São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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FHC disputa atenção com mexicano Fox

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O presidente brasileiro chega à Europa (irá depois à Holanda) na mesma semana que outro mandatário latino-americano, o presidente eleito do México, Vicente Fox.
É natural, por isso, que as atenções européias se dividam entre um e outro, mas com vantagem circunstancial para o mexicano. Ocorre que o México já tem, desde março, um acordo de livre comércio com a União Européia, ao passo que o Mercosul ainda negocia com os europeus um tratado semelhante, previsto para deslanchar apenas em 2005.
Mais: Fox não pára de falar no aprofundamento do Nafta (o acordo de livre comércio com EUA e Canadá), o que incomoda os europeus.
"Existe o risco real de ficarmos marginalizados", diz memorando dos embaixadores da União Européia no México, revelado pelo jornal britânico "Financial Times".
Os europeus não se cansam de mostrar como perderam mercado no México, desde a entrada em vigor do Nafta.
Temem que o fenômeno se reproduza com o resto da América Latina, a partir da criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, com todos os 34 países americanos, menos Cuba).
Por isso, lançaram as negociações com o Mercosul, como contraponto à Alca.
Mas "as negociações com o Mercosul talvez andem em ritmo demasiado lento", queixa-se, por exemplo, Miguel Ángel Cortés, secretário de Estado espanhol para a Cooperação Internacional e para Iberoamérica.
É óbvio que FHC tratará com o chanceler (primeiro-ministro) alemão, Gerhard Schroeder, dessas negociações, mas não há muito o que avançar nelas enquanto permanecer o protecionismo europeu na área agrícola (criticado, aliás, pelos alemães).
Desde 1993, a Alemanha tem saldo comercial com o Brasil. No ano passado, o Brasil exportou US$ 2,5 bilhões para a Alemanha e importou US$ 4,7 bilhões, com déficit, portanto, de US$ 2,2 bilhões.
Essa proporção se manteve nos seis primeiros meses de 2000, o que permite projetar novo saldo desfavorável para o Brasil, uma vez mais acima de US$ 2 bilhões.
"Esse severo quadro deficitário não se deve somente à abertura do mercado brasileiro, mas também à manutenção do protecionismo e aos subsídios promovidos pela União Européia que continuam a dificultar o acesso ou a reduzir a competitividade de diversos produtos brasileiros -tais como café solúvel, suco de laranja, carne de frango e celulose", diz nota do Itamaraty. (CLÓVIS ROSSI)


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