São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES CRUZADAS

Deputado diz que presidente não sabia de irregularidades e merece "cheque em branco"

Jefferson recua, inocenta Lula e volta a culpar Dirceu

Lula Marques/Folha Imagem
Roberto Jefferson (à esq.) fala com advogado durante depoimento à CPI do "mensalão", ontem


SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seu quarto depoimento ao Congresso sobre o suposto esquema do "mensalão", o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) fez questão de assinalar que considera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inocente em todos os casos de irregularidades que aponta no governo, procurando corrigir declarações dadas na terça-feira no Conselho de Ética da Câmara.
"Quero dizer que, se em algum momento fiz suspeitar do envolvimento do presidente Lula, quero pedir desculpas porque eu não fui claro", afirmou, referindo-se a declarações feitas no conselho, ocasião em que deu a entender que o presidente teria participado de acordo para que a Portugal Telecom fizesse aporte de recursos nos caixas do PT e do PTB.
À Folha, também na terça, ele reafirmou a história. Disse que a viagem do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o suposto "operador" do "mensalão", e do então tesoureiro do seu partido, Emerson Palmieri, a Lisboa, para negociar a operação havia sido combinada com o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), mas era de conhecimento do presidente.
Ontem, abrandou as declarações na CPI do Mensalão: "Não foi tratado disso na presença do presidente Lula. Talvez eu tenha colocado isso no plural e tenha gerado dúvida". Disse ainda: "Não fiz, na minha cabeça, nenhuma ilação de que o presidente Lula pudesse ter conhecimento disso".
Jefferson se referiu elogiosamente a Lula por diversas vezes em seu depoimento, afirmando que é estimulado por seus amigos e parentes a fazer ataques a Lula, mas que não teria "elementos para dizimar sua imagem".
"Eu daria um cheque em branco ao presidente Lula, retribuindo a confiança dele em mim", disse: "Ele é meio parecido comigo, mata no peito, não abandona os amigos na estrada, não larga cadáver". Disse acreditar que Lula assumiu uma posição de chefe de Estado, tendo delegado a administração do governo a Dirceu.
O ex-ministro, por sua vez, não foi poupado. Segundo Jefferson, o agora deputado teria tentado um acordo com a multinacional Portugal Telecom, em janeiro deste ano, para que fosse feito um aporte de R$ 24 milhões nos caixas do PT e do PTB. O acordo, segundo Jefferson, não se realizou.
O petebista repetiu ainda que Valério o procurou em março dizendo falar em nome do banco português Espírito Santo, acionista da Portugal Telecom, com a proposta de que ele, Jefferson, pressionasse o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) -presidido por um indicado no PTB- a transferir US$ 600 milhões de depósitos que tem na Inglaterra para o banco português.
A transação daria margem para que o banco atuasse em processos de reestatização de linhas de transmissão de energia com a Eletronorte -também presidida por um indicado do PTB-, o que renderia uma comissão de 3% para o PT e o PTB, algo entre R$ 90 milhões e R$ 120 milhões.
"Na primeira quinzena de janeiro (...) ele [Dirceu] falou: "Roberto, credencia alguém do PTB para que vá com alguém do PT para a empresa Portugal Telecom, é um grupo que andou nos visitando aqui, e nós fizemos uma conversa de que [o grupo] pode antecipar recursos para ajudar a fechar o caixa do PT e do PTB'", teria dito Dirceu, segundo Jefferson.
"Foi o Palmieri. O Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT] mandou Valério e Rogério Tolentino [sócio de Valério]. Foram encontrar com o presidente da [Portugal] Telecom, Miguel Horta e Costa. Voltaram de mãos vazias", disse Jefferson, que disse não saber o motivo de a suposta transação não ter sido concretizada.
Agenda da Casa Civil mostra que Valério e um representante do Banco Espírito Santo se encontraram com Dirceu 13 dias antes da viagem a Lisboa. Jefferson foi ainda irônico ao chamar Valério de "embaixador carequinha do Brasil em Portugal para assuntos da área de telecomunicações".
Segundo ele, o publicitário o procurou em março para tratar do IRB. Jefferson afirmou que a missão de Valério em Portugal passava também pela negociação entre a Varig e a TAP. A empresa européia chegou a negociar participação na Varig, sem sucesso.


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