São Paulo, quarta, 5 de fevereiro de 1997.

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PERSONALIDADE
Escritor teve enfarte em seu apartamento em Nova York; corpo será enterrado na sexta-feira no Rio
Morre aos 66 o jornalista Paulo Francis

CLÁUDIA TREVISAN
de Nova York

O jornalista e escritor Paulo Francis, 66, morreu ontem em Nova York às 6h25 (9h25 em Brasília) depois de sofrer um enfarte.
O corpo de Paulo Francis deve ser enterrado na sexta-feira à tarde ou no sábado de manhã, no cemitério São João Batista (Botafogo, zona sul do Rio), de acordo com as informações fornecidas por Lúcia Nolasco, sua cunhada.
No mesmo cemitério, já estão enterrados os pais de Francis. Na quinta-feira, haverá um velório em Nova York, das 11h às 14h, na casa funerária Krtil.
A mulher de Francis, Sônia Nolasco, ouviu o jornalista reclamar de dores por volta das 6h. Ele estava trabalhando no andar inferior do dúplex onde vivia. Sônia estava no andar superior.
Francis disse que sentia dores no ombro esquerdo e que estava com dificuldade para respirar. Sônia chamou o serviço médico de emergência de Nova York.
Quando os paramédicos chegaram ao apartamento, Francis ainda estava vivo, mas respirando com muita dificuldade.
Os paramédicos tentaram reanimá-lo, sem sucesso. Francis morreu poucos minutos depois.
Velório
O corpo foi retirado do apartamento às 11h45 e levado a uma funerária no Brooklyn, onde será embalsamado e preparado para o velório de amanhã. O corpo será levado ao Brasil no vôo da Varig que sai de Nova York às 21h45.
Francis vinha sentindo dores no ombro esquerdo há alguns dias. Acreditava que se tratava de uma bursite (inflamação).
O jornalista Lucas Mendes, com quem Francis fazia o programa "Manhattan Conection", da GNT, disse que ele reclamou de dores na sexta-feira pela manhã, antes da gravação do programa.
No mesmo dia, Francis tomou uma injeção para dor receitada por seu médico, Jesus Cheda.
Anteontem, Francis trabalhou normalmente. Por volta das 15h, foi até o escritório da Rede Globo gravar sua coluna diária para o "Jornal da Globo". Segundo funcionários da emissora, ele estava bem-humorado e falante.
No fim do dia, voltou a reclamar de dores no ombro. À noite, Francis jantou com Sônia em um restaurante chinês perto de sua casa e marcou um almoço para ontem com o amigo Roberto Moritz.
Melhor momento
As pessoas que estiveram ou conversaram com Francis nos últimos dias disseram que ele estava muito bem, apesar de eventualmente reclamar da dor no ombro.
Na opinião de Lucas Mendes e Caio Blinder -outro companheiro do "Manhattan Conection"- Francis estava em um dos melhores momentos de sua vida.
Lucas Mendes foi uma das poucas pessoas que puderam entrar na casa de Francis na manhã de ontem. Ele e Dario Campos, funcionário do consulado brasileiro em Nova York, ajudaram Sônia nos procedimentos burocráticos.
O cônsul do Brasil em Nova York, Marcus de Vincenzi, chegou ao apartamento às 11h15.
O corpo de Francis foi liberado depois de ser examinado por um médico do Escritório de Exames Médicos de Nova York (equivalente ao Instituo de Medicina Legal brasileiro) e pelo médico Alvin Freymen, que há anos trabalha para o consulado brasileiro.
Segundo Mendes, várias pessoas ligaram para Sônia durante a manhã, entre elas o presidente FHC, o governador do Rio Grande do Sul, Antonio Britto, e o senador Eduardo Suplicy.
"É uma tremenda tragédia", disse Mendes, que era uma das pessoas mais próximas de Francis em Nova York. "Com aquelas contradições, aqueles disparates, ele era brilhante e dava vitalidade, despertava a inteligência das pessoas", acrescentou.
Os amigos de Francis faziam questão de falar da diferença entre a imagem pública do jornalista -muitas vezes agressiva- e seu comportamento na intimidade.
Livros inéditos
O jornalista Paulo Francis preparava um romance histórico sobre o período de Getúlio Vargas na história política do país.
Segundo o editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, o livro receberia o nome de "O Homem que Inventou o Brasil".
Além desse trabalho, Francis preparava "Cabeça", a terceira parte da trilogia "Cabeça de Papel" e "Cabeça de Negro".
Schwarcz disse ainda à Folha que, em janeiro, o jornalista lhe disse que tinha a intenção de escrever um livro de contos, com narrativas bem curtas.
Paulo Francis publicou dois livros pela Companhia: "Trinta Anos Esta Noite - 1964: O Que Vi e Vivi" (1994, 30 mil exemplares vendidos) e "Waal - Dicionário da Corte de Paulo Francis" (1996, 10 mil exemplares).
Médico
Para o jornalista Nelson Motta, amigo de Paulo Francis há 20 anos e seu colega no "Manhattan Connection", a última edição do programa, gravada na sexta-feira passada, foi "a mais engraçada".
Antes do início do programa, relatou o jornalista, Francis queixou-se de uma dor no braço. "Ele achava que era bursite e eu até recomendei que ele fosse ao meu acupunturista, mas o Francis não acreditava em nada disso."
No mesmo dia, Francis se consultou em Nova York com seu médico particular, Jesus Cheda. Segundo relato feito à família da viúva, Sônia Nolasco, Cheda teria aplicado uma injeção para a dor que Francis sentia no ombro.
"O dr. Cheda até costumava brincar, dizendo que ele (Francis) tinha um colesterol de ouro", disse Lúcia Nolasco, irmã de Sônia.
De acordo com ela, Cheda teria ficado chocado com a morte de Francis. Procurado pela Folha em sua casa e em seu consultório no Rio, Cheda não foi localizado. Segundo um funcionário, ele estaria em viagem a São Paulo.


Colaborou Reportagem Local e Sucursal do Rio
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