São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Marta Suplicy ganhou apoio interno ao ter silenciado durante "mensalão'; Aloizio Mercadante perdeu ao fazer críticas ao partido

Rivais adotam táticas opostas diante da crise

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
A ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, em encontro do PT, ontem em SP


CATIA SEABRA
RICARDO MELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise no PT produziu impacto na campanha dos dois potenciais candidatos do partido ao governo do Estado, a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante. Ele ganhou visibilidade nacional e reconhecimento no Planalto como defensor do governo no Congresso. Mas, dentro do partido, sua candidatura foi desidratada. Mercadante ciscou para fora.
Marta adotou outra estratégia. Silenciou sobre a crise e viajou para o exterior em plena disputa pela presidência do PT. Só voltou para votar. Desapareceu para o público, mas conquistou o apoio dos insatisfeitos com as críticas de Mercadante ao antigo comando da sigla. Ela ciscou para dentro.
Os seguidores de Marta dizem que ela conseguiu reverter a dianteira que, segundo eles, Mercadante ostentava há cerca de quatro meses. Hoje acreditam numa disputa equilibrada e apostam em deserções nas fileiras do adversário -José Dirceu e José Genoino, antes pró-Mercadante, estariam prestes a abandonar o barco.
Não é à toa. Enquanto o senador defendia a exclusão de Dirceu da chapa na eleição do PT, emissários de Marta faziam o contrário. Ontem, Dirceu disse não ter mágoas de Mercadante. Mas não quis reafirmar seu voto. "Apoiei Mercadante. Não me arrependo. Mas não acho correto, na minha situação, tomar partido".
Para neutralizar seu desgaste, Mercadante defendeu Dirceu e chamou de silêncio da dignidade a reclusão de Genoino. No fim do encontro, Mercadante telefonou para Genoino. Deixou recado em sua secretária-eletrônica. Até os apoiadores de Mercadante reconhecem que ele sofreu desgaste.
Com o senador em Brasília, Marta começou um périplo onde suas bases são mais frágeis -o interior. Fez reuniões com militantes, escreveu artigos para jornais locais e articulou a aproximação com prefeitos. O centro de seu discurso é a experiência administrativa. "Iniciativas como os CEUs e o programa de renda mínima são alguns exemplos que jogam a favor da Marta num eventual embate do PT contra o PSDB", diz o vereador José Américo, um dos articuladores da ex-prefeita.
Ao perceber o avanço de Marta, Mercadante chegou a esmaecer numa reunião com aliados. Reclamou falta de tempo para a política estadual e recebeu uma injeção de ânimo. Mas, alegando que não pode se dedicar à disputa em meio à tormenta em Brasília, Mercadante contrariou as expectativas e recolheu a candidatura neste momento. Ele rechaça, porém, a idéia de desistência. "Será um imenso orgulho participar da eleição. Mas tudo tem seu tempo. Não posso abdicar de minhas responsabilidades com o governo agora", disse ele, recusando-se a comentar a possibilidade de Dirceu e Genoino apoiarem Marta.
Reproduzindo um discurso que seria de Lula, Mercadante também lista as seqüelas das disputas internas para defender um acordo entre os candidatos. Segundo o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá, um de seus principais apoiadores, Mercadante lamenta a falta de tempo para campanha no Estado.
Pietá reage aos que se queixam da falta de solidariedade de Mercadante aos acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão". "Mercadante, como líder, sempre apoiou nossos parlamentares. Não sei que tipo de solidariedade mais eles esperavam."
Até maio, Mercadante espera sinais de apoio de Lula a sua candidatura e à construção de um acordo entre os dois candidatos. Já os seguidores de Marta vêem com ceticismo a notícia segundo a qual Lula já bateu o martelo por Mercadante e só espera o melhor momento para anunciar.
"Não foi isso o que o presidente disse para Marta quando ela foi lhe comunicar o lançamento da candidatura", diz um petista próximo a ela. "O recado que ele deu foi o de que se manteria neutro." Enquanto o fator Lula não se esclarece, os apoiadores de Marta e Mercadante ambicionam o espólio de João Paulo Cunha. Antes de se enrolar na crise, este pensava em disputar a candidatura. Agora, sua prioridade é salvar o mandato. Mas os vereadores e prefeitos que ele influencia podem ser o fiel da balança numa prévia.


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