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DIPLOMACIA
Brasil pune embaixador por criticar o país em entrevista à BBC
Após deixar Opaq, Bustani perde posto em Londres
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de ser destituído da direção geral da Opaq (Organização
para a Proscrição das Armas Químicas) pelos Estados Unidos, o
embaixador brasileiro José Maurício Bustani está sendo novamente punido: ontem, o Itamaraty suspendeu seu posto provisório e o chamou de volta a Brasília. A decisão foi tomada numa
conversa entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro das Relações Exteriores,
Celso Lafer, no Palácio do Planalto, terça-feira, dia da comemoração do pentacampeonato mundial de futebol.
Bustani, que vinha ocupando
provisoriamente o posto de cônsul-geral do Brasil em Londres, foi
informado ontem, friamente, por
um telegrama. O argumento foi
"quebra de confiança", por causa
de entrevista que ele concedeu à
agência de notícias BBC, criticando simultaneamente os EUA e o
Brasil por seu afastamento da
Opaq. Conforme a Folha apurou,
FHC e Lafer concluíram que, se o
embaixador declarou à imprensa
internacional que não confiava no
governo brasileiro, o governo
brasileiro se dá o direito de deixar
de confiar nele. Diplomatas são
representantes do interesse do
país no exterior.
Bustani foi eleito para a direção
geral da Opaq e depois destituído,
igualmente por voto, por pressão
dos EUA. Ele alega que caiu em
desgraça por defender a inclusão
no organismo de inimigos tradicionais dos EUA, como Líbia e
Iraque. Acusa os EUA de forçar
uma guinada na Opaq para favorecer indústrias químicas.
Diante da derrota avassaladora
na votação da Opaq, o embaixador reclamou que foi abandonado pelo Brasil. Na própria entrevista à BBC, ele disse que o Itamaraty não articulou votos a favor de
sua permanência com os demais
países da América Latina. Sendo
assim, também os da África e da
Ásia lavaram as mãos.
Depois de sair da Opaq, Bustani
recebeu uma espécie de prêmio
de consolação: foi nomeado para
o Consulado Geral em Londres
interinamente, enquanto o titular,
Paulo Campos, prepara no Brasil
a próxima reunião internacional
da CPLP (a comissão dos países
de língua portuguesa).
A permanência de Bustani em
Londres estava garantida, portanto, apenas por cerca de dois meses, até a volta de Campos.
Constrangimentos
Na entrevista à BBC, que circula
em todo o mundo via internet,
Bustani se queixou inclusive dos
constrangimentos pessoais a que
teria sido submetido depois de
deixar a Opaq. Citou como exemplo o fato de ter que sair às pressas
de Haia (Holanda), onde vivia,
porque seu visto oficial de permanência estava expirando.
O Itamaraty contesta a versão,
informando que a mulher de Bustani, a também diplomata Janine
Bustani, que é conselheira, serve
em Haia. Isso significa que, independentemente do cargo de diretor da Opaq, ele tem direito a visto
diplomático na Holanda na condição de cônjuge. A última frase
de Bustani na entrevista à BBC foi
um desabafo pessoal e melancólico: "Hoje, eu me encontro sem
função, sem casa e sem destino".
A partir de ontem, a situação ficou ainda pior. Chamado de volta
ao Brasil, ele não tem mais a função provisória e encontra perspectivas nada alvissareiras de vir a
ter um bom posto na carreira diplomática a médio prazo.
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