca de R$ 3,5
milhões em recursos federais, nos
últimos três anos.
Ferrari, que monitora os investimentos de 120 famílias, disse
que a produção dos ex-sem-terra
já supera o valor do benefício.
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