São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARANHÃO

Tavares responde a processos, mas nega acusações; prefeito tem prisão decretada

Procurador denuncia abuso de poder

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO MARANHÃO

O governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PFL), que disputa a reeleição com apoio da família Sarney, responde a dois processos na Justiça Eleitoral e a dois inquéritos no Ministério Público Eleitoral por abuso de poder na campanha, segundo informou o procurador regional eleitoral, Nicolao Dino Costa Neto.
O candidato da Frente Trabalhista, Jackson Lago (PDT), é investigado junto com Tavares por suposta manipulação da mídia e foi duramente atacado pelo pefelista no último programa eleitoral gratuito por suposto desvio de verbas da empresa municipal de limpeza urbana Coliseu.
Lago foi reeleito prefeito de São Luís, em 2000, com apoio da então governadora Roseana Sarney. Hoje, os dois lados consideram a aliança um "equívoco". As acusações relativas à Coliseu já haviam sido exibidas na eleição municipal, mas monopolizaram o debate entre os candidatos na TV, anteontem à noite. Lago e Tavares negam as acusações feitas a eles.
O presidente regional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Raimundo Marques, pediu reforço de tropas federais por temer tumulto nas cidades maiores.
Denúncias de abuso de poder pipocam na capital e no interior. Segundo o procurador Costa Neto, Tavares responde a ação por uso do símbolo da propaganda institucional do governo como marca da campanha. Milhares de cartazes com o símbolo estão espalhados pelo Maranhão, apesar de a Justiça ter determinado sua retirada. Segundo o procurador, a ação pede a cassação do registro da candidatura.
A segunda ação refere-se a programa lançado em abril pelo governador que, entre outras medidas assistencialistas, distribui óculos à população carente.

"Quem manda sou eu"
O caso mais explícito de abuso de poder denunciado pelo promotor ocorreu em São Francisco do Maranhão (divisa com Piauí). O prefeito, José Willys Nogueira (PTB), está com prisão preventiva decretada, por coagir funcionários municipais a votarem nos candidatos dele, sob ameaça de demissão. Para Costa Neto, o episódio mostra que "o coronelismo político continua bem vivo no interior do Maranhão".
A Justiça negou o pedido de habeas corpus apresentado pelos advogados. O prefeito está desaparecido desde que seu vice, e inimigo político, entregou a prova da ameaça à Justiça Eleitoral, há cerca de três semanas.
A prova é a fita com a gravação de um programa de rádio patrocinado pela prefeitura, que foi ao ar em 14 de setembro, pela Rádio Cultura do Amarante, do Piauí. Após acusar o ex-prefeito José Maria Carvalho (PFL) de estar vendendo votos na região, Willys disse ter cortado o fornecimento de luz a casas de pessoas ligadas ao ex-prefeito.
"Não vou pagar óleo para ninguém usufruir de energia e de água e falar do Zé Willys e não votar nos meus candidatos, não. Daqui para a frente, é língua ou beiço. E, se ligar clandestinamente, mando botar na cadeia, porque quem manda no município sou eu." Na sequência, disse que o pagamento de setembro do funcionalismo só sairia depois da eleição e que os funcionários que votassem contra os candidatos dele estariam demitidos e "com o salário de setembro perdido".
"Quem quiser ver se é o contrário, é só tentar. (...) Quem estiver achando ruim, é morrer. Porque a prefeitura tem um convênio com a Sociedade Plano Amigo, e o caixão é gratuito."


Texto Anterior: Outro Lado: Para presidente, ideal era começar depois da eleição
Próximo Texto: Pancadaria Eleitoral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.