São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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NO AR

Politicamente incorreto

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Não faltam sinais de alarme contra o avanço de algo já perto da censura na TV, em tempos de "guerra".
Esse avanço, que faz lembrar a vigilância politicamente correta, fez seu mártir no apresentador Bill Maher, do programa da ABC chamado, ironicamente, "Politically Incorrect".
Ele criticou a qualificação dos atentados como "covardes", feita por George W. Bush, dizendo que "covarde" é quem atira um míssil a três quilômetros de distância. O programa perdeu anunciantes, Maher se desculpou pateticamente -e segue no ar, meio sem graça.
O avanço da censura ou da autocensura não se limita a apresentadores como Maher ou Peter Jennings, também da ABC. Num registro mostrado, não por coincidência, pela ABC, revelou-se que já atinge diretamente a publicidade.
O editor da revista "Advertising Age", na emissora:
- O limite para a ofensa e o desrespeito caiu. A publicidade é erguida muito em torno da comédia, mas ela agora não se sustenta. No futuro imediato, a ironia vai tirar férias.
Nem todos são tão cuidadosos. Uma fábrica de máscaras de gás saiu vendendo seu produto, por exemplo, com frases como "todos os cidadãos de Nova York estão vulneráveis a um ataque com armas químicas".
A campanha indica que, após três semanas, o luto pode estar no fim. Ontem, na mesma linha, um produtor da Warner dizia que um dos projetos suspensos voltou à lista do estúdio. É "Designated Survivor", sobre um membro de alto escalão que lidera o país após um ataque que destrói Washington.
E a bilheteria do fim de semana foi de inesperados US$ 18 milhões para "Don't Say a Word", da Fox. É o novo filme de Michael Douglas, em que uma van explode e o World Trade Center aparece de relance.
No total, a venda de ingressos foi 26% superior ao mesmo fim de semana de 2000. Um analista disse à CNN que as cifras mostram que os americanos estão prontos para voltar ao cinema -e que as cifras devem crescer com mais e mais lançamentos, "inclusive violentos".

 

No rastro dos atentados, não faltaram tentativas de usar o choque para sustentar outras "agendas". Silvio Berlusconi, assim, comparou os terroristas islâmicos aos jovens "antiglobalizantes" de Gênova.
Ontem foi FHC. Ele surgiu na Globo para dizer que o Congresso deve aprovar com urgência o projeto que permite derrubar aviões suspeitos. O alvo são traficantes que entram na Amazônia. Todos terroristas.


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