São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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DIPLOMACIA

Chineses já anunciaram que barram proposta por causa do Japão; americanos resistem à entrada da Alemanha

China e EUA ficam contra ampliação da elite da ONU

CLÁUDIA TREVISAN
DE REPORTAGEM LOCAL

China e Estados Unidos vão unir esforços para tentar derrotar a proposta de ampliação do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) apresentada por Brasil, Índia, Japão e Alemanha, que integram o chamado G4 (Grupo dos 4).
A informação foi dada ontem em Nova York pelo embaixador da China na ONU, Wang Guangya, que definiu a estratégia em rápida reunião na terça-feira com o novo representante dos EUA junto ao organismo, John Bolton.
Os dois países decidiram se unir sob o argumento de que temem a divisão entre os membros da ONU, caso a proposta seja aprovada. A ampliação do Conselho de Segurança precisa do sinal verde de dois terços dos 191 países membros da Assembléia Geral da ONU, mas ainda que seja aprovada, poderá ser vetada por um dos cinco integrantes do Conselho de Segurança -China, Estados Unidos, França, Rússia e Inglaterra.
O país asiático já anunciou que irá barrar a proposta, caso ela seja aprovada pela Assembléia Geral. A China considera inaceitável a entrada do Japão no organismo, sob o argumento de que o país não se desculpou por atrocidades cometidas durante a invasão da China, nas décadas de 1930 e 40.
Os americanos resistem à entrada da Alemanha, país que se opôs fortemente à invasão do Iraque. Oficialmente, o governo dos EUA sustenta que não se opõe à ampliação do Conselho, mas defende que haja mais discussão.
Japão e Alemanha vêm tentando há dez anos viabilizar sua entrada no grupo. Recentemente, a proposta ganhou adesão de países em desenvolvimento, com destaque para Brasil e Índia. A proposta do G4 prevê a ampliação de 5 para 11 no número de membros permanentes do Conselho e de 10 a 14 dos não-permanentes. Para facilitar a aprovação do texto, o grupo decidiu abrir mão por 15 anos do poder de veto para os novos membros permanentes.
Os 6 novos membros permanentes seriam divididos da seguinte forma: 2 da Ásia, 2 da África, 1 da Europa e 1 da América Latina. Os autores da proposta são candidatos naturais às vagas.
A entrada no Conselho de Segurança da ONU é um dos principais pontos da política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que via a China como um de seus principais aliados nessa área.

Mais obstáculos
Além da união China-EUA, a ambição brasileira de obter um assento permanente no Conselho ganhou outro obstáculo ontem: países africanos decidiram não aceitar o acordo para um projeto conjunto de reforma com o G4.
Reunidos na capital da Etiópia, Adis Abeba, os líderes dos países africanos recusaram a proposta que havia sido oferecida pelo G4 em Londres. O principal ponto de discórdia é o poder de veto, que o G4 já concordou em abrir mão, ao menos pelos próximos 15 anos, mas que os africanos insistem em ter imediatamente. O problema é que, assim, nenhuma das duas propostas deve ser aprovada.
"Eu confirmo que estamos nos atendo à posição original de ter dois assentos permanentes com o veto", afirmou o representante da Suazilândia no encontro, segundo a agência Reuters.
O apoio maciço da União Africana, que conta com 53 dos 191 votos da Assembléia Geral, era fundamental para que a proposta fosse aprovada.
Depois de uma das reuniões entre as duas partes, em Nova York, em 17 de julho, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, declarou: "Ela terá um peso, a meu ver, praticamente decisivo".


Colaborou PEDRO DIAS LEITE, de Nova York

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