São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Bolsa Família esvazia MST, dizem analistas

"Há indício de que tira combatividade", diz Plínio de Arruda; "assistencialismo é solução mais fácil", afirma Tomás Balduino

Ariovaldo Umbelino, da USP, acredita que não há relação entre a diminuição do número de invasões pelo de terra e programa federal

DO ENVIADO A RIBEIRÃO PRETO (SP)

Especialistas afirmam que o Bolsa Família é um grande, mas não o único motivo da diminuição do número de famílias interessadas em participar de invasões de terra. Eles dizem que a lentidão de uma reforma agrária provocou desalento. Além disso, houve a identificação de movimentos sociais com o governo Lula e o aumento do apoio financeiro a entidades.
Para a maioria dos entrevistados, o Bolsa Família foi forte responsável pela redução dos grupos de invasão: a pessoa vê que é possível sobreviver e ter horizonte fora do acampamento. Se não conseguir, ao menos receberá o benefício todo mês.
Ex-petista e candidato ao governo de São Paulo em 2006 pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio diz que "há indício forte de que Bolsa Família tira a combatividade das pessoas para lutar pela reforma agrária. É o efeito mais perverso do programa". Ele preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária, Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de "Mobilização sem Emancipação - As Lutas Sociais dos Sem Terra no Brasil", diz que os movimentos recrutam pobres que não tinham muitas alternativas até o surgimento do Bolsa Família. Ele ressalta que as invasões não vão acabar: "Movimentos como o MST têm militantes permanentes, sempre mobilizados".
Dom Tomás Balduino, ex-presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), diz que "o assistencialismo é uma forma de solução mais fácil, e é fato que o Bolsa Família arrefeceu a luta dos sem-terra. Só onde há consciência política é que as ocupações se mantêm".
Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, diz que "o programa gera uma certa acomodação no primeiro momento, é um amortecedor, mas não resolve o problema de ninguém". Ele continua: "Não é uma situação sustentável. No futuro, a pessoa pode querer ou mais dinheiro da bolsa ou um emprego. A situação do país vai melhorar para oferecer um ou outro? Se não, a luta pela terra pode voltar a ser uma opção".
Para Maria Cecilia Manzoli Turatti, autora de "Os Filhos da Lona Preta", dissertação de mestrado em Antropologia na USP, "certamente as periferias das cidades são um importante bolsão de arregimentação de acampados e um incremento de renda para a subsistência pode sim contribuir para desmotivar o cidadão a escolher viver sob as duras condições impostas num acampamento".
Ela destaca, contudo, que "sem a verificação por meio de pesquisas apropriadas, corremos o risco de nos confundir entre possíveis tendências e o que se processa na realidade".

Defesa
Segundo o professor Ariovaldo Umbelino, da USP, não há relação entre a diminuição do número de invasões e o Bolsa Família. "Esta redução deve ser buscada no conjunto das ações dos movimentos sociais e sindicais que colocaram-se ao lado da defesa do mandato de Lula desde os acontecimentos políticos de 2005 [mensalão]."
Esta posição derivava de uma clara posição contrária à posição das elites, via grande mídia, que sempre buscou, com suas denúncias e críticas, a destruição do PT, de Lula, do MST", complementa.
Para ele, "os movimentos sociais e sindicais passaram a atuar na direção do acúmulo de força, pois o quadro político era de refluxo de lutas. É claro, que eles continuaram a lutar, mas reduzindo e concentrando as ações no mês de abril".


Colaborou MAURICIO PULS , da Redação


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