São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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INQUÉRITO

Ex-ministro é acusado de comandar "mensalão"

Depois de oito meses, Polícia Federal ainda não tem provas contra Dirceu

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de investigar por oito meses o esquema do "mensalão", Ministério Público e Polícia Federal ainda não têm provas de que o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) tenha usado o cargo em benefício de negócios intermediados pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Por ora, o que existem contra Dirceu são depoimentos -considerados tecnicamente como provas testemunhais- que o apontam como um líder partidário máximo, comandante inconteste do governo petista, consciente e conivente com um esquema de distribuição de dinheiro a parlamentares petistas e da base aliada.
Também seriam do conhecimento de Dirceu as fontes que alimentariam o caixa dois movimentado pelo "valerioduto": pedágio sobre negócios em estatais, contratos superfaturados ou empréstimos tomados por Valério e distribuídos sob orientação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Dirceu foi presidente do partido e trabalhou na coordenação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Há evidências de que o PT tenha utilizado recursos não-contabilizados para pagar as despesas da campanha. O publicitário Duda Mendonça, por exemplo, já reconheceu ter recebido parte do pagamento de serviços prestados naquele ano por meio de uma conta fora do país.
Por um conjunto de fatores, em relatório parcial ainda não votado, a CPI dos Correios aponta o ex-ministro como o mentor do "mensalão". Não há, no entanto, um ato de ofício, um despacho assinado por Dirceu, que mostre um eventual uso do cargo em troca do qual os interessados tenham feito qualquer pagamento.
Quando ministro, Dirceu recebeu em seu gabinete no Planalto executivos do BMG e do Rural, bancos que concederam empréstimos a Marcos Valério. O dinheiro tomado -no valor principal de R$ 63 milhões, segundo a CPI dos Correios- ia para o PT.
Dirceu nega todas as acusações, a começar da que estaria ciente do esquema. Atribui a responsabilidade pela relação PT-Valério à antiga cúpula do partido.
Diz, ainda, não saber que sua] ex-mulher Maria Angela Saragoça havia sido contratada pelo banco BMG, em São Paulo, e que tomara um empréstimo com o Rural para viabilizar uma transação imobiliária, na qual também houve a participação de Rogério Tolentino, sócio de Valério.
Cassado em novembro, Dirceu lutou o quanto pôde contra a punição, que o tornou inelegível até 2015.


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