São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/INVESTIGAÇÃO

Além de Lígia e Flávio, cônjuges prestaram depoimento ontem ao Ministério Público

Filhos de Maluf nada dizem sobre contas

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em depoimento ontem ao Ministério Público de São Paulo, dois filhos do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) se recusaram a falar sobre a remessa ilegal de milhões de dólares para o exterior.
Lígia, 48, Flávio, 42, e os respectivos cônjuges foram ouvidos por quase uma hora cada um. A todas as perguntas, responderam invariavelmente "nada a declarar". Maluf já havia sido ouvido há cerca de 50 dias, quando também manteve-se em silêncio.
Em nota divulgada na noite de ontem, a assessoria de Maluf, que é candidato à Prefeitura de São Paulo, atribui a convocação dos familiares a uma "manobra de constrangimento forçado". O ex-prefeito nega possuir contas fora do Brasil.
A família de Maluf é investigada pelo Ministério Público Estadual, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal por supostas evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A investigação é baseada em documentos bancários enviados pela Suíça ao Brasil.
Entre os 20 quilos de documentos suíços, há papéis bancários que citam Flávio Maluf como o beneficiário da "offshore" (empresa estrangeira) Timeless Investiments Limited e da fundação Pérolas Negras.
Lígia Maluf Cury, por sua vez, é apresentada pela Justiça suíça como a beneficiária das fundações Alyka (sucessora da Línea-Li) e Abutera Foundation e da empresa Lindsay Limited.
A mulher de Flávio, Jacqueline de Lourdes Coutinho Torres Maluf, e o marido de Lígia, Maurílio Miguel Curi, teriam contas bancárias individuais e não declaradas na Suíça -durante o depoimento de ontem, os quatro tiveram acesso aos papéis.
Os eventuais valores movimentados pelos filhos de Maluf são mantidos sob sigilo pelo Ministério Público.
A Folha teve acesso aos nomes das empresas e das fundações relacionadas à família Maluf por meio de despacho da juíza Renata Coelho Okida, da 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, de 3 de junho deste ano.
Ao deixarem o prédio do Ministério Público, no centro de São Paulo, Lígia, Maurílio, Flávio e Jacqueline não quiseram dar entrevista. Questionados sobre a existência das contas, mantiveram-se em silêncio.

Outros filhos
Outros dois filhos do ex-prefeito, Lina, 37, e Otávio, 46, não serão convocados para depor no Ministério Público de São Paulo. Sylvia, a mulher de Maluf, que foi citada como a titular de uma conta não declarada no paraíso fiscal de Luxemburgo, também será dispensada do depoimento.
Lina e Otávio não são citados nos documentos enviados pela Suíça como beneficiários diretos de empresas ou de fundações estrangeiras. Os dois aparecem como herdeiros de contas, cuja abertura foi atribuída a Maluf.
No caso de Sylvia, a Promotoria ainda aguarda uma cooperação internacional, o que já foi solicitado pelo Brasil.

Laudo
Na próxima semana, o Ministério Público de São Paulo já espera ter em mãos o laudo financeiro que vem sendo preparado por peritos da Promotoria. O estudo será baseado nos 20 quilos de documentos bancários enviados pela Suíça ao Brasil.
Em meio a centenas de papéis, o laudo deverá indicar os valores movimentados e, em alguns casos, o destino das transferências bancárias.
Segundo a Promotoria, pelo menos quatro testemunhas ainda serão ouvidas no caso. A expectativa, diz o órgão, é propor uma ação civil por improbidade administrativa (má gestão pública) contra Maluf até o final de agosto.
Na esfera criminal, o ex-prefeito e os filhos também deverão ser convocados para depor. Ainda não há data.


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