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NO AR
Politicamente incorreto
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Não faltam sinais de
alarme contra o avanço de
algo já perto da censura na TV,
em tempos de "guerra".
Esse avanço, que faz lembrar a
vigilância politicamente correta, fez seu mártir no apresentador Bill Maher, do programa da
ABC chamado, ironicamente,
"Politically Incorrect".
Ele criticou a qualificação dos
atentados como "covardes", feita por George W. Bush, dizendo
que "covarde" é quem atira um
míssil a três quilômetros de distância. O programa perdeu
anunciantes, Maher se desculpou pateticamente -e segue no
ar, meio sem graça.
O avanço da censura ou da
autocensura não se limita a
apresentadores como Maher ou
Peter Jennings, também da
ABC. Num registro mostrado,
não por coincidência, pela ABC,
revelou-se que já atinge diretamente a publicidade.
O editor da revista "Advertising Age", na emissora:
- O limite para a ofensa e o
desrespeito caiu. A publicidade
é erguida muito em torno da comédia, mas ela agora não se
sustenta. No futuro imediato, a
ironia vai tirar férias.
Nem todos são tão cuidadosos.
Uma fábrica de máscaras de gás
saiu vendendo seu produto, por
exemplo, com frases como "todos os cidadãos de Nova York
estão vulneráveis a um ataque
com armas químicas".
A campanha indica que, após
três semanas, o luto pode estar
no fim. Ontem, na mesma linha,
um produtor da Warner dizia
que um dos projetos suspensos
voltou à lista do estúdio. É "Designated Survivor", sobre um
membro de alto escalão que lidera o país após um ataque que
destrói Washington.
E a bilheteria do fim de semana foi de inesperados US$ 18 milhões para "Don't Say a Word",
da Fox. É o novo filme de Michael Douglas, em que uma van
explode e o World Trade Center
aparece de relance.
No total, a venda de ingressos
foi 26% superior ao mesmo fim
de semana de 2000. Um analista
disse à CNN que as cifras mostram que os americanos estão
prontos para voltar ao cinema
-e que as cifras devem crescer
com mais e mais lançamentos,
"inclusive violentos".
No rastro dos atentados, não
faltaram tentativas de usar o
choque para sustentar outras
"agendas". Silvio Berlusconi, assim, comparou os terroristas islâmicos aos jovens "antiglobalizantes" de Gênova.
Ontem foi FHC. Ele surgiu na
Globo para dizer que o Congresso deve aprovar com urgência o
projeto que permite derrubar
aviões suspeitos. O alvo são traficantes que entram na Amazônia. Todos terroristas.
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