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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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A DESIGUALDADE É NOSSA

Petista compara combate à fome a "O petróleo é nosso"

"Pior que sociedade pobre é a que nunca reparte", diz Lula

CHICO SANTOS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou ontem a luta por uma sociedade mais justa à vitoriosa campanha "o petróleo é nosso", que, nos anos 50, resultou na criação da Petrobras. "A luta pela justiça social é o divisor de águas do desenvolvimento brasileiro do século 21. É a campanha do petróleo da nossa geração", afirmou, em solenidade comemorativa dos 50 anos da estatal, ontem, no Rio.
"Agora, uma nova causa se impõe, tão desafiadora quanto a campanha dos anos 50. Falo da luta por um desenvolvimento que faça da inclusão social o novo motor da economia brasileira. Mais desumana que a sociedade pobre é a economia rica que nunca reparte", acrescentou.
Lula lembrou o fato de a Petrobras ter surgido como um projeto desacreditado para afirmar que, havendo vontade política, é possível ao Brasil vencer também a fome e a miséria. "Estou convencido de que um povo que fez a Petrobras há 50 anos e que fez Brasília há 40 anos pode acabar com a fome e a miséria no século 21."
Ele disse que "desenvolvimento não é um automatismo na vida das nações, mas uma combinação delicada de necessidades e possibilidades". E criticou o apego exclusivo aos fundamentos econômicos: "A economia é a máquina, produz riquezas para o ser humano, condiciona o campo de ação, mas não decide o destino", disse no discurso.
O presidente afirmou que o Brasil deverá atingir a auto-suficiência em petróleo no seu governo (a Petrobras estima que isso ocorra em 2006) e disse que o sucesso da estatal prova que "um sonho nem sempre é uma miragem, especialmente quando é sonhado por milhões de pessoas".
Ele defendeu a determinação do atual governo de que 65% das compras de equipamentos da Petrobras sejam feitas no país. Contou que, em encontro recente, o primeiro-ministro da Noruega lhe disse que empresas daquele país compraram um estaleiro no Brasil a fim de participar das concorrências da estatal.
"Nós não queríamos evitar que empresas estrangeiras produzissem os nossos navios ou a nossa plataforma. O que nós queríamos era que nosso dinheiro fosse gasto dentro do Brasil, para gerar empregos para homens e mulheres brasileiros."

Vaia
A cerimônia comemorativa dos 50 anos da Petrobras, da qual Lula participou, teve um momento de constrangimento quando pessoas que estavam no fundo do salão começaram a vaiar assim que foi anunciada a presença da governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB). A vaia acabou sendo sufocada por palmas das pessoas próximas ao palco onde estavam as autoridades.
Cerca de 800 pessoas assistiram à cerimônia no salão de festas do 24º andar do edifício-sede da empresa. Um grupo maior de empregados se concentrou no andar térreo do prédio, onde telões transmitiram a festa. No final, Lula desceu até a sobreloja e, de uma espécie de sacada, acenou para o grupo, que o recebeu aos gritos de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".
O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, fez um discurso no mesmo tom do de Lula. Ex-senador, Dutra disse ter optado por falar "como um brasileiro", para quem o Brasil todo tem que dar certo, e não só a estatal.
Já a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) comparou a vitória de Lula na eleição à decisão de fundar a Petrobras. "O presidente Luiz Inácio [Lula da Silva], ao saber de sua vitória, disse que a esperança venceu o medo. Eu acho que todos nós queremos, em termos de país, que a esperança vença o medo. E o medo muitas vezes assume formas disfarçadas. Uma das formas do medo foi que durante muito tempo se dizia que não havia petróleo no Brasil."


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