|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo ignora índios em seu plano de defesa, afirma Funai
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com foco na proteção das
fronteiras da Amazônia, a minuta da Estratégia Nacional de
Defesa não aborda a questão indígena ao prever a instalação de
aeroportos e novos pelotões do
Exército na região. Para o presidente da Funai, Márcio Meira, o erro poderá provocar atritos entre índios e militares.
Meira diz que não foi consultado sobre o novo plano de defesa, que será divulgado no dia
11, e nunca se reuniu com o ministro Mangabeira Unger. "Não
me chamaram nem sequer para
uma consulta informal."
Procurado pela Folha, Mangabeira não quis se pronunciar.
Já o Ministério da Defesa, também responsável pelo documento, informou que "todo cidadão brasileiro, por intermédio do Congresso, terá a oportunidade de contribuir para o
aperfeiçoamento da Estratégia
Nacional de Defesa quando forem debatidos os projetos que
a implementarão".
Como a reportagem revelou
no último domingo, a Amazônia é um dos palcos principais
das hipóteses de emprego das
Forças Armadas. Para aumentar a presença militar na região, deverão ser instalados
mais 28 pelotões de fronteira.
"Eles vão instalar isso tudo onde? No meio de uma aldeia,
perto de uma cachoeira considerada sagrada pelos índios?",
questiona Meira. Para ele, é
preciso "um pacto prévio" com
as lideranças indígenas.
"Sem um acordo sobre como
isso vai ser feito é um absurdo.
O Exército sempre colocou [os
pelotões de fronteira] onde
quis, porque queria controlar
os índios", afirma.
Índios-soldados
O presidente da Funai avalia
ainda que os militares, em sua
formação acadêmica, carecem
de um "aparato científico-contemporâneo" sobre a realidade
indígena. "Vivemos uma situação anacrônica. Os índios estão
no século 21 e os soldados, no
século 19. Essa visão genérica
perpassa a maioria da sociedade", diz. Meira afirma que boa
parte dos pelotões de fronteira
é formada por índios-soldados,
que poderiam se ressentir com
eventuais efeitos negativos da
ação militar em suas comunidades. "Os índios são os melhores defensores da Amazônia."
Para Saulo Feitosa, do Cimi
(Conselho Indigenista Missionário), o projeto "desacredita o
governo Lula em sua política
indigenista". "O Mangabeira
não sabe nada de índio nem de
Amazônia", diz.
Texto Anterior: Outro lado: Estatal nega prejuízo aos cofres públicos Próximo Texto: Câmara regulariza a situação de 62 cidades Índice
|