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Jornalista desprovincianizou linguagem da imprensa
MATINAS SUZUKI JR.
Do Conselho Editorial
Paulo Francis foi o grande
revolucionário do jornalismo
brasileiro da segunda metade
deste século.
``Senhor'', que ele editou, é
ainda a nossa melhor revista.
No final dos 60, no ``Pasquim'', passou a escrever, semanalmente, a mais importante coluna de reflexão política e de discussão cultural da
imprensa brasileira.
Depois, quando, em 1975,
passou para a chamada imprensa ``burguesa'' nas páginas
da Folha, com o seu texto mais
pessoal, antecipou em pelo menos uma década o que se aponta hoje como uma das possíveis
soluções para o impasse do jornalismo atual.
A marca da individualidade
no mundo da notícia foi levada por Francis inclusive para o
lugar onde o método se sobrepõe à pessoa por excelência,
para a televisão.
Referências intelectuais
Paulo Francis desprovincianizou
o jornalismo brasileiro, em vários
aspectos. Em primeiro lugar,
quando elevou o nível da discussão e o repertório das referências
intelectuais.
Em segundo lugar, geograficamente, quando aproximou Nova
York, a capital do século 20, do leitor brasileiro.
Hoje Nova York fica ali na esquina, mas, em grande parte, quem
reduziu essa distância foi ele,
Francis.
Em dois outros sentidos, ele deixou os jornais brasileiros menos
provincianos.
Na linguagem, que desencaretou, abolindo a pompa e abrigando a gíria, as expressões coloquiais, mesmo quando falava dos
assuntos considerados mais ``sérios''.
Na franqueza, em uma certa
agressividade que, propositalmente, contrastava com a falsa cordialidade que marca as relações públicas na nossa pequena vida cultural.
Uma das suas técnicas, que exercitava como ninguém, era colocar-se quase sempre no ângulo de
visão oposto ao da maioria -uma
maneira que encontrava para ampliar os limites do debate.
Ele foi o responsável por despertar a paixão pelo jornalismo em
grande parte dos quadros que hoje
estão nos postos chaves da imprensa no país.
Sua força na vida cultural brasileira pode ser medida pelo prestígio alcançado por uma simples
mesa-redonda para um canal de
TV a cabo, que virou uma espécie
de programa ``cult'' das noites de
domingo.
Toda o seu repertório informativo, usado de uma maneira muito
pessoal, provocativa, pode ser visto na série de notáveis entrevistas
com escritores de peso internacional que realizou para o ``Globo
News''.
Paulo Francis foi violento com
tantas pessoas, algumas vezes de
uma agressividade que era difícil
compreender, difícil de administrar.
Toda essa agressividade vinha de
uma impaciência de um para sempre auto-exilado que queria a modernização brasileira a qualquer
custo -mesmo pagando um alto
preço pessoal, e ele tinha, como
poucos, a coragem necessária para
pagar esse preço.
Ao contrário da sua imagem pública, Paulo Francis era uma pessoa extremamente generosa -e
há, pelo menos, algumas dezenas
de jovens jornalistas no Brasil que
experimentaram essa generosidade.
Com os amigos, era o mais gentil, o mais amável, o mais atencioso, o mais disponível.
Uma das maiores angústias da
sua vida foi a saída da Folha. Ultimamente, demonstrava haver superado a crise com o jornal. Eu alimentava a esperança de algum dia
poder ajudar na sua volta à Folha.
Esse, como tantos outros projetos, fica irremediavelmente revogado com a sua morte tão apressada.
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