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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES CRUZADAS
Deputado disse que ex-ministro da Secom autorizou movimentação "escandalosa" de agências de publicidade e que Dirceu não agia sozinho
Jefferson envolve Gushiken no "mensalão"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em seu depoimento à CPI do Mensalão, ontem,
adicionou mais um personagem
ao rol dos que considera responsáveis pela corrupção no governo.
Além do ex-ministro José Dirceu,
que considera o "chefe do Esquema", disse que o ex-titular da Secom Luiz Gushiken, hoje chefe do
Núcleo de Assuntos Estratégicos,
permitiu a "escandalosa" atuação
de Marcos Valério em Brasília.
Além da suposta operação envolvendo a ajuda da Portugal Telecom ao PT e PTB, Jefferson procurou isentar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de qualquer
outro envolvimento. "Na questão
do "mensalão" e de Furnas [suposto desvio de recursos para caixa
de partidos], percebi nitidamente
que ele se sentiu traído", afirmou.
O depoimento teve início às 10h34
e terminou às 23h.
"Digo que o Zé Dirceu era o chefe", repetiu por algumas vezes ao
falar sobre o suposto esquema de
pagamento de mesada no Congresso, o chamado "mensalão".
Apesar de ser o denunciante do
esquema, Jefferson admitiu que
por pelo menos três vezes foi beneficiário do dinheiro de Valério.
Para reforçar o caixa de campanha de 2004, pagar dívidas da
campanha de 2002 e para ajudar a
um assessor do partido.
Sobre Gushiken, que perdeu o
status de ministro na atual crise
política, Jefferson afirmou. "Ele
[Dirceu] não está só, o [Luiz] Gushiken está com ele com certeza.
Não conversei isso [o "mensalão']
com o ministro Gushiken, mas ele
autorizou que essa movimentação escandalosa dessas agências
existissem", afirmou. O ex-ministro chefiava a área de publicidade
do governo federal.
"Para mim passa pelo José Dirceu e pelo Gushiken, tem inteligência de governo nisso, não é um
ato isolado do José Dirceu, ele não
teria como fazer sozinho." Jefferson ressaltou, porém, como já havia afirmado antes, que Dirceu era
o líder do esquema.
Nas mais de 12 horas de depoimento, Jefferson chegou a rasgar
um jornal que continha uma acusação contra ele, que lhe fora entregue pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele disse que o PT
não quis "dividir poder com uma
burguesia que achava corrupta e
prostituta", e distribuiu ironias.
Em uma delas, disse que alimentava o desejo de que todos os
senadores e deputados cedessem
os seus mandatos aos jornalistas.
"Gostaria de nomear os jornalistas para eles tomarem conta do
país. Ia ser uma perfeição, não ia
ter um erro. Imagina: William Boner [apresentador do "Jornal Nacional'] presidente do Congresso", afirmou, arrancando risos.
Dois parlamentares perguntaram ainda ao petebista quais seriam os tais "instintos primitivos"
que Dirceu despertaria nele. "Superei. São sentimentos negativos
que rezei ontem muito para superar", disse o deputado.
Jefferson atacou ainda o Banco
Rural, afirmando que não sabia
por que o Banco Central não havia ainda feito intervenção na instituição, além de irritar deputadas
e senadoras ao lembrar um episódio envolvendo o ex-presidente
Itamar Franco (1992-1994) com
uma modelo durante um Carnaval no Rio de Janeiro.
O petebista criticou também de
forma veemente o ex-deputado
federal Valdemar Costa Neto (PL-SP), chamado de "galo mutuca
[fujão]". Sobre o ex-tesoureiro do
PL, Jacinto Lamas, ele disse: "O
pai dele teve premonição. Disse:
vai ser tesoureiro do Valdemar".
A Folha não conseguiu falar ontem com o presidente nacional do
Partido Liberal.
DINHEIRO DO PT - Jefferson assume que o PTB recebeu recursos
(R$ 1 milhão) do PT para pagar
dívidas da campanha presidencial
de 2002, quando apoiou o hoje
ministro Ciro Gomes. Assumiu
também ter recebido R$ 200 mil
para uma ajuda particular a um
motorista do PTB, mas negou que
o tesoureiro informal da legenda,
Emerson Palmieri, tenha feito saques nas contas de Valério. Sobre
os R$ 4 milhões que teria recebido
do PT para as eleições de 2004,
disse que distribuiu tudo, mas se
negou a dizer a quem. "Não tenho
condições [de devolver o dinheiro]. Eu distribuí. Só não vou dizer
para quem. Foi para coligações e
para companheiros que eram
candidatos", afirmou, dizendo
não haver entre esses nenhum deputado federal.
GALO MUTUCA - Sobre Valdemar
Costa Neto (SP), presidente do
PL, que renunciou na segunda-feira, disse: "Ele tem uma coisa similar ao Duda Mendonça. O Duda Mendonça gosta de briga de
galo. E o Valdemar na briga de galo pode ser chamado de galo mutuca [galo de briga que foge da rinha], é corredor. (...) Ele é fraco,
porque blefar em um jogo desse e
depois ter que correr da banca?
Correu; galo mutuca".
PORTUGAL TELECOM - "Guardei
para o Zé Dirceu aquilo. E ele falou até fino na hora de responder", disse o deputado sobre o suposto acordo.
VARIG-TAP - Jefferson afirma que
Marcos Valério, que teria "relações intestinais com pessoas do
primeiro escalão do governo", relatou a ele que tinha o objetivo de
negociar a venda da Varig nas visitas que teria feito a Portugal.
"Ele [Valério] intermediou negócios de transferência acionária da
Varig, reestatização de linhas de
transmissão, área de telefonia, ele
disse que faz essa intermediação
lá de telefonia, foi a Portugal se
encontrar com o presidente da
Portugal Telecom para tratar de
assuntos dessa área. Há outros aspectos, é claro que há outras fontes", acrescentou.
LULA - Além de afirmar dar um
"cheque em branco", Jefferson
sugeriu que o presidente pode ter
sido induzido a erro por confiar
em Dirceu. "Eu aposto, pela formação do presidente, operário,
que não tem aquela coisa da minúcia do contrato. Eu, que sou advogado, tenho de ler três, quatro
vezes um decreto para entender o
que está acontecendo. Pode ter sido induzido ao erro. Pode ter dito
"ô Zé, dá aqui". Assina uma pilha
de papel por dia, agenda, agenda
internacional, pode ser contaminado, mesmo que seja inocente".
Apesar disso, sobrou ironia
também para Lula: "Se o presidente Lula tomasse conta das cuecas dos assessores do PT, aí sim eu
ia romper com ele".
MINISTROS - Ele elogia Antonio
Palocci (Fazenda), Roberto Rodrigues (Agricultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Dilma Rousseff, sucessora
de Dirceu. "Tente conversar qualquer conversa dessa [sobre "mensalão"] com a Dilma e vai ver se
ela não te coloca para correr ou se
você não sai preso de lá."
PETISTAS - Jefferson disse que
não acusa a bancada do PT de
participar do "mensalão". Citou
nominalmente Paulo Rocha (PA)
e Professor Luizinho (SP). "Botar
o Luizinho com R$ 20 mil [de saque] é crueldade". Durante o depoimento, o deputado Zico Bronzeado (PT-AC) admitiu ter recebido R$ 80 mil em caixa 2 nas eleições de 2002.
BANCO DO BRASIL E BANCO SANTOS - "Me parece que [o Rural] é a
parte menor. Se for obedecida a
proporção, a lista do Banco do
Brasil é muito maior", afirmou.
Sobre o Banco Santos, disse que
lista de instituições que "micaram" é fundamental para se descobrir o destino de dinheiro desviado de fundos de pensão. Ele
afirmou também que as agências
de Valério perderam muito dinheiro naquele banco.
ITAMAR - Jefferson também atacou o ex-presidente Itamar Franco ao fazer uma comparação:
"Quem tem ética não faz marketing dela. É como se eu [digo] "sou
macho" e boto uma mulher sem
calcinha em cima de um palanque
de Carnaval para provar que é
macho. Quem é macho não precisa provar que é macho". Senadoras e deputadas reclamaram dessa
referência.
RURAL - Segundo Jefferson, o
Banco Central teria que tomar
providências contra o banco. "É
um banco amoral, que sempre
patrocina a corrupção".
RENAN CALHEIROS E SEVERINO
CAVALCANTI - Jefferson também
atacou os presidentes do Senado e
da Câmara, chamados de "frouxos". "O presidente da Câmara e
do Senado estão frouxos. Permitem que a crise deságüe aqui
quando ela é culpa do Executivo.
Ninguém teve a grandeza de estadista de defender o Legislativo. O
Poder está acocorado", afirmou.
FURNAS - Sobre o suposto desvio
de recursos da estatal para o PTB
e PT, novamente isenta Lula: "Lula acertou mudança da direção,
não divisão do dinheiro". "Essa
conversa foi tratada por mim e o
Zé Dirceu. (...) Esse detalhe dos R$
3 milhões, que R$ 1,5 milhão ficaria com o PTB e R$ 1,5 milhão ficaria com o PT, isso não foi tratado na frente do presidente Lula ou
teve conhecimento dele".
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