São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Pesquisa qualitativa mostra que eleitor ignora trajetória política e associa candidato a Patrícia Pillar

Ciro Gomes é, antes de tudo, "o namorado"

Patricia Santos - 29.abr.02/Folha Imagem
Ciro Gomes e sua namorada Patrícia Pillar, durante evento promovido pela Força Sindical em SP


RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ciro Gomes, 44, foi deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda. Está em sua segunda disputa pela Presidência da República. Essas informações, contudo, são ignoradas pela maioria do eleitorado, para quem o pré-candidato do PPS é antes de tudo o namorado de Patrícia Pillar, 38.
É o que mostra pesquisa qualitativa encomendada ao instituto Vox Populi pelo PTB, um dos partidos que apóiam Ciro.
Esse gênero de levantamento não apura percentuais de intenção de voto. Destina-se a investigar, de forma mais aprofundada, percepções do eleitor sobre o país e os candidatos (leia texto explicativo nesta página).
"Primeira associação espontânea", segundo o relatório da pesquisa, que os entrevistados estabelecem diante do nome de Ciro, Patrícia está no centro de duas avaliações a respeito dele recorrentes nos grupos de discussão.
A primeira, disseminada no conjunto dos participantes mas especialmente forte entre as mulheres, atribui qualificações como "companheiro", "solidário" e "amoroso" ao pré-candidato por ter se afastado da campanha para ficar ao lado da namorada no final do ano passado, quando ela recebeu um diagnóstico de câncer de mama.
Tal percepção "o humaniza e agrega a sua imagem valores positivos", afirma o relatório.
A segunda avaliação não é tão simpática. Embora respeitem o comportamento de Ciro, alguns entrevistados dizem que ele estaria excessivamente ocupado com assuntos pessoais, deixando a eleição em segundo plano.
Para eles, a opção indicaria que o ex-ministro "não faz questão de vencer" e que sua campanha "não deve ser levada a sério".
Descontado o fator Patrícia, segue o relatório, "predomina o total desconhecimento de trajetória, idéias e ações" de Ciro.
Com a possível exceção de Lula (PT), que concorre pela quarta vez, todos os postulantes enfrentam, no atual estágio da corrida presidencial, algum grau de desconhecimento de suas biografias.
Não é à toa que, no primeiro programa de televisão de José Serra (PSDB), boa parte dos 20 minutos foi utilizada para informar o que ele fez antes de ser ministro da Saúde.
Com exibição marcada para amanhã, a nova rodada de inserções abordará outros temas, mas deverá repisar a atuação do tucano no Congresso Nacional e na economia.
"No caso de Ciro, contribui para o problema a distância no tempo de sua última função pública", declara Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi. A passagem de Ciro Gomes pelo Ministério da Fazenda ocorreu no segundo semestre de 1994.

Depois do sumiço
Com base em dados mais recentes, Coimbra ressalva que o diagnóstico de "sumiço" de Ciro, traçado na pesquisa de março, já deve ter sofrido alguma alteração.
Ele lembra o crescimento, em semanas recentes, do noticiário sobre as ameaças de dissolução da frente que reúne PPS, PTB e PDT em torno do pré-candidato, quarto colocado nos levantamentos de intenção de voto.
Para Einhart Jacome da Paz, publicitário responsável pela campanha de Ciro, "não é por culpa das campanhas que biografias e propostas só ganham espaço no horário eleitoral gratuito". Se o público desconhece o passado dos candidatos, argumenta Paz, "também é porque parte da imprensa só trata de espetáculo".
Patrícia Pillar, 38, chama atenção por onde passa. Atriz do primeiro time da Rede Globo, sua presença na mídia já era grande antes do problema de saúde. Aumentou com a decisão de enfrentá-lo publicamente.
Sua participação na campanha cresce dia a dia. Há pouco mais de uma semana, estreou na organização de eventos reunindo artistas para ouvir Ciro no Rio.
No domingo passado, teve seu nome aclamado em um ato realizado pela Força Sindical em Guarulhos. Detalhe: ela não estava lá.
No dia seguinte, Patrícia sentou-se ao lado dele no encontro com presidenciáveis promovido por Força e Bovespa. Ao começar a falar, Ciro apresentou-a e esclareceu que a namorada vem se submetendo a quimioterapia. Ela foi bastante aplaudida.

O "uso" da doença
Para Mauro Francisco Paulino, diretor-geral do Datafolha, o fator Patrícia pode ajudar Ciro -pai de três filhos, de seu primeiro casamento- pela óbvia empatia despertada pela atriz, mas também pode atrapalhar, "se surgir a percepção de que a doença dela está sendo usada na campanha".
Não se trata disso, diz o publicitário de Ciro. "O que importa é o trabalho de militância da Patrícia, e ele é só um dos fatores a favor do Ciro", afirma Paz. "Outros vão se fixar à medida que pudermos mostrá-los ao eleitor."



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