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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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NO AR

Superpop

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Que Lula fosse seguido pelo mundo com louvores da televisão brasileira já se esperava. Mas nada dizer sobre a ditadura síria vai além do costumeiro.
Na Globo, falaram do "jovem presidente sírio" e do "passado comum", da "afinidade" dos dois povos, "desde a história de São Paulo".
Mencionaram que "as terras distantes do Oriente Médio estão mais próximas" agora. Que Lula defendeu, em discurso, propostas semelhantes às do "mundo árabe moderado".
Que ele se reuniu com o "jovem presidente" no "Palácio do Povo, o equivalente do nosso Palácio do Planalto".
Só lá pelo fim de uma reportagem se ouviu, bem de passagem, que a Síria tem um "regime fechado". Que é um outro nome para ditadura.
 
Lula devia dar logo os cabides ao PMDB, se quer tanto a legenda. Nem a cobertura aguenta mais. Da CBN:
- Os líderes têm uma nova reunião para mais uma vez tentar um acordo...
Não adianta. O líder do PMDB dá um jeito e inviabiliza até acordo que envolve o PFL. E sai dizendo que não deixa passar "mais nada".
 
Os ataques à polícia voltaram em São Paulo -e o secretário de Segurança Pública voltou às entrevistas ao vivo, em telejornais da Globo e da Band, no caso, o Brasil Urgente.
E tome abuso da palavra "bandido", além da histeria e da consternação representadas pelos narradores.
Do que se viu ontem na televisão, destacou-se uma inusitada declaração do secretário, depois de sublinhar que "sete criminosos já morreram e o recado é para parar com isso (os ataques)". A declaração inusitada veio logo a seguir:
- São suicidas. Qual é a lógica de atacar a polícia? Nenhuma. O negócio desse pessoal que foi morto é tráfico e roubo, não atacar a polícia. É um ato suicida, tanto que eles estão morrendo. Já tinham morrido dois, hoje foram mais. Não sei onde querem chegar.
O Brasil Urgente, aproveitando cenas de um tiroteio em que sua equipe se meteu, chamou a situação de "guerra civil". O secretário concordou.
 
Quando menos se espera, quando a memória já nem registra mais, Fernando Collor volta à televisão. Foi anteontem, num programa sem fim na Rede TV! -que o convidou não se sabe por quê.
Collor "revelou" que por muito pouco não se matou quando era presidente, como Getúlio. Chorou e quase levou a apresentadora Luciana Gimenez às lágrimas. Elogiou PC Farias. Elogiou Lula.
Foi um Superpop inacreditável -do outro mundo, além da imaginação.


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