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Radicais lutam contra isolamento
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criticados pela direção do PT e
ameaçados de expulsão, deputados federais ligados à esquerda da
legenda pretendem articular com
os demais parlamentares da sigla
um documento de apoio às posições dos chamados radicais.
Com a idéia, esperam sair da defensiva e demonstrar que as críticas feitas ao governo federal pela
condução da política econômica
não partem apenas da esquerda.
"O que estamos defendendo são
as resoluções do PT aprovadas no
Encontro [instância máxima da
sigla] de 2001. Não estamos defendendo a nossa política, que foi minoritária [na época], mas o que o
grupo majoritário do [José] Genoino e do [José] Dirceu aprovou", afirmou a deputada Luciana Genro, filha de Tarso Genro,
secretário de Desenvolvimento
Econômico e Social.
"Talvez o ministro tenha se esquecido das resoluções", ironizou
ela, referindo-se à declaração de
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
de que os radicais deveriam reler
o programa de governo petista.
Segundo a deputada -autora
da proposta de formulação do documento e uma das integrantes da
lista de parlamentares que o ministro José Dirceu (Casa Civil)
gostaria de ver fora da legenda-,
a reunião entre Palocci e a bancada na semana passada demonstrou que as críticas não têm sido
feitas somente pela esquerda.
De acordo com Luciana, dos
dez deputados sorteados para as
perguntas ao ministro, oito fizeram intervenções críticas. "E não
eram todos da esquerda. Não
adianta colocar a faca no pescoço
de alguns, quando o questionamento vem de vários setores."
Também ameaçado por Dirceu,
o deputado Lindberg Farias (RJ)
concorda. "A gente vê hoje, claramente, a continuidade do modelo
neoliberal. Há muitos parlamentares insatisfeitos com isso, não só
os mais à esquerda. Há mesmo
gente dentro do governo que é
contra, por exemplo, a autonomia
do Banco Central", declarou ele.
Luciana, que considerou "impensável" a possibilidade de deixar a legenda, disse ainda que o
governo do PT está "acelerando o
passo" da política implementada
por Fernando Henrique Cardoso.
"Queremos defender o partido
e ajudar o governo a acertar. Mas
isso não significa ter uma subserviência cega. Significa defender as
resoluções do partido", afirmou
ela, que também reclamou da falta de diálogo dentro da sigla.
"Não é possível quererem impor um pensamento único dentro
do partido. Não é possível que tenhamos que nos calar. Mas as falas estão indo nesse sentido."
O protesto foi ratificado pelo
deputado Babá (PA), que comparou os métodos petistas aos praticados por Joseph Stalin. "O stalinismo já caiu há muito tempo. O
modelo de socialismo da União
Soviética não deu certo pela falta
de liberdade de expressão."
Embora demonstrem preocupação diante das ameaças, parlamentares mencionados como
passíveis de expulsão afirmam
que o gesto tem caráter apenas
"intimidatório" e que a medida
não encontraria respaldo no estatuto e na história do PT.
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