São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ RAÍZES

Petista apoiado pelo tesoureiro ficou em 2º, mas virou prefeito em Buriti Alegre (GO) depois que Justiça Eleitoral desqualificou vencedor

Delúbio ajudou candidato na terra natal

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Delúbio Soares, tesoureiro do PT, que foi acusado por Roberto Jefferson de pagar mesada a deputados


LUIZ MAKLOUF CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A imagem de maior destaque no gabinete do prefeito de Buriti Alegre (GO) João Alfredo de Mello Neto (PT), 48, é a de um Santo Expedito, o das causas impossíveis. Tem uns 30 centímetros de altura. Seu último milagre, por assim dizer, dele e do secretário nacional de Finanças do PT, o buriti-alegrense Delúbio Soares, é o próprio fato de João Alfredo estar ali, governando a cidade de 9.000 habitantes, 6.939 eleitores e Orçamento anual de R$ 4 milhões. Milagre, sim, para os que têm fé, como o prefeito devoto. Ou sorte, do ultimamente azarado Delúbio, às voltas com as acusações não comprovadas do "mensalão" e seus penduricalhos, que nega. A ver.
Primeiro: João Alfredo não era nem simpatizante ativo nem filiado ao PT até Lula ser eleito presidente. Segundo: filiado e ungido candidato, com a força de seu amigo Delúbio, o neopetista perdeu as eleições, ficando em segundo lugar (1.720 votos ou 29,15%). Terceiro: o candidato vencedor, Anivaldo Santana Silva (do PP, reeleito com 2.621 votos ou 44,42%), foi desqualificado pela Justiça Eleitoral, à véspera do pleito, por conta de irregularidades administrativas que teria cometido em 1992, quando foi prefeito, o que nega, em recurso que está tramitando no STF.
João Alfredo foi diplomado, empossado, e, mesmo com a eleição sub judice no Tribunal Regional Eleitoral, está prefeito. Deve a Santo Expedito, a Delúbio e, para não cometer injustiça, ao deputado federal homônimo João Alfredo (PT-CE), seu primo, dos primeiros a achar que a candidatura podia dar certo.
Buriti Alegre não tem notícia de que Delúbio alguma vez tenha ajudado o PT local ao longo dos muitos anos em que pertence à direção nacional. A legenda foi sustentada, na última década, pelo trabalho sem remuneração do hoje decorativo presidente de honra Pedro Fallone, 52, dono de um dos raros táxis disponíveis na cidade, um Del Rey 86.
Comparado com a reluzente Toyota de R$ 79 mil que Delúbio comprou em março -a prazo, como explicou em nota oficial-, o táxi de Fallone parece sucata.
Fallone declara-se "fã número 1" do presidente. Até achou, quando a vitória se deu, que seria enfim recompensado pela dedicação como presidente oficial do PT municipal. Uma vez foi saiu candidato a vereador, não eleito, outras vezes lançou outros candidatos, igualmente derrotados, só para manter a bandeira erguida.
Lula lá, Delúbio passou a dar inédita atenção à sua terra natal. Não mais do que quatro dias depois da posse presidencial, levou, para a fazenda de seu pai, Antônio Soares, o Catonho, uma boa meia dúzia de celebridades: a então ministra Benedita da Silva, o governador tucano Marconi Perillo (GO), o cantor Luciano e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (que também nega as acusações de Roberto Jefferson).

Fora da festa
Na festa, que não contava com a presença de Fallone, Delúbio já falava abertamente que João Alfredo João Alfredo seria o candidato à prefeitura. Defenestrado, Fallone conformou-se com o cargo de presidente de honra, outorgado em 14 de janeiro de 2004.
Fallone não se furta de críticas a Delúbio e ao prefeito. "Eles fizeram a campanha sem usar contas bancárias, só na base do dinheiro vivo", diz. "Eu não posso provar, mas o dinheiro chegava aqui até em saca de milho."
Ouvido a respeito, João Alfredo negou irregularidades do gênero. Antes de saber que Fallone dera entrevista, disse que o respeitava "como presidente de honra, como pessoa e como cidadão". "Ele está na história do PT de Buriti Alegre", declarou. Depois de saber da entrevista, disse que o colega "não tem credibilidade".
O fato é que a diplomação e a posse de João Alfredo estão sub judice no Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em recurso do candidato que ganhou, mas não levou. Anivaldo Santana Silva acusa o atual prefeito por, na campanha, ter praticado "captação ilícita de sufrágio e abuso do poder econômico". No processo, oito testemunhas declaram ter sido procuradas para vender o voto em troca de dinheiro ou de material de construção. A defesa de João Alfredo argumenta que as testemunhas foram forjadas. "Eles fizeram um teatro de testemunhas, por nós desqualificadas", diz o prefeito. "Eu prefiro aguardar a decisão da Justiça."
É o TRE que vai decidir. O único parecer até agora emitido é o da procuradoria do Tribunal, em 22 de junho, opinando pela cassação dos mandatos de João Alfredo e do vice, José Martins Marques. "A procuradoria já deu outros pareceres iguais, em casos similares, e o TRE não acatou", diz o confiante devoto de Santo Expedito.
Além da dele, há duas outras imagens no gabinete do prefeito: uma foto do presidente Lula e outra foto do governador tucano Marconi Perillo. À brincadeira de que talvez devesse retirar a foto do governador, depois das declarações que agravaram a denúncia do "mensalão", o amigo de Delúbio responde com bom humor: "De jeito nenhum, sem o apoio dele as coisas ficam mais difíceis".
Como quase todos os filhos ilustres da cidade, Souza esteve, há duas semanas, na festa dos 78 anos de Buriti Alegre. O grande ausente foi Delúbio Soares. João Alfredo tem o que dizer sobre o tiroteio de acusações que atazana o amigo: "Até prova em contrário, eu, pelo que conheço do Delúbio, dou o maior crédito a ele. Eu boto a mão no fogo pelo Delúbio".


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