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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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Radicais lutam contra isolamento

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Criticados pela direção do PT e ameaçados de expulsão, deputados federais ligados à esquerda da legenda pretendem articular com os demais parlamentares da sigla um documento de apoio às posições dos chamados radicais.
Com a idéia, esperam sair da defensiva e demonstrar que as críticas feitas ao governo federal pela condução da política econômica não partem apenas da esquerda.
"O que estamos defendendo são as resoluções do PT aprovadas no Encontro [instância máxima da sigla] de 2001. Não estamos defendendo a nossa política, que foi minoritária [na época], mas o que o grupo majoritário do [José] Genoino e do [José] Dirceu aprovou", afirmou a deputada Luciana Genro, filha de Tarso Genro, secretário de Desenvolvimento Econômico e Social.
"Talvez o ministro tenha se esquecido das resoluções", ironizou ela, referindo-se à declaração de Antonio Palocci Filho (Fazenda) de que os radicais deveriam reler o programa de governo petista.
Segundo a deputada -autora da proposta de formulação do documento e uma das integrantes da lista de parlamentares que o ministro José Dirceu (Casa Civil) gostaria de ver fora da legenda-, a reunião entre Palocci e a bancada na semana passada demonstrou que as críticas não têm sido feitas somente pela esquerda.
De acordo com Luciana, dos dez deputados sorteados para as perguntas ao ministro, oito fizeram intervenções críticas. "E não eram todos da esquerda. Não adianta colocar a faca no pescoço de alguns, quando o questionamento vem de vários setores."
Também ameaçado por Dirceu, o deputado Lindberg Farias (RJ) concorda. "A gente vê hoje, claramente, a continuidade do modelo neoliberal. Há muitos parlamentares insatisfeitos com isso, não só os mais à esquerda. Há mesmo gente dentro do governo que é contra, por exemplo, a autonomia do Banco Central", declarou ele.
Luciana, que considerou "impensável" a possibilidade de deixar a legenda, disse ainda que o governo do PT está "acelerando o passo" da política implementada por Fernando Henrique Cardoso.
"Queremos defender o partido e ajudar o governo a acertar. Mas isso não significa ter uma subserviência cega. Significa defender as resoluções do partido", afirmou ela, que também reclamou da falta de diálogo dentro da sigla.
"Não é possível quererem impor um pensamento único dentro do partido. Não é possível que tenhamos que nos calar. Mas as falas estão indo nesse sentido."
O protesto foi ratificado pelo deputado Babá (PA), que comparou os métodos petistas aos praticados por Joseph Stalin. "O stalinismo já caiu há muito tempo. O modelo de socialismo da União Soviética não deu certo pela falta de liberdade de expressão."
Embora demonstrem preocupação diante das ameaças, parlamentares mencionados como passíveis de expulsão afirmam que o gesto tem caráter apenas "intimidatório" e que a medida não encontraria respaldo no estatuto e na história do PT.


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