São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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Empresário movimentou 5 vezes mais do que declarou

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Investigado pela Receita Federal, em 1998 o empresário e ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira movimentou em conta corrente, conforme dados da CPMF (o imposto do cheque), cinco vezes mais do que o valor total de rendimentos que declarou ao fisco naquele ano.
Ao todo, entre lucros e dividendos de suas empresas (R$ 812,2 mil), rendimentos do BB (R$ 104,3 mil) e de tributação exclusiva (R$ 439,34 mil), entre outras fontes menos representativas, Ricardo Sérgio declarou um total de receitas de R$ 1,39 milhão.
Nos quase quatro anos em que ficou na diretoria da área internacional do Banco do Brasil -entre 95 e 98-, o grande impulso para o aumento do patrimônio do empresário não foram as receitas públicas, mas as de suas atividades privadas, boa parte delas nos mercados financeiro e imobiliário com a corretora RMC e com o escritório de consultoria Planefin.
Em 95, segundo a revista "Veja", o patrimônio de Ricardo Sérgio era de R$ 1,4 milhão. Na declaração de renda do empresário, que consta de processo judicial em tramitação por conta da investigação fiscal, em 98, esse número passou para R$ R$ 3,2 milhões -26% a mais do que em 97.
O fisco intimou o empresário a apresentar "extratos bancários [..." de todas as contas mantidas junto a instituições financeiras no Brasil e no exterior, referentes ao período de janeiro de 98 e dezembro de 99". Ele conseguiu liminar que, por ora, lhe garante o direito a manter tais dados sob sigilo.
Em 98, o empresário compra apartamento nos Jardins, em São Paulo, declarado por R$ 700 mil e avaliado no mercado por R$ 1 milhão. Também nesse ano declara um empréstimo de R$ 27.500,00 à empresa Planefin. No informe ao fisco de 99 a Planefin recebe do empresário outros R$ 900 mil.
Maior que o crescimento patrimonial de Ricardo Sérgio é o aumento do volume de receitas trabalhadas por sua corretora, a RMC. Pelo que foi declarado ao fisco, o montante foi de R$ 4,2 milhões em 97 para R$ 12,2 milhões em 98 e R$ 21,9 milhões em 99.
Destaque entre as operadoras de contratos na Bolsa de Mercadorias & Futuros, a RMC acabou sendo alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários.
Exemplo dos negócios lucrativos de Ricardo Sérgio no ramo imobiliário foi a compra de um prédio, na avenida Sete de Setembro, no Rio de Janeiro, que pertencia à Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.
O empresário usou a Planefin para fazer o negócio, do qual participou a Consultatum, empresa de seu amigo Ronaldo de Souza. A Petros aprovou a venda do prédio em março de 99. O negócio foi firmado em cartório em junho: R$ 3,55 milhões, com entrada de R$ 600 mil, cinco parcelas anuais de R$ 590 mil, com juros de 12% ao ano e correção pelo IGP-M.
Dois meses depois, com as mesmas condições de juros e correção, Planefin e Consultatum compram o segundo prédio da Petros, dessa vez em Belo Horizonte. O negócio saiu por R$ 7,5 milhões: entrada de R$ 750 mil, duas parcelas semestrais de R$ 750 mil e cinco anuais de R$ 1.050 mil.
Exemplos com esses alavancaram o volume de negócios da Planefin de R$ 56.160 em 96, para R$ 978.578 em 99 até chegar a R$ 2,86 milhões em 2000. Os dados constam nas declarações enviadas pela empresa à Receita Federal.



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