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ANÁLISE
Programa de governo espelha contradição do PT
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao exortar os radicais do PT a
relerem o programa de governo
de Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, corre o risco de também
tirar do esquecimento um papelório com idéias e compromissos
já sepultados pelos moderados de
seu partido.
O que a leitura do programa petista acaba por revelar, de fato, é a
trajetória de um grupo político
que, diante da perspectiva de finalmente chegar ao poder, sentiu-se obrigado a remendar às
pressas seu pensamento, sem
tempo hábil para maiores debates
internos nem para reescrever as
propostas anteriores.
O resultado são 23 documentos,
com 683 páginas no total, todos
expostos lado a lado no endereço
eletrônico em que Lula apresenta
seu programa (www.lula.org.br/obrasil/documentos.asp). Ali, trechos que encheriam de orgulho a
senadora Heloísa Helena convivem com passagens dignas do ex-ministro Pedro Malan.
Se cada texto viesse acompanhado da data em que foi produzido, a confusão -a dos eleitores,
pelo menos- seria menor. Seria
possível perceber que, mesmo
com algum constrangimento, o
lado Malan do programa ganha
força à medida que se aproximam
as eleições. No entanto, as teses
Heloísa Helena não são revogadas
em nenhum momento.
Assim, pode-se ler, em "Concepção e Diretrizes do Programa
de Governo do PT para o País", de
dezembro de 2001, a proposta de
"denunciar do ponto de vista político e jurídico o acordo atual
com o FMI [Fundo Monetário Internacional]"; já na "Carta ao Povo Brasileiro", de junho de 2002, o
partido prega o respeito aos contratos do país.
Num local, promete-se um salário mínimo de US$ 100 (R$ 357,
de acordo com a cotação de ontem); noutro, fala-se em dobrar o
poder de compra do mínimo, em
moeda nacional.
Documentos sobre educação,
saúde, reforma agrária, habitação
e geração de empregos e de energia elétrica implicam gastos incompatíveis com as atuais restrições do Orçamento.
No documento-síntese do programa, há uma tentativa de conciliação entre promessa e realidade
quando se prevê um período de
"transição para o novo modelo",
cuja duração é até hoje ignorada.
É justamente nessa transição que
cada grupo pode ler a seu modo
os textos do PT.
Os moderados do partido seguem a retórica da "Carta ao Povo
Brasileiro", que é concluída com
uma defesa de mudanças "corajosas e responsáveis".
Seis meses antes, "Concepções e
Diretrizes..." terminava de forma
mais incisiva: "Para nós, programa de governo é para valer".
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