São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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ELEIÇÕES 2002/DEBATE PRESIDENCIAL

Governo FHC é atacado por opositores e defendido só no final pelo tucano; Lula é o mais poupado e Garotinho provoca todos

Ciro e Serra travam duelo verbal na TV

Jorge Araújo/Folha Imagem
Serra (PSDB), Lula (PT), Garotinho (PSB) e Ciro (PPS) durante debate realizado ontem à noite na TV Bandeirantes, o primeiro da atual campanha à Presidência


CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O primeiro debate entre os presidenciáveis, realizado ontem à noite pela TV Bandeirantes, foi marcado pelo tiroteio verbal entre José Serra (PSDB-PMDB) e Ciro Gomes (Frente Trabalhista).
Na verdade, o tiroteio partiu mais de Serra, colocando Ciro na defensiva, a ponto de ter deixado sem resposta duas acusações de Serra de que mentira. Uma foi a de que não é fundador do PSDB, ao contrário do que diz sempre, e a outra a de que pagou antecipadamente a dívida do Ceará.
O eixo do tiroteio foi o papel de cada um deles no Plano Real. Serra culpou os 116 dias de gestão de Ciro na Fazenda de estar na origem do "lento crescimento econômico" do país, por ter aberto "precipitadamente" a economia.
Ciro respondeu que chegara ao Ministério da Fazenda atendendo apelo "patético" de Fernando Henrique Cardoso (para substituir Rubens Ricupero, que se demitira por ter sido pilhado pronunciando frases inconvenientes por uma parabólica).
Disse também que a inflação de julho (de 1994) havia sido de zero por cento, mas já estava em 3% em agosto e que o desabastecimento levaria ao colapso do Plano Real. Por isso, teve que abrir o país às importações.
Serra voltou ao ataque: "A inflação de julho daquele ano não foi zero. Foi 6,84%. Em agosto foi 1,86%, em setembro foi 1,53%".
Ciro, por sua vez, acusou Serra de não ter apoiado o Plano Real. O senador retrucou que defendera tanto o Real que se tornara o candidato do principal responsável pelo plano, o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Uma segunda marca do debate foi o fato de o governo FHC ter sido duramente criticado, o que em parte é consequência de haver três candidatos oposicionistas contra um governista.
Mesmo o governista (Serra) hesitou inicialmente em assumir sua condição, preferindo-se dizer-se candidato de seu próprio governo. Só na mensagem final, mencionou o orgulho que sentia em ser candidato de FHC.
O confronto Serra/Ciro deixou o líder em todas as pesquisas até agora, Luiz Inácio Lula da Silva, à vontade, quase como se fosse um coadjuvante, e não o alvo a ser atacado, como é a praxe quando se trata do primeiro colocado.
Até o principal temor do petista, o de ser acusado de falta de experiência e preparo, não entrou em debate. O próprio Lula resolveu usar o tema para dizer, ao final, que o problema não era de experiência, "mas de caráter e de compromisso com o povo deste país".
Anthony Garotinho (PSB), por sua vez, portou-se como franco atirador, disparando contra todos os três rivais sucessivamente, usando a sua experiência como radialista, o que o deixa à vontade em programas do gênero.
Até o choque Serra/Ciro, as perguntas giraram em torno de questões de programa de governo (emprego, Previdência, educação), temas que todos os candidatos têm praticamente decorados. Em consequência, as respostas acabaram sendo uma espécie de antecipação do horário eleitoral.
Cada candidato repetiu afirmações que tem feito em comícios e entrevistas, com razoável grau de concordância entre eles. Como era previsível, houve absoluta coincidência em torno da necessidade do crescimento da economia e da geração de emprego.
Além de discutirem sobre o Plano Real, Ciro e Serra trocaram farpas também a respeito do salário-mínimo. Serra cobrou a promessa de Ciro de levar o salário-mínimo a US$ 100 em todos os dias de seu governo. Ciro disse que o mínimo fora de US$ 100 em sua gestão no Ministério da Fazenda, quando o dólar custava R$ 0,85.
Serra contra-atacou dizendo que, na média dos 116 dias de Ciro, o mínimo fora de US$ 82.
Ciro treplicou afirmando que assumira depois do reajuste do mínimo, que se dá em maio, e acusou Serra de "desonestidade intelectual". Serra ganhou direito de resposta, para acrescentar outros dados que, segundo ele, representavam falta de "compromisso com a verdade" (a filiação ao PSDB e a dívida do Ceará).
Ciro ganhou igualmente direito de resposta, mas não contestou as duas afirmações de Serra. Preferiu dizer que não pretende "esmagar ninguém", porque está pensando "no dia seguinte". Ou seja, está pensando em um grande "pacto" de governo, para o qual, se eleito, necessitará certamente do PSDB de Serra.


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