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ELEIÇÕES 2004/INVESTIGAÇÃO
Além de Lígia e Flávio, cônjuges prestaram depoimento ontem ao Ministério Público
Filhos de Maluf nada dizem sobre contas
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em depoimento ontem ao Ministério Público de São Paulo,
dois filhos do ex-prefeito Paulo
Maluf (PP) se recusaram a falar
sobre a remessa ilegal de milhões
de dólares para o exterior.
Lígia, 48, Flávio, 42, e os respectivos cônjuges foram ouvidos por
quase uma hora cada um. A todas
as perguntas, responderam invariavelmente "nada a declarar".
Maluf já havia sido ouvido há cerca de 50 dias, quando também
manteve-se em silêncio.
Em nota divulgada na noite de
ontem, a assessoria de Maluf, que
é candidato à Prefeitura de São
Paulo, atribui a convocação dos
familiares a uma "manobra de
constrangimento forçado". O ex-prefeito
nega possuir contas fora do Brasil.
A família de Maluf é investigada
pelo Ministério Público Estadual,
pelo Ministério Público Federal e
pela Polícia Federal por supostas
evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A investigação é baseada
em documentos bancários enviados pela Suíça ao Brasil.
Entre os 20 quilos de documentos suíços, há papéis bancários
que citam Flávio Maluf como o
beneficiário da "offshore" (empresa estrangeira) Timeless Investiments Limited e da fundação
Pérolas Negras.
Lígia Maluf Cury, por sua vez, é
apresentada pela Justiça suíça como a beneficiária das fundações
Alyka (sucessora da Línea-Li) e
Abutera Foundation e da empresa Lindsay Limited.
A mulher de Flávio, Jacqueline
de Lourdes Coutinho Torres Maluf, e o marido de Lígia, Maurílio
Miguel Curi, teriam contas bancárias individuais e não declaradas
na Suíça -durante o depoimento
de ontem, os quatro tiveram acesso aos papéis.
Os eventuais valores movimentados pelos filhos de Maluf são
mantidos sob sigilo pelo Ministério Público.
A Folha teve acesso aos nomes
das empresas e das fundações relacionadas à família Maluf por
meio de despacho da juíza Renata
Coelho Okida, da 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, de 3
de junho deste ano.
Ao deixarem o prédio do Ministério Público, no centro de São
Paulo, Lígia, Maurílio, Flávio e
Jacqueline não quiseram dar entrevista. Questionados sobre a
existência das contas, mantiveram-se em silêncio.
Outros filhos
Outros dois filhos do ex-prefeito, Lina, 37, e Otávio, 46, não serão
convocados para depor no Ministério Público de São Paulo. Sylvia,
a mulher de Maluf, que foi citada
como a titular de uma conta não
declarada no paraíso fiscal de Luxemburgo, também será dispensada do depoimento.
Lina e Otávio não são citados
nos documentos enviados pela
Suíça como beneficiários diretos
de empresas ou de fundações estrangeiras. Os dois aparecem como herdeiros de contas, cuja
abertura foi atribuída a Maluf.
No caso de Sylvia, a Promotoria
ainda aguarda uma cooperação
internacional, o que já foi solicitado pelo Brasil.
Laudo
Na próxima semana, o Ministério Público de São Paulo já espera
ter em mãos o laudo financeiro
que vem sendo preparado por peritos da Promotoria. O estudo será baseado nos 20 quilos de documentos bancários enviados pela
Suíça ao Brasil.
Em meio a centenas de papéis, o
laudo deverá indicar os valores
movimentados e, em alguns casos, o destino das transferências
bancárias.
Segundo a Promotoria, pelo
menos quatro testemunhas ainda
serão ouvidas no caso. A expectativa, diz o órgão, é propor uma
ação civil por improbidade administrativa (má gestão pública)
contra Maluf até o final de agosto.
Na esfera criminal, o ex-prefeito
e os filhos também deverão ser
convocados para depor. Ainda
não há data.
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