São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACRE

Após denúncias, Justiça Eleitoral veta as retiradas acima de R$ 10 mil em todos os bancos do Estado às vésperas da eleição

Juiz proíbe saque para evitar compra de voto

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A RIO BRANCO

O corregedor regional eleitoral do Acre, juiz Pedro Francisco da Silva, concedeu ontem uma liminar proibindo os bancos que atuam no Estado de autorizar saques acima de R$ 10 mil. A intenção da medida, que entrou em vigor ontem e vale até hoje, é impedir a compra de votos.
"Aqui nesse Estado o voto tem preço. Custa de R$ 10 a R$ 150", declarou o autor da ação, Marcus Vinicius Aguiar Macedo, que é o procurador regional eleitoral. Segundo ele, no dia da eleição, há candidatos que distribuem dinheiro até "dentro de bonés de propaganda", que são entregues a eleitores que estão próximos aos locais de votação.
No texto da ação, Macedo justifica o pedido de liminar informando que a Procuradoria tomou conhecimento de uma agência bancária da capital estaria providenciando R$ 2,5 milhões para serem sacados em notas de R$ 10 e R$ 50 entre ontem e hoje.
Na decisão, o juiz determina também que todas as pessoas -físicas e jurídicas- que efetuaram saques acima de R$ 10 mil desde o dia 23 tenham os nomes repassados à Justiça.
O procurador não informou a identidade dos beneficiários desses saques. No entanto a liminar prevê que eventuais saques acima do limite estipulado pela ação só ocorram mediante autorização judicial. Nesses casos, o nome do titular da conta e o motivo do saque terão de ser identificados.
"Sabe-se que candidatos usam dinheiro para a compra de votos no dia das eleições, influenciando ilegal e indevidamente a vontade dos eleitores, mediante abuso do poder econômico", diz a ação.
Os gerentes dos bancos que descumprirem a liminar poderão ser presos em flagrante e ainda pagar multa de R$ 30 mil. Macedo antecipou à Folha que hoje entrará com nova ação, solicitando ao Tribunal Regional Eleitoral que obrigue os eleitores a apresentar nos pontos de votação, além do título, a identidade. O objetivo, diz ele, é garantir que o título seja usado só pelo seu titular.
Ontem, o procurador reuniu-se com o corregedor para discutir os detalhes da nova ação. Os principais alvos são os moradores de pequenas cidades e os índios.
Os 5.000 eleitores indígenas (um deputado federal se elege no Acre com 10 mil votos) votam em locais de difícil acesso e fiscalização por parte da Justiça Eleitoral.
Dois índios que estão em Rio Branco disseram ontem à Folha já terem votado por parentes que estavam doentes no dia da eleição.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Ex-deputado faz cadastro e promete R$ 100 por voto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.