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Renúncia é a moeda de troca para livrar Renan de cassação
Senado vota hoje, em sessão aberta e votação secreta, 2º processo contra o peemedebista
Colegas dão como certa a saída definitiva de senador da presidência, o que facilita absolvição; data é incerta, mas PMDB pede a ele pressa
Sergio Lima/Folha Imagem
![](../images/n0412200701.jpg) |
Tião Viana, que ocupa a presidência do Senado interinamente |
SILVIO NAVARRO
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após 54 dias de afastamento
da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) enfrenta hoje, pela segunda vez
no ano, um processo de cassação de mandato no plenário da
Casa. A tendência é que seja novamente absolvido.
Até a noite de ontem, Renan
resistia em renunciar oficialmente ao cargo na sessão de hoje. Ele confidenciou a amigos,
no domingo à noite, que pretendia seguir licenciado sob o
argumento de que sua saída,
agora, poderia tumultuar a votação da CPMF, o chamado imposto do cheque, prioridade legislativa do governo no momento.
Nesse cenário, ele faria o aceno pela renúncia, mas só a concretizaria nas próximas semanas. Durante todo o dia de ontem, porém, Renan foi aconselhado pela cúpula do PMDB a
entregar o cargo hoje. Diante
das pressões, disse a aliados
que a decisão estava em aberto
caso perceba que a margem de
votos está apertada.
Para ser absolvido, Renan
aposta em um acordo, costurado nos bastidores, segundo o
qual ele não voltaria à presidência da Casa. Sua licença do
cargo expira no dia 29 de dezembro. Caso ele renuncie ao
posto, o Regimento Interno da
Casa prevê a realização de eleições em até cinco dias úteis.
Não há consenso na bancada do
PMDB pelo nome do sucessor.
Renan também aguardava
por uma eventual sinalização
do Planalto. Ele acredita que
sua renúncia agora só atrapalha
o presidente Lula, que teria enfrentar uma sucessão no Senado no momento em que negocia a prorrogação do imposto
do cheque.
"O senador Renan vai avaliar
sua defesa, o momento político
e os votos de que precisa", resumiu o líder do governo na Casa,
Romero Jucá (PMDB-RR).
A sessão que selará o futuro
político do presidente licenciado do Congresso está marcada
para as 15h. A votação será secreta. Mas, ao contrário da anterior, no dia 12 de setembro, a
sessão será aberta. Para que o
peemedebista tenha o mandato
cassado são necessários os votos de no mínimo 41 dos 81 senadores. Renan também poderá votar. Ontem, ele não apareceu no Senado.
A avaliação dos aliados de
Renan é que ele está confiante
na absolvição e que espera repetir o placar que o reelegeu para dirigir a Casa, em fevereiro:
51 votos. A base do governo tem
53 votos nominais, incluindo o
dele próprio. Renan espera ainda ter apoio significativo de
parte da oposição, especialmente do PSDB.
O líder do DEM, José Agripino Maia (RN), voltou a falar na
costura de um acordo entre
PMDB e PT para salvar o mandato de Renan e aprovar a
CPMF. "Esse silêncio preocupa
e antecipa um acordão", afirmou. Romero Jucá rebateu:
"Não tem sentido, o julgamento do Renan independe da
CPMF".
A denúncia que levou o senador alagoano novamente a enfrentar o plenário é que ele
usou laranjas para comprar
duas rádios em Alagoas, numa
parceria com seu ex-sócio e hoje adversário político, o usineiro João Lyra. Renan nega as denúncias.
O relatório que recomenda a
cassação é de autoria do senador Jefferson Péres (PDT-AM)
e lista indícios de que Renan
era sócio oculto das rádios. O
eixo do relatório é o depoimento de João Lyra. O parecer foi
aprovado no Conselho de Ética
por 11 votos a 3.
Discurso
Renan passou o dia de ontem
trabalhando seu discurso e telefonando para senadores que
prometeram ajudar a salvar seu
mandato. O discurso que será
lido no plenário passou pelo
crivo do advogado José Fragoso e foi lido pelos aliados.
Ele avisou que centraria fogo
em João Lyra, mas adotaria
uma linha mais emocional e
com menos ataques do que fizera em sua fala em setembro,
quando escapou da cassação
por suposto uso particular de
recursos de uma empreiteira
por 40 votos contra 35 -houve,
então, 6 abstenções.
Ao falar de Lyra, o senador
critica o "revanchismo" pelo fato de o usineiro ter perdido a
eleição para o governador Teotônio Vilela (PSDB), seu aliado.
Pretende afirmar que não foram encontradas provas de que
foi sócio das rádios e repetirá
que foi submetido a "meses de
calvário" que atingiram sua
honra e a de sua família. Uma
eventual cassação, avalia, equivaleria "a uma sentença de
morte".
A avaliação tanto da oposição
quanto de governistas é que
uma eventual absolvição na
tarde de hoje põe um ponto final numa crise que se arrastou
por 193 dias. Ao deixar o cargo,
avaliam, Renan "pagou o preço". Se for cassado, ele ficará
inelegível até 2019, quando terá
63 anos. Até hoje, somente um
senador, Luiz Estevão (PMDB-DF), perdeu o mandato, em
2000. Em tese, restam três denúncias ainda contra o peemedebista, mas dificilmente alguma delas avançará.
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