São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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Agências movimentaram mais de R$ 500 milhões no ano passado

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

As duas principais agências de publicidade nas quais o empresário Marcos Valério de Souza tem participação, a DNA Propaganda e a SMPB Comunicação, registraram em suas contas bancárias entradas superiores a R$ 500 milhões no ano passado, segundo dados obtidos pela Folha.
Especialistas do meio publicitário ouvidos pela reportagem calculam, com base em estimativas de gastos das duas agências com a compra de espaço para veiculação de comerciais, que os ingressos de recursos nas contas da DNA e da SMPB são três vezes superiores ao que poderia ser justificado com a atividade de publicidade e propaganda em 2004.
Conforme a Folha publicou na semana passada, a Receita Federal multou a DNA em R$ 63,25 milhões, em novembro do ano passado, por crimes contra a ordem tributária. Entre as irregularidades detectadas estavam depósitos milionários de origem não comprovada nas contas da DNA Propaganda e movimentação financeira incompatível com a receita da agência. A suspeita de autoridades envolvidas na investigação é que o dinheiro não justificado venha de caixa dois.
Marcos Valério, principal acionista das duas agências, foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos operadores do "mensalão" -suposto esquema de pagamento de propina a deputados que seria orquestrado pelo PT.
As agências normalmente recebem dos clientes todo o dinheiro referente aos custos das campanhas, da produção à veiculação.
Em 2004, a DNA comprou aproximadamente R$ 100 milhões de espaço publicitário em nome de seus clientes, segundo dados do Ibope Monitor analisados por especialistas. A SMPB, algo em torno de R$ 50 milhões.
O Ibope registrou que a DNA teria comprado espaço publicitário no valor de R$ 152 milhões pela tabela cheia dos veículos de comunicação. A SMPB, de R$ 56 milhões. Como há grandes descontos na compra do espaço publicitário -podendo chegar até a 70% da tabela cheia-, especialistas avaliam que o efetivamente pago pelas duas agências some cerca de R$ 150 milhões. Ou seja, cerca de um terço dos R$ 500 milhões que ingressaram nas contas das duas empresas. Esses seriam os valores que as duas agências conseguiriam justificar com a atividade de publicidade e propaganda.
Na semana passada, a revista "IstoÉ" divulgou que, em menos de dois anos, foram sacados das contas da DNA Propaganda e da SMPB R$ 20,9 milhões, em espécie, no Banco Rural e no Banco do Brasil. As agências de publicidade de Valério detêm cinco importantes contas no governo federal: Banco do Brasil, Eletronorte, Correios e ministérios do Trabalho e do Esporte. A imagem da Câmara dos Deputados também está sob a responsabilidade do empresário.
A Folha ligou três vezes para a assessoria do empresário Marcos Valério, em Belo Horizonte. Na primeira, na tarde de sexta, deixou recado. Nas outras duas, já à noite, o telefone não foi atendido. A assessoria não ligou de volta.
Na terça passada, um dia antes de a Folha publicar que a Receita Federal multou a DNA Propaganda em R$ 63,25 milhões, por crimes contra a ordem tributária, a assessoria da empresa informou que a solicitação da reportagem sobre o processo causava "estranheza", já que os dados tributários da agência "são protegidos por sigilo fiscal previsto no Código Tributário Nacional".


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