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Agências movimentaram mais de R$ 500 milhões no ano passado
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
As duas principais agências de
publicidade nas quais o empresário Marcos Valério de Souza tem
participação, a DNA Propaganda
e a SMPB Comunicação, registraram em suas contas bancárias entradas superiores a R$ 500 milhões no ano passado, segundo
dados obtidos pela Folha.
Especialistas do meio publicitário ouvidos pela reportagem calculam, com base em estimativas
de gastos das duas agências com a
compra de espaço para veiculação
de comerciais, que os ingressos de
recursos nas contas da DNA e da
SMPB são três vezes superiores ao
que poderia ser justificado com a
atividade de publicidade e propaganda em 2004.
Conforme a Folha publicou na
semana passada, a Receita Federal multou a DNA em R$ 63,25
milhões, em novembro do ano
passado, por crimes contra a ordem tributária. Entre as irregularidades detectadas estavam depósitos milionários de origem não
comprovada nas contas da DNA
Propaganda e movimentação financeira incompatível com a receita da agência. A suspeita de autoridades envolvidas na investigação é que o dinheiro não justificado venha de caixa dois.
Marcos Valério, principal acionista das duas agências, foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos
operadores do "mensalão" -suposto esquema de pagamento de
propina a deputados que seria orquestrado pelo PT.
As agências normalmente recebem dos clientes todo o dinheiro
referente aos custos das campanhas, da produção à veiculação.
Em 2004, a DNA comprou
aproximadamente R$ 100 milhões de espaço publicitário em
nome de seus clientes, segundo
dados do Ibope Monitor analisados por especialistas. A SMPB, algo em torno de R$ 50 milhões.
O Ibope registrou que a DNA teria comprado espaço publicitário
no valor de R$ 152 milhões pela
tabela cheia dos veículos de comunicação. A SMPB, de R$ 56 milhões. Como há grandes descontos na compra do espaço publicitário -podendo chegar até a 70%
da tabela cheia-, especialistas
avaliam que o efetivamente pago
pelas duas agências some cerca de
R$ 150 milhões. Ou seja, cerca de
um terço dos R$ 500 milhões que
ingressaram nas contas das duas
empresas. Esses seriam os valores
que as duas agências conseguiriam justificar com a atividade de
publicidade e propaganda.
Na semana passada, a revista
"IstoÉ" divulgou que, em menos
de dois anos, foram sacados das
contas da DNA Propaganda e da
SMPB R$ 20,9 milhões, em espécie, no Banco Rural e no Banco do
Brasil. As agências de publicidade
de Valério detêm cinco importantes contas no governo federal:
Banco do Brasil, Eletronorte, Correios e ministérios do Trabalho e
do Esporte. A imagem da Câmara
dos Deputados também está sob a
responsabilidade do empresário.
A Folha ligou três vezes para a
assessoria do empresário Marcos
Valério, em Belo Horizonte. Na
primeira, na tarde de sexta, deixou recado. Nas outras duas, já à
noite, o telefone não foi atendido.
A assessoria não ligou de volta.
Na terça passada, um dia antes
de a Folha publicar que a Receita
Federal multou a DNA Propaganda em R$ 63,25 milhões, por crimes contra a ordem tributária, a
assessoria da empresa informou
que a solicitação da reportagem
sobre o processo causava "estranheza", já que os dados tributários da agência "são protegidos
por sigilo fiscal previsto no Código Tributário Nacional".
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