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GOVERNO DIVIDIDO
Após polêmica, presidente havia enviado recado a Clóvis Carvalho para que ele deixasse ministério
Ministro pede demissão do cargo a FHC
Lula Marques/Folha Imagem
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O ministro Clóvis Carvalho chega ao Palácio da Alvorada às 23h10 para encontro com FHC |
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
O ministro Clóvis Carvalho
(Desenvolvimento) pediu demissão hoje durante reunião de um
pouco mais de uma hora com o
presidente Fernando Henrique
Cardoso no Palácio da Alvorada
em Brasília.
FHC, que havia enviado recado
ao ministro para que deixasse o
cargo, aceitou o pedido de demissão, segundo a Folha apurou. As
críticas que Clóvis dirigiu à política econômica e ao ministro Pedro
Malan, das quais tentou recuar
ontem, tornaram insustentável a
sua permanência no cargo.
Clóvis Carvalho chegou às
23h25 ao Alvorada, de onde saiu à
0h50 sem falar com os jornalistas.
Ele estava no Desenvolvimento
havia 47 dias. Foi ministro do Gabinete Civil nos quatro anos do
primeiro mandato de FHC e era
tido como um dos ministros da
chamada "cota pessoal" do presidente.
Malan
Durante o dia, segundo a Folha
apurou, o ministro Pedro Malan
(Fazenda) deixou claro que estava
insatisfeito com a reação de FHC
às críticas que Clóvis lhe fizera na
véspera.
O ministro do Desenvolvimento passaria o fim-de-semana em
São Paulo, com a família. Mudou
de idéia no meio da tarde, retornando de Fortaleza direto a Brasília, onde chegou às 18h30.
Malan esperava que FHC tomasse partido de suas idéias de
forma mais firme. No entanto,
ontem nem sequer foi concedida
a tradicional entrevista diária do
porta-voz da Presidência, Georges Lamazière. A assessoria do
ministro da Fazenda negou que
ele estivesse demissionário.
Malan se sentiu atingido pelo
discurso de Clóvis, particularmente nos trechos em que seu colega de ministério falou em ""ousadia", ""conformismo com resultados medíocres" e que o excesso
de cautela ""será o outro nome para covardia".
Assessores de FHC, reservadamente, afirmaram que o presidente não gostou dos termos usados por Clóvis. Eles avaliaram que
o ministro comprometeu o impacto positivo da divulgação do
Plano Plurianual, que prevê taxas
de crescimento entre 4% e 5% nos
próximos quatro anos.
E mais: o discurso teria reaberto
a antiga disputa interna do governo em torno dos rumos da política econômica -alvo de pressões
da oposição e até de aliados políticos do governo.
Sem repreensão
Inicialmente, Clóvis não foi repreendido pelo presidente, segundo relato de sua assessoria. Os
dois conversaram várias vezes depois do polêmico discurso.
FHC, por intermédio do porta-voz, tampouco desautorizou o
discurso do ministro do Desenvolvimento. Oficialmente, o presidente qualificou anteontem de
""retóricas" as "diferenças de ênfase" entre Clóvis e Malan.
""O presidente não precisa repetir que o ministro Pedro Malan
conta com seu apoio integral",
disse o porta-voz.
FHC decidiu convocar uma
reunião para a próxima quarta-feira para discutir as metas do
Plano Plurianual e unificar o discurso dos ministros.
Resposta
Malan esperava mais do Planalto na defesa da posição que assumira no seminário tucano.
O endereço eletrônico do Ministério da Fazenda apresentou
ontem, discretamente, a resposta
de Malan para a polêmica da véspera. O texto, encaminhado ao
PSDB depois do choque de discursos, resume ""suas idéias e as
diretrizes que vem adotando para
levar o país ao desenvolvimento
econômico e social".
No texto, Malan assume a posição do verdadeiro ""desenvolvimentista", que, segundo ele, defende o aumento da competição e
é comprometido com a responsabilidade fiscal.
Malan lista dados sobre a melhora do padrão de vida dos brasileiros, que Clóvis, no discurso de
anteontem, apontara como insuficiente para ""enfrentar a iniquidade" social. ""Na verdade, o
mundo é por demais complexo
para permitir essa simplória e
maniqueísta divisão entre pessimistas de um lado e otimistas do
outro", diz o texto.
Ministro que atrapalha
FHC disse que "tem ministro
que atrapalha", na sua primeira
manifestação sobre as críticas feitas ao modelo econômico defendido por Pedro Malan (Fazenda)
pelo titular do Desenvolvimento,
Clóvis Carvalho.
As declarações do presidente
foram feitas durante entrevista
para o programa "Conexão Roberto D'Ávila", do jornalista Roberto D'Ávila, que irá ao ar amanhã, às 23h30, na TVE e na TV
Cultura de São Paulo.
O repórter interrompeu uma fala de FHC sobre os fatos da semana com a frase "às vezes os ministros atrapalham". O presidente
concordou:
"Toda comunidade é assim, e
tem ministro que atrapalha". Na
sequência, FHC disse: "Agora
mesmo, a questão relativa a uma
discussão entre o Malan e o Clóvis
(Carvalho)... eu acho que está errado. Os ministros têm que
aprender, certas horas, a pensar
que quem tem que dar diretrizes é
o presidente da República".
Logo depois, FHC procurou
amenizar suas críticas dizendo
que os ministros não fazem por
mal quando falam o que não deveriam. "As consequências são
muito maiores que as intenções, e
eu não posso ficar a toda hora julgando os ministros em função do
que os outros pensam que eles
queriam fazer", afirmou.
FHC disse que não pode ser
criado "um clima de crime e castigo porque não é assim, as coisas
são mais complicadas e ao mesmo tempo mais simples".
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