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CPI DO NARCOTRÁFICO
Hildebrando Pascoal nega ter chefiado esquadrão da morte, mas disse que usou arma ilegal
Deputado admite ter cometido crimes
WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília
O deputado Hildebrando Pascoal (PFL-AC) admitiu ter cometido três crimes, ao depor na Comissão de Constituição e Justiça
da Câmara, mas negou as principais acusações feitas contra ele,
que são chefiar o esquadrão da
morte no Acre e dar proteção a
narcotraficantes.
Hildebrando admitiu que,
quando era deputado estadual
(95-98), redigiu "milhares de bilhetes", inclusive em papel higiênico, dando salvo-conduto a pessoas que alegavam estar com o IPVA atrasado ou estar com problemas em seus carros.
Alguns desses bilhetes foram
encontrados em poder de pessoas
presas por tráfico de drogas.
"Eu sou puro de coração, não
vejo maldade nas pessoas", disse
o deputado, que fez carreira na
Polícia Militar do Acre, passando
por todos os postos, de soldado a
coronel.
Hildebrando admitiu ter usado
arma ilegal (uma escopeta calibre
12), embora o cargo de coronel da
Polícia Militar lhe desse direito a
porte de arma.
Ele disse que a apontou "instintivamente" para policiais federais
que foram à sua casa cumprir
mandado de busca e apreensão
expedido pela Justiça Eleitoral na
véspera da eleição realizada no
ano passado.
Em seu carro, na mesma ocasião, foram encontrados dois revólveres calibre 38, também ilegais, usados por dois policiais militares que trabalhavam ilegalmente em sua campanha (eram
pagos pelo governo do Estado),
conforme admitiu.
O depoimento de Hildebrando,
suspenso depois de quase quatro
horas, prossegue hoje, às 10h, na
CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça).
A CCJ analisa pedido de licença
do Supremo Tribunal Federal para processá-lo por porte de arma
ilegal, desacato a autoridade e resistência ao cumprimento de
mandado de busca e apreensão.
O presidente da comissão, José
Carlos Aleluia (PFL-BA), entretanto, deu total liberdade aos
membros da CPI do Narcotráfico,
que foram à CCJ interrogar Pascoal sobre todos os crimes de que
é acusado.
A principal acusação é mandar
matar pelo menos 40 pessoas, a
maioria de modo cruel. As vítimas foram achadas com partes do
corpo serradas, olhos perfurados
e corpos deformados por ácido.
Em depoimento anteontem à
CPI do Narcotráfico, o policial
Francisco Raimundo Pessoa disse
ter conhecimento de que essas
mortes foram ordenadas pelo deputado, a quem acusa de chefiar
um esquadrão da morte.
Para todas as acusações, a defesa foi a mesma: Pascoal disse ser
vítima de uma "armação" do desembargador Gersino José da Silva, ex-presidente do Tribunal de
Justiça do Acre.
O desembargador nega as acusações. Ele pediu proteção à Polícia Federal depois de ter sido avisado de que sua morte havia sido
tramada pelo deputado.
A explicação de Pascoal não
convenceu a maioria dos presentes, principalmente os membros
da CPI do Narcotráfico, que já ouviram diversos depoimentos contrários ao deputado.
O relator da CPI, Moroni Torgan (PSDB-CE), por exemplo,
disse que não acredita que Gersino José da Silva dedicasse sua vida
a uma campanha contra Pascoal,
pelo simples fato de ter perdido
uma gratificação de R$ 2.000.
O relator do pedido de licença
na CCJ, Inaldo Leitão, deverá dar
parecer favorável à licença, embora a tradição da Câmara seja negar autorização para processos
judiciais contra deputados.
O parecer de Leitão será votado
na próxima quarta-feira e enviado ao plenário, a quem cabe a decisão final.
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