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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Marta Suplicy ganhou apoio interno ao ter silenciado durante "mensalão'; Aloizio Mercadante perdeu ao fazer críticas ao partido
Rivais adotam táticas opostas diante da crise
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
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A ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, em encontro do PT, ontem em SP |
CATIA SEABRA
RICARDO MELO
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise no PT produziu impacto
na campanha dos dois potenciais
candidatos do partido ao governo
do Estado, a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante. Ele ganhou visibilidade nacional e reconhecimento no Planalto como defensor do governo no Congresso.
Mas, dentro do partido, sua candidatura foi desidratada. Mercadante ciscou para fora.
Marta adotou outra estratégia.
Silenciou sobre a crise e viajou para o exterior em plena disputa pela presidência do PT. Só voltou
para votar. Desapareceu para o
público, mas conquistou o apoio
dos insatisfeitos com as críticas de
Mercadante ao antigo comando
da sigla. Ela ciscou para dentro.
Os seguidores de Marta dizem
que ela conseguiu reverter a dianteira que, segundo eles, Mercadante ostentava há cerca de quatro meses. Hoje acreditam numa
disputa equilibrada e apostam em
deserções nas fileiras do adversário -José Dirceu e José Genoino,
antes pró-Mercadante, estariam
prestes a abandonar o barco.
Não é à toa. Enquanto o senador
defendia a exclusão de Dirceu da
chapa na eleição do PT, emissários de Marta faziam o contrário.
Ontem, Dirceu disse não ter mágoas de Mercadante. Mas não
quis reafirmar seu voto. "Apoiei
Mercadante. Não me arrependo.
Mas não acho correto, na minha
situação, tomar partido".
Para neutralizar seu desgaste,
Mercadante defendeu Dirceu e
chamou de silêncio da dignidade
a reclusão de Genoino. No fim do
encontro, Mercadante telefonou
para Genoino. Deixou recado em
sua secretária-eletrônica. Até os
apoiadores de Mercadante reconhecem que ele sofreu desgaste.
Com o senador em Brasília,
Marta começou um périplo onde
suas bases são mais frágeis -o interior. Fez reuniões com militantes, escreveu artigos para jornais
locais e articulou a aproximação
com prefeitos. O centro de seu
discurso é a experiência administrativa. "Iniciativas como os CEUs
e o programa de renda mínima
são alguns exemplos que jogam a
favor da Marta num eventual embate do PT contra o PSDB", diz o
vereador José Américo, um dos
articuladores da ex-prefeita.
Ao perceber o avanço de Marta,
Mercadante chegou a esmaecer
numa reunião com aliados. Reclamou falta de tempo para a política
estadual e recebeu uma injeção de
ânimo. Mas, alegando que não
pode se dedicar à disputa em
meio à tormenta em Brasília,
Mercadante contrariou as expectativas e recolheu a candidatura
neste momento. Ele rechaça, porém, a idéia de desistência. "Será
um imenso orgulho participar da
eleição. Mas tudo tem seu tempo.
Não posso abdicar de minhas responsabilidades com o governo
agora", disse ele, recusando-se a
comentar a possibilidade de Dirceu e Genoino apoiarem Marta.
Reproduzindo um discurso que
seria de Lula, Mercadante também lista as seqüelas das disputas
internas para defender um acordo entre os candidatos. Segundo o
prefeito de Guarulhos, Elói Pietá,
um de seus principais apoiadores,
Mercadante lamenta a falta de
tempo para campanha no Estado.
Pietá reage aos que se queixam
da falta de solidariedade de Mercadante aos acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão". "Mercadante, como líder,
sempre apoiou nossos parlamentares. Não sei que tipo de solidariedade mais eles esperavam."
Até maio, Mercadante espera sinais de apoio de Lula a sua candidatura e à construção de um acordo entre os dois candidatos. Já os
seguidores de Marta vêem com
ceticismo a notícia segundo a qual
Lula já bateu o martelo por Mercadante e só espera o melhor momento para anunciar.
"Não foi isso o que o presidente
disse para Marta quando ela foi
lhe comunicar o lançamento da
candidatura", diz um petista próximo a ela. "O recado que ele deu
foi o de que se manteria neutro."
Enquanto o fator Lula não se esclarece, os apoiadores de Marta e
Mercadante ambicionam o espólio de João Paulo Cunha. Antes de
se enrolar na crise, este pensava
em disputar a candidatura. Agora, sua prioridade é salvar o mandato. Mas os vereadores e prefeitos que ele influencia podem ser o
fiel da balança numa prévia.
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