São Paulo, Quarta-feira, 05 de Janeiro de 2000


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ENTREVISTA
Presidente afirma que deputado "passou dos limites" ao pedir seu fuzilamento e diz querer dólar mais estável
FHC pede à Câmara que puna Bolsonaro

Moacyr Lopes Júnior - 22.ago.99/Folha Imagem
"Na campanha estávamos em plena crise"


da Reportagem Local

O presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou providências da Câmara quanto às declarações feitas pelo deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ) no almoço em desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica Walter Bräuer.
"Para o crime que ele (FHC) está cometendo contra o país, sua pena devia ser o fuzilamento", disse Bolsonaro, que foi capitão do Exército, após o almoço, no dia 28 de dezembro, no Rio.
"Há um deputado que, a meu ver, a Câmara deve cuidar porque ele passou dos limites", disse FHC em entrevista ao telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, ontem de manhã.
O presidente criticou outros militares participantes do almoço que, segundo ele, "nunca foram democratas".
FHC também disse na entrevista que gostaria de manter a cotação do dólar entre R$ 1,75 e R$ 1,85. "O importante é não haver muita flutuação", afirmou.
Leia os principais trechos da entrevista:

BOLSONARO -
"Um conjunto de oficiais, a imensa maioria da reserva, se manifesta em solidariedade a ele (Bräuer). E aí, no dia seguinte, o que aconteceu? Nada. Nada. Tudo calmo. As pessoas falaram, alguns foram absolutamente inconvenientes. Há um deputado que, a meu ver, a Câmara é que devia cuidar dele e deve cuidar porque ele passou dos limites".

MILITARES -
"Os outros (militares presentes ao almoço) são senhores respeitáveis, idosos. Alguns têm um passado complicado porque nunca foram democratas. Outros, não. O que você quer que eu faça? Prenda e arrebente? (repetindo frase famosa do presidente João Baptista Figueiredo, morto em dezembro)".

ANALFABETISMO -
"Mais importante que o crescimento é o bem-estar. Os últimos dados do IBGE são contundentes. Nós hoje temos muito menos analfabetos do que nós tínhamos no passado e estamos acabando com o analfabetismo. É possível, na próxima década, acabar com o analfabetismo no Brasil de uma vez por todas".

"SUCATÃO" -
"Não tenho medo, não. Fui talvez o "último dos moicanos" a defender o "Sucatão" porque é um avião estável. Ele tem inconvenientes: é um avião antiquado, faz muito barulho, você chega no local com a cabeça zonza. Ele não está autorizado a descer em alguns aeroportos, consome muito combustível e é um avião caro de manutenção".

ACIDENTE -
"Houve realmente um acidente. Falei com o vice-presidente, Marco Maciel, e ele me disse que viu fogo e não sei o que. A Aeronáutica não é inconsequente, eles sabem quando a coisa é segura. A decisão de trocar de avião diz respeito a essas características que eu mencionei. Agora, que avião vai comprar eu não sei nem quero saber. Essa é uma decisão que a Aeronáutica vai tomar. Vejo todo mundo falando mal do "Sucatão", eu fui defensor. Agora, é um avião antiquado mesmo, caro".

PARLAMENTARISMO -
"O que está em jogo agora é a reforma de partidos. O meu partido, o PSDB, é parlamentarista. Eu votei pelo parlamentarismo. Houve uma decisão popular contra e isso não pode ser esquecido. Agora, para que nós possamos mais tarde imaginar um regime parlamentarista, temos que ter partidos. Há medidas no Congresso, e eu as apóio, que fortalecem os partidos, dão mais fidelidade, não permitem mais legendas de aluguel. Isso deve ser feito, eu vou apoiar e acredito que o Congresso fará ainda este ano".

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA -
"Ainda em janeiro vou promulgar algumas medidas com o ministro (Francisco) Dornelles (Trabalho) muito importantes. Por exemplo: aquilo que você acorda, o acordado através de medidas coletivas, com os sindicatos, tem que prevalecer sobre o que for decidido, julgado".

PROMESSA DE CAMPANHA -
(Resposta a pergunta sobre a promessa de crescimento econômico em 1999 realizada durante a campanha presidencial de 1998) "Na campanha nós estávamos em plena crise da Rússia, então era difícil imaginar que de repente isso pudesse virar. Ninguém tem bola de cristal em economia. Tenho confiança que 2000 vai ser um ano muito bom".

DECISÕES CORAJOSAS -
"Não depende de mim. A falta de coragem eu nunca tive. Mandei leis muito audaciosas, mas dependem de negociações".

BASE PARLAMENTAR -
"Nunca no Brasil durante tantos anos houve uma base que votasse tão favoravelmente ao governo sem que haja violência, sem que haja caudilhismo. De modo que estamos fazendo muitas transformações num clima de respeito institucional com uma base heterogênea, com uma base que muitas vezes vota naquilo que ela não acredita muito".


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