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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RETÓRICA DA CRISE
Presidente diz em cidade do Piauí que Getúlio contrariou interesses das elites e foi achincalhado pela imprensa ao criar a Petrobras
Lula evoca Vargas e critica elites de novo
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A FLORIANO (PI)
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva se comparou ontem ao ex-presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) ao dizer que
seus esforços em apostar no biodiesel são semelhantes ao de Vargas quando criou a Petrobras, segundo o presidente contrariando
a elite brasileira. ".
Ao inaugurar uma fábrica de
biodiesel em Floriano (a 250 quilômetros de Teresina), Lula voltou a fazer, como na véspera, um
discurso inflamado, no qual não
poupou críticas às "elites" e a seus
antecessores, por terem negligenciado o Nordeste. Anunciou, ainda, subsídios para a produção de
biodiesel da mamona.
"Estamos aqui hoje começando
o embrião que, em 1954, Getúlio
Vargas começou quando teve a
coragem, contra os interesses da
elite política brasileira, de dizer ao
Brasil que a gente ia fazer a Petrobras, e a gente iria produzir o nosso próprio petróleo. Naquele tempo, ele foi achincalhado, a imprensa da época não cansou de fazer editoriais contra a decisão de
construir a Petrobras", disse Lula
a cerca de 2.000 pessoas.
O presidente visitou quatro cidades em Pernambuco e no Piauí.
Anteontem, em Garanhuns (PE),
deu um recado aos opositores.
"Se eu for [candidato], com ódio
ou sem ódio, eles vão ter que me
engolir outra vez, porque o povo
brasileiro vai querer."
Ontem, ele fez questão de repetir que é nordestino e que é o primeiro presidente "em muitos
anos" a se preocupar com a região. O presidente usou a semente
da mamona para falar das desigualdades regionais brasileiras.
"Escolhemos a mamona porque, se a gente não escolhesse a
mamona, a gente iria ver o biodiesel sendo produzido da soja. Se
fosse produzido da soja, ia beneficiar mais uma vez a região Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e o Nordeste ia ficar abandonado." E emendou: "A mamona é como o povo
nordestino. Agüenta sol, agüenta
seca, agüenta calor, agüenta terra
ruim e não morre nunca".
Segundo Lula, a mamona é
"fonte de vida" aos nordestinos
"que como eu sabem o que é sobreviver nesta terra muitas vezes
abandonada, governada por gente do Sul ou do Sudeste do país,
que viu o Nordeste apenas como
um celeiro de pobreza ou de desgraça", disse, ovacionado.
E citou que, no passado, governantes achavam que o nordestino
"nasceu para trabalhar de servente de pedreiro". "Quando criticam os nordestinos, fico imaginando o que seria o Brasil nos primeiros três séculos de descobrimento se não fosse o Nordeste
sustentar o restante do Brasil."
Em tom de campanha, Lula fez
um balanço dos seus 31 meses de
governo. "Eu estou feliz porque,
ao terminar o meu mandato, nós
vamos provar quem investiu mais
na educação deste país", disse.
Repetiu a comparação para a
geração de empregos. Afirmou
que seu governo criou "a maior
política de saúde bucal que eu
acho que um país tem no mundo". E, ao falar para o governador
do Estado, Wellington Dias (PT),
lamentou que os dois "só têm 31
meses de governo". "Porque outros governaram 30, 40 ou 50 anos
e deixaram para nós este país pobre, país quebrado, este país com
falta de perspectiva e de futuro."
Antes da inauguração da usina,
Lula visitou um trecho da BR-230.
Descerrou uma placa ao lado do
ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e gastou cerca de
dez minutos abraçando as cerca
de 50 pessoas que o aguardavam.
Milho às galinhas
Lula afirmou que irá defender,
em suas viagens, que outros países comprem o biodiesel produzido no Brasil. Em tom jocoso, disse
que ia defender o produto ao presidente dos EUA, George W.
Bush: "Vou lá falar para o Bush,
"Bush, dá milho para as galinhas e
vai comprar o nosso biodiesel das
mamonas". Vamos na Alemanha,
que quer produzir [biodiesel] de
batatas. Não, isso é alimento para
ser humano. Vai comprar o nosso, rapaz, que é muito melhor."
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