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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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ANÁLISE

Programa de governo espelha contradição do PT

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao exortar os radicais do PT a relerem o programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, corre o risco de também tirar do esquecimento um papelório com idéias e compromissos já sepultados pelos moderados de seu partido.
O que a leitura do programa petista acaba por revelar, de fato, é a trajetória de um grupo político que, diante da perspectiva de finalmente chegar ao poder, sentiu-se obrigado a remendar às pressas seu pensamento, sem tempo hábil para maiores debates internos nem para reescrever as propostas anteriores.
O resultado são 23 documentos, com 683 páginas no total, todos expostos lado a lado no endereço eletrônico em que Lula apresenta seu programa (www.lula.org.br/obrasil/documentos.asp). Ali, trechos que encheriam de orgulho a senadora Heloísa Helena convivem com passagens dignas do ex-ministro Pedro Malan.
Se cada texto viesse acompanhado da data em que foi produzido, a confusão -a dos eleitores, pelo menos- seria menor. Seria possível perceber que, mesmo com algum constrangimento, o lado Malan do programa ganha força à medida que se aproximam as eleições. No entanto, as teses Heloísa Helena não são revogadas em nenhum momento.
Assim, pode-se ler, em "Concepção e Diretrizes do Programa de Governo do PT para o País", de dezembro de 2001, a proposta de "denunciar do ponto de vista político e jurídico o acordo atual com o FMI [Fundo Monetário Internacional]"; já na "Carta ao Povo Brasileiro", de junho de 2002, o partido prega o respeito aos contratos do país.
Num local, promete-se um salário mínimo de US$ 100 (R$ 357, de acordo com a cotação de ontem); noutro, fala-se em dobrar o poder de compra do mínimo, em moeda nacional.
Documentos sobre educação, saúde, reforma agrária, habitação e geração de empregos e de energia elétrica implicam gastos incompatíveis com as atuais restrições do Orçamento.
No documento-síntese do programa, há uma tentativa de conciliação entre promessa e realidade quando se prevê um período de "transição para o novo modelo", cuja duração é até hoje ignorada. É justamente nessa transição que cada grupo pode ler a seu modo os textos do PT.
Os moderados do partido seguem a retórica da "Carta ao Povo Brasileiro", que é concluída com uma defesa de mudanças "corajosas e responsáveis".
Seis meses antes, "Concepções e Diretrizes..." terminava de forma mais incisiva: "Para nós, programa de governo é para valer".


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