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RETÓRICA DO PLANALTO
Presidente afirma que agora 'não há espaço para política pequena'; pefelista o compara a Hitler
"Intriga" não vai barrar progresso, diz Lula
EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva atacou ontem a oposição ao
afirmar não haver "intrigas", "futricas" e "eleição" que possam impedir o desenvolvimento do país.
Seguiu a mesma linha de discurso adotada pelo ministro José Dirceu, anteontem, que deu um cunho eleitoral às denúncias que envolvem os presidentes do Banco
Central, Henrique Meirelles, e do
Banco do Brasil, Cássio Casseb.
A expressão "futrica", dita pelo
presidente ontem pela manhã, no
Planalto, na abertura de reunião
do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, foi usada em
15 de março de 2002 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, o tucano queixou-se de "tricas e futricas" em
referência à obstrução do PFL para a aprovação da CPMF.
Aos conselheiros, Lula falou por
cerca de meia hora. Leu e improvisou o discurso. Disse que habitualmente vai às reuniões do conselho para "dar bronca", mas que
ontem estava "mais paz e amor do
que nunca". Assim como fizera
em discursos recentes, Lula voltou a falar da necessidade de os
brasileiros retomarem a "auto-estima". E atacou: "Se todos nós formos tomados desse desejo e dessa
força interior, certamente, não
haverá intriga, não haverá futrica,
não haverá eleição que possa brecar, frear o desenvolvimento que
este país precisa e deve ter".
Para Lula, com os indicadores
de produção, emprego, exportações e renda já disponíveis "podemos dizer com razoável dose de
consenso: o Brasil entrou na rota
do desenvolvimento". Anteontem, no Planalto, Dirceu afirmou
que as denúncias contra os presidentes do BC e do BB ocorreram
em razão do período eleitoral e do
"inconformismo" por parte da
oposição diante dos sinais de
avanços da economia brasileira.
No discurso, Lula aproveitou
para justificar seus atritos com
empresários e trabalhadores, setores representados no conselho:
"Muitas vezes eu tenho sido duro;
muitas vezes tenho cobrado pelos
empresários; muitas vezes tenho
sido duro com os meus companheiros trabalhadores. Mas a verdade é que não há espaço para política pequena neste momento".
Em trecho do discurso preparado por sua assessoria, Lula afirmou que o governo está "avançando cada vez mais" numa reforma agrária "tranqüila" e "pacífica" -o que não é confirmado
por números oficiais.
Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário mostram que
o governo Lula não cumpriu as
metas de assentamentos de 2003 e
do primeiro semestre deste ano e,
desde o ano passado, acumula recordes de invasões de terra. "Eu
não conheço ninguém que pense
como o presidente. Eu estou morrendo de preocupação com as seguidas ondas de invasões", afirmou Antônio Ernesto de Salvo,
presidente da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil.
Hitler
Os líderes da oposição reagiram
às afirmações do presidente de
que eles querem tirar proveito
eleitoral das acusações. "Esse rapaz [Cássio Casseb] e o [Henrique] Meirelles deveriam vir aqui
para esganar a gente. Deveriam
colocar uma barraca aqui na frente [do Senado] para limpar o nome deles, mas nesse governo tudo
é pragmatismo. Estão beirando o
cinismo", disse o senador Arthur
Virgílio (AM), líder do PSDB.
Sobre a declaração de que as
acusações não passam de "futrica", o deputado José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara, comparou Lula a Hitler. "O
presidente deveria lembrar que
futrica e intriga quem fazia era o
PT na oposição. Nós fazemos
oposição séria. Ele está usando a
mesma tática que Hitler usou para mandar eliminar sumariamente os seus adversários".
De acordo com o líder do PFL
na Câmara, "Hitler, quando assumiu o poder, começou a desenvolver a idéia de que havia conspiração contra a economia alemã;
com isso, mandou eliminar seus
adversários sumariamente, através de sua polícia secreta".
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