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ELEIÇÕES 2006 / PUBLICIDADE
Patrocínio no Carnaval expõe Nossa Caixa
Banco pagou R$ 1,5 milhão à Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo; processo foi aprovado em 24 horas
Escola beneficiada tinha o governo de Geraldo Alckmin como tema; corregedor da Assembléia suspeita de uso indevido de verba pública
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cem funcionários da Nossa
Caixa desfilaram no Carnaval
de 2006 em São Paulo com fantasias doadas pela escola de
samba Leandro de Itaquera. Na
passarela, eles ajudaram a engrossar o coro do samba-enredo sobre as obras do rio Tietê,
uma exaltação ao pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
A Nossa Caixa pagou R$ 1,5
milhão à Liga Independente
das Escolas de Samba de São
Paulo, a título de patrocínio do
Carnaval neste ano. Esse gasto
supera o investimento de R$ 1,2
milhão com a nova campanha
publicitária para divulgar os resultados do banco em 2005.
Na sexta-feira, o deputado-corregedor da Assembléia paulista, Romeu Tuma Júnior
(PMDB), requereu ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo
César Pinho, a abertura de investigação para apurar a suspeita de improbidade (liberação de verba pública sem a estrita observância das normas).
O patrocínio do banco foi aprovado em 24 horas. A Nossa Caixa afirma não saber o valor repassado à Leandro de Itaquera.
Como o presidente dessa escola, Leandro Alves Martins, é
filiado ao PSDB, Tuma quer saber se a Liga repassou dinheiro
público para promoção pessoal
de Alckmin.
Um carro alegórico da escola
exibiu bonecos de Alckmin e de
José Serra (à revelia do ex-prefeito, segundo o presidente da
SPTuris, Caio Luiz de Carvalho). "Há fortes indícios de
montagem, de uma orgia administrativa", afirmou Tuma.
A Nossa Caixa alegou que
"não tem mais nada a informar,
além do que consta dos detalhados esclarecimentos já prestados à Assembléia Legislativa"
Assim como a calha do rio
Tietê, a Leandro de Itaquera foi
rebaixada de grupo com o enredo que homenageava a vitrine
eleitoral do ex-governador. Em
fevereiro, o carnavalesco da escola, Anderson Paulino, disse à
Folha que o enredo foi "pedido" de Alckmin. O presidente
Leandro negou.
Tramitação acelerada
Depois de recusar uma primeira proposta da Liga, que pedira apoio de R$ 2 milhões, a
Nossa Caixa aprovou o patrocínio nas vésperas do Carnaval.
O pacote incluía camarote
VIP para 350 convidados, "alimentação, catraca, traslado e
segurança", além de fornecimento de 4.650 ingressos de arquibancada para os dias de desfile. A Nossa Caixa teria "menções sonoras" durante o desfile
e ampla veiculação do logotipo.
Em 20 de fevereiro, a gerente
de marketing, Marly Martins,
enviou solicitação da Liga à
Presidência do banco, sob o argumento de que o Carnaval
paulistano "tem se profissionalizado, tornando-se independente do poder público". Ela
apontou os "ganhos inquestionáveis à imagem do banco".
Naquele mesmo dia, o presidente Carlos Eduardo Monteiro submeteu o pedido à diretoria executiva. A diretoria jurídica emitiu parecer favorável na
mesma data, afirmando que "o
patrocínio encontra amparo no
ordenamento jurídico pátrio".
No dia 23 de fevereiro, foi assinado o contrato, e a Liga forneceu um recibo, com a mesma
data, correspondente à parcela
de R$ 600 mil. Uma segunda
parcela, de R$ 500 mil, seria paga em 2 de março (não foi enviada à Assembléia a comprovação do terceiro pagamento,
de R$ 400 mil, em 4 de abril).
Segundo Tuma observou em
seu pedido, essa antecipação de
73,33% do total da verba para
uma associação privada afronta
o Decreto 43.914, de 1999, que
determina que "o prazo de vencimento das obrigações contratuais deverá ser de 30 dias".
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