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QUESTÃO AGRÁRIA
Dinheiro é arrecadado por meio de contribuições e bazares e financia projetos do movimento
ONGs européias mandam ao MST US$ 1 mi por ano
DE LONDRES
O comércio que mais cresce em
Londres são pequenas lojas, quase sem decoração, com roupas
usadas penduradas em cabides e
cartazes colados na vitrine anunciando as ofertas. Para os ativistas
brasileiros do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), essa é uma ótima notícia.
Foi com o dinheiro arrecadado
nesses bazares que se pagou os
honorários dos advogados que tiraram da prisão cem integrantes
do movimento, em Pernambuco.
Em toda a Europa, religiosos,
consumidores e, mesmo sem saber, todos aqueles que pagam impostos estão ajudando a bancar os
sem-terra brasileiros. O MST é
um dos movimentos mais populares entre as organizações não-governamentais (ONGs) européias que realizam projetos sociais em países pobres.
Mais de dez ONGs européias financiam o MST. Um levantamento parcial indica que o valor dos
contratos chega a quase US$ 1 milhão por ano. Em geral, o dinheiro
vem de recolhimento de contribuições em igrejas, venda de roupas usadas ou campanhas de solidariedade social. Mas boa parte
dos recursos sai diretamente dos
cofres de governos europeus.
Em três anos, a União Européia
está investindo US$ 900 mil na
criação da escola de técnicos agrícolas Florestan Fernandes, em
São Paulo. Outros US$ 900 mil serão divididos entre a Caritas alemã, a Terre des Hommes francesa
e o próprio MST.
"Financiamos projetos de 200
ONGs no Brasil, entre elas o MST.
Mas só participamos de projetos
que claramente não tenham conotação política", diz Maria Helena Neves, responsável por projetos da União Européia no Brasil.
Grife
Para muitas ONGs européias e
norte-americanas, o MST é uma
grife das lutas sociais, assim como
os zapatistas mexicanos. O Movimento dos Sem Terra está na capa
da última revista Nacla (North-American Congress on Latin
American) dedicada a movimentos sociais. Financiar projetos de
assentamento agrícola, escolas ou
advogados para os sem-terra é
uma causa amplamente reconhecida pelo público europeu.
"O MST não é nossa prioridade,
mas contribuímos com a organização em casos nítidos de defesa
de direitos humanos e porque
ajudar o movimento é um sinal de
nossa preocupação com a injustiça social", disse à Folha Marlu
Dresens, da organização católica
holandesa Cordaid, que deu US$
210 mil, por três anos, para publicação de material sobre o Massacre de Eldorado de Carajás e sobre
o julgamento de José Rainha.
Financiamento
As ONGs européias financiam
várias atividades dos sem-terra
brasileiros, da impressão de cartilhas à compra de maquinários para os agricultores. Dos bazares
mantidos pela Foxham, ONG britânica sem bandeira política nem
religiosa, saem US$ 50 mil por
ano para pagar os advogados do
MST em Pernambuco e para formar cooperativas de trabalhadores no Maranhão.
"Financiamos o MST porque o
padrão de vida de quem faz parte
de um assentamento é cinco vezes
melhor do que o de quem trabalha a terra por conta própria", diz
Jessica Pelham, da Foxham.
A Trocaire, organização católica
irlandesa, dá cerca de US$ 30 mil
por ano para o MST fazer campanha pela reforma agrária e treinar
agricultores.
Já a britânica Action Aid financia diretamente 13 assentamentos
de terra em Pindaré, Mearim e
Itapecuru, no interior do Maranhão.
Polêmicas
Se os assentamentos atraem os
recursos de algumas ONGs européias, também criam dificuldades
para obter ajuda de outras instituições. Como muitas ONGs recebem dinheiro de governos, não
podem se envolver em problemas
políticos de outros países nem defender causas polêmicas.
"Não financiamos ocupações
porque isso é ilegal e é problemático para nós. Queremos financiar
projetos do MST que defendam a
igualdade das mulheres ou que
estejam ligados à educação, à ecologia e à saúde", diz Claudio Moser, da alemã Misereor.
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