São Paulo, Quinta-feira, 05 de Agosto de 1999
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CPI DO NARCOTRÁFICO
Hildebrando Pascoal nega ter chefiado esquadrão da morte, mas disse que usou arma ilegal
Deputado admite ter cometido crimes

WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília

O deputado Hildebrando Pascoal (PFL-AC) admitiu ter cometido três crimes, ao depor na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, mas negou as principais acusações feitas contra ele, que são chefiar o esquadrão da morte no Acre e dar proteção a narcotraficantes.
Hildebrando admitiu que, quando era deputado estadual (95-98), redigiu "milhares de bilhetes", inclusive em papel higiênico, dando salvo-conduto a pessoas que alegavam estar com o IPVA atrasado ou estar com problemas em seus carros.
Alguns desses bilhetes foram encontrados em poder de pessoas presas por tráfico de drogas.
"Eu sou puro de coração, não vejo maldade nas pessoas", disse o deputado, que fez carreira na Polícia Militar do Acre, passando por todos os postos, de soldado a coronel.
Hildebrando admitiu ter usado arma ilegal (uma escopeta calibre 12), embora o cargo de coronel da Polícia Militar lhe desse direito a porte de arma.
Ele disse que a apontou "instintivamente" para policiais federais que foram à sua casa cumprir mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Eleitoral na véspera da eleição realizada no ano passado.
Em seu carro, na mesma ocasião, foram encontrados dois revólveres calibre 38, também ilegais, usados por dois policiais militares que trabalhavam ilegalmente em sua campanha (eram pagos pelo governo do Estado), conforme admitiu.
O depoimento de Hildebrando, suspenso depois de quase quatro horas, prossegue hoje, às 10h, na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
A CCJ analisa pedido de licença do Supremo Tribunal Federal para processá-lo por porte de arma ilegal, desacato a autoridade e resistência ao cumprimento de mandado de busca e apreensão.
O presidente da comissão, José Carlos Aleluia (PFL-BA), entretanto, deu total liberdade aos membros da CPI do Narcotráfico, que foram à CCJ interrogar Pascoal sobre todos os crimes de que é acusado.
A principal acusação é mandar matar pelo menos 40 pessoas, a maioria de modo cruel. As vítimas foram achadas com partes do corpo serradas, olhos perfurados e corpos deformados por ácido.
Em depoimento anteontem à CPI do Narcotráfico, o policial Francisco Raimundo Pessoa disse ter conhecimento de que essas mortes foram ordenadas pelo deputado, a quem acusa de chefiar um esquadrão da morte.
Para todas as acusações, a defesa foi a mesma: Pascoal disse ser vítima de uma "armação" do desembargador Gersino José da Silva, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Acre.
O desembargador nega as acusações. Ele pediu proteção à Polícia Federal depois de ter sido avisado de que sua morte havia sido tramada pelo deputado.
A explicação de Pascoal não convenceu a maioria dos presentes, principalmente os membros da CPI do Narcotráfico, que já ouviram diversos depoimentos contrários ao deputado.
O relator da CPI, Moroni Torgan (PSDB-CE), por exemplo, disse que não acredita que Gersino José da Silva dedicasse sua vida a uma campanha contra Pascoal, pelo simples fato de ter perdido uma gratificação de R$ 2.000.
O relator do pedido de licença na CCJ, Inaldo Leitão, deverá dar parecer favorável à licença, embora a tradição da Câmara seja negar autorização para processos judiciais contra deputados.
O parecer de Leitão será votado na próxima quarta-feira e enviado ao plenário, a quem cabe a decisão final.


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