|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bolsa Família esvazia MST, dizem analistas
"Há indício de que tira combatividade", diz Plínio de Arruda; "assistencialismo é solução mais fácil", afirma Tomás Balduino
Ariovaldo Umbelino, da USP, acredita que não há relação entre a diminuição do número de invasões pelo de terra e programa federal
DO ENVIADO A RIBEIRÃO PRETO (SP)
Especialistas afirmam que o
Bolsa Família é um grande, mas
não o único motivo da diminuição do número de famílias interessadas em participar de invasões de terra. Eles dizem que a lentidão de uma reforma agrária provocou desalento. Além
disso, houve a identificação de
movimentos sociais com o governo Lula e o aumento do
apoio financeiro a entidades.
Para a maioria dos entrevistados, o Bolsa Família foi forte
responsável pela redução dos
grupos de invasão: a pessoa vê
que é possível sobreviver e ter
horizonte fora do acampamento. Se não conseguir, ao menos
receberá o benefício todo mês.
Ex-petista e candidato ao governo de São Paulo em 2006
pelo PSOL, Plínio de Arruda
Sampaio diz que "há indício
forte de que Bolsa Família tira a
combatividade das pessoas para lutar pela reforma agrária. É
o efeito mais perverso do programa". Ele preside a Associação Brasileira de Reforma
Agrária, Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e autor de "Mobilização
sem Emancipação - As Lutas
Sociais dos Sem Terra no Brasil", diz que os movimentos recrutam pobres que não tinham
muitas alternativas até o surgimento do Bolsa Família. Ele
ressalta que as invasões não vão
acabar: "Movimentos como o
MST têm militantes permanentes, sempre mobilizados".
Dom Tomás Balduino, ex-presidente da CPT (Comissão
Pastoral da Terra), diz que "o
assistencialismo é uma forma
de solução mais fácil, e é fato
que o Bolsa Família arrefeceu a
luta dos sem-terra. Só onde há
consciência política é que as
ocupações se mantêm".
Gilmar Mauro, da direção
nacional do MST, diz que "o
programa gera uma certa acomodação no primeiro momento, é um amortecedor, mas não
resolve o problema de ninguém".
Ele continua: "Não é uma situação sustentável. No futuro, a
pessoa pode querer ou mais dinheiro da bolsa ou um emprego. A situação do país vai melhorar para oferecer um ou outro? Se não, a luta pela terra pode voltar a ser uma opção".
Para Maria Cecilia Manzoli
Turatti, autora de "Os Filhos da
Lona Preta", dissertação de
mestrado em Antropologia na
USP, "certamente as periferias
das cidades são um importante
bolsão de arregimentação de
acampados e um incremento
de renda para a subsistência
pode sim contribuir para desmotivar o cidadão a escolher viver sob as duras condições impostas num acampamento".
Ela destaca, contudo, que
"sem a verificação por meio de
pesquisas apropriadas, corremos o risco de nos confundir
entre possíveis tendências e o
que se processa na realidade".
Defesa
Segundo o professor Ariovaldo Umbelino, da USP, não há
relação entre a diminuição do
número de invasões e o Bolsa
Família. "Esta redução deve ser
buscada no conjunto das ações
dos movimentos sociais e sindicais que colocaram-se ao lado
da defesa do mandato de Lula
desde os acontecimentos políticos de 2005 [mensalão]."
Esta posição derivava de uma
clara posição contrária à posição das elites, via grande mídia,
que sempre buscou, com suas
denúncias e críticas, a destruição do PT, de Lula, do MST",
complementa.
Para ele, "os movimentos sociais e sindicais passaram a
atuar na direção do acúmulo de
força, pois o quadro político era
de refluxo de lutas. É claro, que
eles continuaram a lutar, mas
reduzindo e concentrando as
ações no mês de abril".
Colaborou MAURICIO PULS , da Redação
Texto Anterior: Invasores de terra diminuem com avanço do Bolsa Família Próximo Texto: Frase Índice
|