São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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DIPLOMACIA

Ex-presidente não cita Lula, mas critica indiretamente a política externa

FHC diz que "atrito" com EUA é perder

ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou ontem qualquer política de confronto com os EUA: "Atritar globalmente com os EUA é perder", disse.
Para ilustrar a advertência, FHC usou uma parábola. Alguém lhe disse certa vez que precisava da sua ajuda, pois pretendia demitir um militar, e este o mataria. "Aí, eu disse: "Não mata, porque eu não posso ajudar um defunto"."
O debate foi sobre as relações bilaterais e promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, ao qual compareceu o novo embaixador americano no Brasil, John Danilovich, antes mesmo de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entregar suas credenciais. Lula se encontrou anteontem com Danilovich em um evento em Barueri (SP).
Em nenhum momento, o ex-presidente questionou diretamente a política externa de Lula, que prioriza outros países e mercados. Fez, porém, críticas indiretas, sempre dando ênfase à importância dos EUA.
"A despeito de tudo, o mercado que nos interessa, qualitativa e quantitativamente, é o dos EUA. Não podemos imaginar que podemos substituir esse mercado."
Depois de fazer um rápido histórico das relações Brasil-EUA, FHC lembrou que ele próprio é de uma geração muito mais ligada à Europa, à França principalmente: "Fui educado numa cultura de esquerda e antiamericana".
Tudo isso, porém, para concluir que o Brasil sua ligação com os EUA não é questão de escolha, mas dado da realidade.
FHC defendeu a retomada da negociação para a implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), "para que atenda a nossos interesses". Mas discordou do formato de "gôndolas", pelo qual haveria um eixo básico e comum de livre comércio entre 34 países do continente, mas permitindo ou até incentivando a proliferação de acordos em separado entre blocos e entre países.
FHC desaprovou o empenho internacional do governo de garantir vaga no Conselho Permanente de Segurança da ONU.
Ele acha que, se o país conseguir o assento, não terá força para impor suas posições e terá de responder pelas decisões tomadas pelos mais poderosos.
O debate foi mediado pelo ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Barbosa.


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