São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2000


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ESTRATÉGIA
Intenção foi criar um fato positivo a fim de tentar anular o efeito de um negativo, para reverter desgaste da crise EJ
Governo faz "operação abafa" com a polícia

KENNEDY ALENCAR
E ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal fez ontem uma megaoperação policial para tentar abafar a repercussão na mídia do depoimento de Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência, a uma subcomissão da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.
Segundo a Folha apurou, a intenção do governo foi criar um fato positivo a fim de tentar anular o efeito de um negativo. Para reverter o desgaste da crise EJ, considerada a mais grave da gestão Fernando Henrique Cardoso pelo próprio presidente e auxiliares, o governo avalia que precisa mostrar que não está paralisado.
Daí buscar criar um fato de impacto na mídia. A operação federal aconteceu em todo o país com participação da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal. O Ministério da Justiça divulgou que haveria a adesão de nove Estados, a fim de engrossar o efeito de mídia da operação, mas não houve apoio total. Objetivo oficial da operação conjunta: apreender drogas, armas ilegais e combater outros crimes.
O ministro da Justiça, José Gregori, pediu que as secretarias da Segurança Pública dos Estados transmitissem a Brasília até as 17h um balanço da megaoperação. Objetivo oficioso: dar um assunto a TVs, rádios e jornais que pudesse rivalizar com o caso EJ.
O delegado André Dahmer, assessor especial de Gregori e encarregado de dar informações da megaoperação, negou que o evento tenha sido feito para abafar o depoimento de EJ: "Não houve decisão política, mas técnica". Ele disse que a data estava marcada havia "mais de duas semanas".
No entanto, Gregori e FHC trabalharam para que a megaoperação e o depoimento ocorressem na mesma data. Nos últimos dois dias, o ministro da Justiça se reuniu com o presidente para acertar os detalhes da articulação que começou na semana passada.
Ao presidente, coube orientar seus articuladores políticos no Congresso a garantir que o depoimento de Eduardo Jorge fosse marcado para ontem -há duas semanas já se sabia que o ex-secretário falaria no Senado na primeira semana de agosto.
Ao ministro Justiça, coube articular, de uma semana para cá, a participação do maior número de Estados, a fim de que a operação fosse a maior desde o lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública em 20 de junho.
Na semana passada, em Brasília, Gregori pediu ao secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, que se juntasse à operação federal, declarou o assessor André Dahmer.
O secretário-adjunto de Petrelluzzi, Mário Papaterra Limongi, confirmou que São Paulo prometeu na semana passada aderir à operação federal. Entretanto não disse se a sugestão foi de Gregori.
"Foi uma sugestão mútua, pois também estávamos para realizar uma operação nossa", afirmou Papaterra. Segundo ele, apesar de nas duas quintas-feiras anteriores a ontem também ter acontecido a "operação pega-ladrão", não existe um dia determinado da semana para que ela se repita na capital paulista. As outras ações desse tipo duas aconteceram à noite. A de ontem, à tarde.
No final da manhã de ontem, o Ministério da Justiça divulgou que a "megablitz contaria com mais de 3.000 homens da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e milhares de policiais de nove Estados". A parte federal da operação aconteceu nas estradas federais e estaduais.
O informe do Ministério da Justiça citava também os nove Estados: São Paulo, Espírito Santo, Acre, Tocantins, Pará, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
As Polícias Militares fariam ações nas cidades grandes e médias. No entanto, até as 18h de ontem, eram desencontradas as informações estaduais.
O Estado de Santa Catarina, que aparecia no informe do Ministério da Justiça, divulgou que não sabia da operação. No Mato Grosso do Sul, somente a Polícia Federal entrou em ação.
A Polícia Rodoviária Federal de São Paulo no vale do Paraíba teria sido informada da megaoperação apenas ontem.


Colaboraram a Agência Folha e a Folha Vale


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