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DIPLOMACIA
Ex-presidente não cita Lula, mas critica indiretamente a política externa
FHC diz que "atrito" com EUA é perder
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou ontem
qualquer política de confronto
com os EUA: "Atritar globalmente com os EUA é perder", disse.
Para ilustrar a advertência, FHC
usou uma parábola. Alguém lhe
disse certa vez que precisava da
sua ajuda, pois pretendia demitir
um militar, e este o mataria. "Aí,
eu disse: "Não mata, porque eu
não posso ajudar um defunto"."
O debate foi sobre as relações
bilaterais e promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, ao qual compareceu o novo embaixador americano no Brasil, John Danilovich,
antes mesmo de se encontrar com
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para entregar suas credenciais. Lula se encontrou anteontem com Danilovich em um evento em Barueri (SP).
Em nenhum momento, o ex-presidente questionou diretamente a política externa de Lula,
que prioriza outros países e mercados. Fez, porém, críticas indiretas, sempre dando ênfase à importância dos EUA.
"A despeito de tudo, o mercado
que nos interessa, qualitativa e
quantitativamente, é o dos EUA.
Não podemos imaginar que podemos substituir esse mercado."
Depois de fazer um rápido histórico das relações Brasil-EUA,
FHC lembrou que ele próprio é de
uma geração muito mais ligada à
Europa, à França principalmente:
"Fui educado numa cultura de esquerda e antiamericana".
Tudo isso, porém, para concluir
que o Brasil sua ligação com os
EUA não é questão de escolha,
mas dado da realidade.
FHC defendeu a retomada da
negociação para a implantação da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), "para que atenda a
nossos interesses". Mas discordou do formato de "gôndolas",
pelo qual haveria um eixo básico e
comum de livre comércio entre 34
países do continente, mas permitindo ou até incentivando a proliferação de acordos em separado
entre blocos e entre países.
FHC desaprovou o empenho
internacional do governo de garantir vaga no Conselho Permanente de Segurança da ONU.
Ele acha que, se o país conseguir
o assento, não terá força para impor suas posições e terá de responder pelas decisões tomadas
pelos mais poderosos.
O debate foi mediado pelo ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Barbosa.
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