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COMUNICAÇÕES
Pedido do colega foi direto para o gabinete do então ministro
Pimenta privilegiou Melles na concessão de TV em MG
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Os registros do Sicap (Sistema
de Acompanhamento e Controle
de Processos) do Ministério das
Comunicações indicam que o ex-ministro e deputado federal Pimenta da Veiga (PSDB-MG),
coordenador da campanha de José Serra, privilegiou seu então colega de governo, o ex-ministro
dos Esportes, deputado federal
Carlos Melles (PFL-MG), na concessão de uma TV educativa para
a cidade de São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas.
Melles disputava a concessão
com o ex-vereador e empresário
de radiodifusão local Antonino
José Amorim, que transmite programação de TV educativa na cidade desde 89, amparado em licença do ministério.
O empresário pediu a transformação da licença em concessão
(que é válida por 15 anos e permite a geração de programação local
até 24 horas por dia) em 99. O
processo foi cadastrado pela Delegacia da pasta das Comunicações
em Belo Horizonte no dia 24 de
maio de 2000, em nome da Fundação Educacional, Cultural Comunitária do Sudoeste de Minas.
Quarenta dias depois, o pedido
de Melles foi protocolado no ministério, em Brasília, em nome da
Fundação Educacional e Cultural
do Sudoeste Mineiro e seguiu direto para o gabinete de Pimenta.
Em abril do ano passado, o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou decreto dando a concessão à fundação de Melles.
O processo do empresário ficou
23 meses no ministério sem chegar ao gabinete do então ministro.
Em abril deste ano, como a concessão já havia sido dada à outra
fundação, foi mandado para o arquivo morto do ministério em
Minas, onde ocupa a caixa 137.
Pimenta e Melles não quiseram
comentar a diferença de tratamento nos dois processos. A Folha procurou o ex-ministro das
Comunicações no escritório de
José Serra, em Brasília, na sexta-feira e anteontem. Em ambas as
ocasiões, a reportagem forneceu
os números dos processos para
que pudesse conferir os registros
do Ministério das Comunicações.
Também foi tentado contato
com Pimenta por intermédio de
seu ex-assessor político no ministério e atual coordenador do comitê de Serra em Belo Horizonte,
Sílvio Mitre (ver texto nesta página). Ele não respondeu a nenhuma das tentativas.
Semelhante esforço foi feito
com o ex-ministro Melles. Na sexta e ontem, foram dados três telefonemas para o escritório do deputado em São Sebastião do Paraíso, informando o conteúdo da
reportagem. A reportagem não
conseguiu falar com ele.
A Folha obteve os registros da
evolução dos processos a partir da
numeração do protocolo. A consulta pode ser feita pela internet
no site do Ministério das Comunicações. A fundação do empresário Antonino Amorim recebeu o número 537100014401999. O
processo da fundação ligada a
Carlos Melles teve o número
530000046082000.
Caminho direto
Os dados do Sicap mostram que
outras fundações ligadas a políticos, que já tiveram as concessões
autorizadas por decreto do presidente da República, receberam
tratamento "VIP" no ministério,
pois seus processos seguiam direto do protocolo para o gabinete de
Pimenta da Veiga.
Os registros contradizem a declaração de Pimenta publicada
pela Folha no último dia 25,
quando afirmou desconhecer que
havia políticos por trás de fundações que receberam concessões
de rádio e TVs educativas.
A Folha revelou que pelo menos
13 deputados federais, além de deputados estaduais, prefeitos, ex-deputados e candidatos a cargos
eletivos receberam concessões de
educativas do governo atual.
Em sete anos e meio do governo
FHC, foram autorizadas 118 concessões de TVs educativas e 239
de rádios educativas. A distribuição foi concentrada nos três anos
em que Pimenta esteve à frente do
Ministério das Comunicações (de
janeiro de 99 a abril de 2002).
A Fundação Quilombo, ligada
ao deputado federal João Caldas
(PL-AL), e a Fundação Ernesto
Benedito de Camargo, ligada ao
ex-deputado federal José Camargo, protocolaram pedidos de TV
educativa no ministério em 26 de
dezembro de 2001. Os dois processos seguiram no mesmo dia
para o gabinete de Pimenta.
A Fundação Quilombo foi contemplada com uma concessão de
TV em Maceió e a Fundação Camargo recebeu uma TV educativa
de Guarulhos, na Grande São
Paulo. Este último processo gerou
um conflito para o governo, porque o canal educativo de Guarulhos -58 UHF- já está ocupado
há vários anos pelo grupo Sanzone para retransmissão de programação educativa.
A Fundação Anhanguera, ligada ao deputado federal André Benassi (PSDB-SP), que ganhou
concessão para TV educativa em
Várzea Paulista, na Grande São
Paulo, também seguiu do protocolo para o gabinete do então ministro. Na mesma situação está a
Fundação Minas Gerais, ligada ao
deputado federal Hélio Costa
(PMDB-MG), que recebeu concessão para uma TV em Barroso
(MG). O pedido foi protocolado
no dia 14 de março deste ano e seguiu no mesmo dia para o gabinete do tucano.
Procurado pela Folha, o Ministério das Comunicações não informou os motivos que levaram alguns processos a seguirem direto para o gabinete do ex-ministro Pimenta da Veiga.
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