São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Dezesseis anos depois de distribuição de terras, Estado tem 13 mil famílias trabalhando na agricultura
Assentado produz 20% do feijão de MS

CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAQUIRAÍ

Dezesseis anos depois de seu surgimento, os assentamentos respondem por 20% da produção de alguns produtos agrícolas em Mato Grosso do Sul, como mandioca e feijão.
Os ex-sem-terra conquistaram um número maior de lotes nos últimos cinco anos, quando foram criados 65 novos assentamentos.Na década de 80, eles foram beneficiados com 23 áreas.
Atualmente, cerca de 13 mil famílias estão assentadas em mais de 700 mil hectares distribuídos por 37 dos 77 municípios do Estado.
Estudo feito pela Superintendência Regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) revela que os assentamentos no Estado produziram, no ano passado, 143 das 612 toneladas de mandioca colhidas, ou 23,49% de todo o plantio.
Ainda na safra do ano passado, os ex-sem-terra foram os responsáveis por 19,7% do plantio de feijão -eles colheram 5 toneladas das 26 produzidas.
Os assentados atuam também na pecuária leiteira, pois já possuem quase 100 mil cabeças de vaca e a produção diária é de 220 mil litros de leite, o equivalente a 11% da produção estadual.
A performance econômica dos assentamentos é mais destacada em Itaquiraí (400 km ao sul de Campo Grande), região que serviu de palco a conflitos entre sem-terra e fazendeiros.
No início da década de 90, Itaquiraí possuía uma população de 12 mil habitantes, número que saltou atualmente para 29 mil, conforme estudo da prefeitura.
Para ter uma idéia das mudanças ocorridas nessa região, basta acompanhar os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 1989, o município possuía 125 grandes propriedades rurais. Atualmente, a cidade conta com 1.553 pequenas propriedades, que abrigam cerca de 2.000 famílias.
A maioria dos assentados eram bóias-frias, homens e mulheres com grau de instrução nunca superior ao ensino fundamental. Antes do assentamento, ganhavam R$ 5 por dia, em média, e, de acordo com relatos deles próprios, não tinham nenhuma perspectiva de vida.
Dailton Flauzino, 36, é hoje sócio de um grupo de ex-sem-terra que possui 126 hectares. Ele afirma que trabalhou a maior parte da vida como cortador de cana e peão de fazenda, ganhando menos de um salário mínimo.
Flauzino foi beneficiado com um lote, em 1996. Integrou-se a um grupo de oito lavradores. A sociedade, conhecida como GCT (Grupo Coletivo de Trabalho), método aplicado em alguns assentamentos do Estado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), deu certo até agora. Flauzino movimenta uma conta bancária com saldo e adquiriu máquinas agrícolas.
O ex-sem-terra e os sócios disseram que a produção garante a alimentação de suas famílias e ainda vendem feijão, milho e produtos hortifrutigranjeiros.
Jilvan Coelho dos Santos, 34, sócio de Flauzino, disse que o grupo já conseguiu comprar uma picape, um trator, uma motocicleta e um caminhão, veículos usados no transporte dos produtos para Itaquiraí, a 30 km de distância.
Morando em uma casa de cinco cômodos, com freezer e antena parabólica, Darci Pino Garcia, 37, disse que o assentamento "é uma obra de Deus" e que está garantido o futuro da filha Franciele.

Recursos federais
O coordenador da Cooperativa de Prestações de Serviços e Reforma Agrária do Cone Sul, Carlos Ferrari, disse que as 422 famílias beneficiadas com um lote no Sul Bonito receberam cerca de R$ 3,5 milhões em recursos federais, nos últimos três anos.
Ferrari, que monitora os investimentos de 120 famílias, disse que a produção dos ex-sem-terra já supera o valor do benefício.


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