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JANIO DE FREITAS
Mistérios sobre mistérios
A inquietação causada na
cúpula do PT pela retomada
do inquérito sobre o assassinato
do prefeito Celso Daniel, de Santo
André, merece tanto interesse
quanto o próprio crime, se considerado o mesmo grau de mistério
dos seus verdadeiros motivos.
Na primeira fase da investigação, a agitada angústia da cúpula
petista foi explicada como preocupação de impedir que o assunto, desde o início sugerindo práticas comprometedoras em vários
sentidos, transbordasse para a
disputa eleitoral pela Presidência.
"É preciso evitar que isso prejudique Lula", na frase à época atribuída a José Dirceu. Interesses políticos, e não só em relação à campanha presidencial, estavam de
fato em cena. Se bem que, desde
suas primeiras interferências no
caso, a cúpula petista parecesse
movida por preocupações que
não se limitavam a possíveis efeitos inconvenientes à candidatura
Lula.
A campanha eleitoral acabou
há mais de um ano. Não para Lula e seus discursos diários, mas
para todos os efeitos mais consequentes. A reativação do inquérito provocou, porém, inquietação
idêntica à exibida pela cúpula no
ano passado. Sem nenhuma tentativa de explicação, mesmo que
inconvincente. Na impossibilidade de esconder idas de emissários
em busca de inexplicadas conversas com promotores, e coisas assim, a cúpula petista limita-se a
admiti-las, até por não poder negá-las, e dar-lhes o tratamento
autoritário de quem se supõe acima do dever de explicar seja o que
for.
Na ausência de um motivo convincente, por pouco que fosse, para a aflição com a retomada do
inquérito, tudo o que o declaratório José Genoino conseguiu apresentar como justificativa petista
foi esta pobreza: "Querem matar
o prefeito [Celso Daniel] duas vezes. Já mataram lá naquela estrada. Agora querem matar sua
imagem".
O que sai desse raciocínio miúdo são duas indicações. Na visão
de José Genoino, que fala como
presidente do PT, o prosseguimento do inquérito seria comprometedor para a imagem de Celso
Daniel, o que ninguém dissera até
agora. E, segunda evidência emitida por José Genoino, o PT é contra, o PT não quer que prossiga o
inquérito para desvendar os motivos e as circunstâncias do assassinato de Celso Daniel.
Todo crime de morte deve ser
investigado, seja por quanto tempo for, até que sobre ele não reste
dúvida nenhuma. Com frequência, nem o julgamento com condenação é bastante para dar um
caso como encerrado. No caso de
Celso Daniel, as circunstâncias do
alegado assalto continuam obscurecidas por muitas contradições e incongruências. A autoria
atribuída a um menor pende de
uma confissão que não resistiu à
reconstituição do assassinato,
nem à perícia. E suspeitas de variados tipos foram levantadas em
torno do crime e não estão ainda
dissolvidas.
Diante de um caso assim, normal seria, mais do que o desejo, o
empenho total da cúpula do PT,
inclusive por seus deveres de governo, para mais e mais investigações até esclarecer tudo, com
plena segurança, sobre a morte
daquele que seria o coordenador
do programa de Lula, não fora a
tragédia que o substituiu por Antonio Palocci.
Investigações desse emaranhado caso, porém, inquietam a cúpula do PT.
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