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CAMPANHA
Candidatos recorrem a malabarismos e bizarrices para driblar tempo escasso na televisão e fisgar atenção e votos do eleitor
Tudo por um holofote
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1994, com pouquíssimos segundos no horário eleitoral, o cardiologista Enéas Carneiro obteve
a terceira maior votação entre os
candidatos a presidente, com
mais de 4,6 milhões de votos. Sua
estratégia: repetir à exaustão o
bordão "Meu nome é Enéas".
Seguindo a moda lançada por
Enéas, que concorre a vaga de deputado federal pelo Prona, candidatos a deputado e senador por
São Paulo recorrem a verdadeiros
malabarismos, alguns abertamente apelativos ou mesmo circenses, para tentar driblar o anonimato e fisgar a atenção do eleitor dentro do tempo escasso de
que dispõem na TV.
O corretor de imóveis Samuel
Silva, candidato a deputado estadual pelo PMN, decidiu que faria
com que o eleitor ao menos decorasse seu nome, entre os 1.572
candidatos ao cargo no Estado.
Levou a estratégia de Enéas ao extremo: passa todos os 30 segundos de sua propaganda repetindo
"Samuel Silva, Samuel Silva, Samuel Silva, Samuel Silva".
"Os candidatos ficam meia hora
só para decorar os textos que têm
de gravar. Imagina então o eleitor,
que só os assiste por 30 segundos", afirma ele. Questionado se
não seria o seu número que deveria ser divulgado, em vez do nome, ele contesta: "A intenção é
despertar a curiosidade. Aí as pessoas procuram saber qual é o meu
número, e saberão através dos
meus panfletos". No folheto, ele
tenta surpreender: "Pensou que
eu só sabia dizer o meu nome? Então conheça minhas propostas".
A estratégia do candidato a deputado federal Marcílio Duarte
Lima, do PST, é oposta à de Silva.
Ele só divulga seu número, sem
mencionar seu nome. Espalhou
pelas cidades faixas e banners
com os dizeres "Quem é 1818?".
"Primeiro quis construir a pessoa 1818. Agora vamos passar a falar das qualidades do 1818, para
depois revelar quem ele é", explica o candidato, que promete a
grande revelação para o horário
eleitoral do próximo dia 17. Segundo ele, foi essa estratégia que o
levou a se eleger vereador na cidade de Mairinque (interior de SP).
Fazer o eleitor decorar seu número é também a tática de Osvaldo Enéas Nantes Soares, sósia de
Enéas Carneiro. Depois de perder
na Justiça, na última semana, o direito de usar nas eleições o nome
de Enéas -que havia adotado
justamente por causa de sua semelhança com o candidato do
Prona-, Soares repete para o telespectador: "Decore! 1, 4, 5, 6; 14,
5, 6; 14, 56". O nome mudou, mas
a voz continua igual à do original.
Lucas Albano, candidato ao Senado pelo PMN, sabe que não é
conhecido do público e que tem
poucas chances de se eleger. Por
isso lança mão de um ardil estratégico no horário eleitoral. Sai ele
mesmo às ruas com um microfone, perguntando às pessoas o seu
voto para senador. A resposta
nunca coincide com seu nome,
então ele pede: "Nesse caso, deixe
eu ser seu segundo candidato".
Concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados, Beatriz
Duarte, do PTB, começa sua propaganda se apresentando. "Sou a
inventora do lava-arroz", diz,
com o utensílio na mão, para em
seguida afirmar ter "soluções
criativas e justas" para os pacientes e os profissionais de saúde.
Wadão, que concorre a uma vaga na Câmara estadual pelo
PMDB, levou um jegue ao horário
eleitoral para chamar a atenção e
protestar. "A violência está tão
grande que até meu jegue foi sequestrado. Paguei o resgate para
tê-lo de volta", diz na propaganda. No final, toca uma corneta.
Não é o único a levar um animal
ao horário político. O deputado
federal Marcos Cintra (PFL), que
tenta a reeleição, divide seu espaço na TV com um leão -de verdade. "Além de ser o símbolo do
Imposto de Renda, o leão chama a
atenção, já que a propaganda política é monótona e insuportável
para o telespectador." O leão é alimentado com um saco de frangos
inteiros antes das gravações. "Ele
fica bem sonolento. O leão é manso, mas é melhor não arriscar."
Colaboraram LUIZ FRANCISCO,
KAMILA FERNANDES, MAURÍCIO
SIMIONATO e MAURO ALBANO,
da Agência Folha
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