|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
Rolf Hackbart toma posse afirmando que trabalhará para revogar lei que proíbe vistoria de terra invadida
Novo chefe do Incra quer anular MP de FHC
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
O novo presidente do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Rolf
Hackbart, 45, tomou posse ontem, em Brasília, e prometeu empenho para revogar a medida
provisória que impede a vistoria
do órgão em terras invadidas, o
ponto mais polêmico do diálogo
entre ruralistas e sem-terra.
"É uma legislação que a gente
herdou do governo anterior. Ela
não contribui em nada para a reforma agrária. O arcabouço institucional e legal existente é mais
que suficiente para realizar e agilizar a reforma agrária", disse.
Um dos motivos que levaram o
ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) a indicar o
economista Hackbart para o comando do Incra, no lugar de Marcelo Resende, foi justamente o
bom trânsito que ele teria entre os
empresários rurais.
Resende, demitido na última
terça-feira, ignorou a MP durante
sua gestão e entrou em conflito
com os ruralistas, que pressionaram pela sua queda, alegando que
ele mantinha estreitos vínculos
com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e
que havia "aparelhado" o órgão.
A MP proíbe por dois anos as
avaliações e vistorias em terras invadidas e exclui da reforma agrária as pessoas que participarem de
invasões. Mesmo com 171 invasões nos oito primeiros meses
deste ano, o órgão não divulgou
listas com propriedades proibidas
de vistoria nem nomes de sem-terra excluídos da reforma agrária. O Incra justifica a desobediência à MP alegando "problemas estruturais".
Segundo Hackbart, a revogação
da MP, no entanto, será negociada com o Congresso, com os movimentos sociais e com os ruralistas. "Vamos respeitar a lei. Qualquer alteração será debatida com
todas as entidades", disse.
Questionado sobre sua missão
no Incra, Hackbart disse que terá
como meta "a agilização do programa de reforma agrária e a ampliação do diálogo".
Ele evitou falar sobre a meta estipulada pelo presidente Lula para
o número de assentamentos neste
ano, 60 mil famílias. "Vamos perseguir o maior número de famílias a serem assentadas, com qualidade e respeito à legislação."
Dois nomes foram anunciados
ontem por Hackbart para compor o primeiro escalação do Incra:
Marcelo Cardona Rocha, na Superintendência Nacional de Gestão Administrativa, e Carlos Guedes de Guedes na Superintendência Nacional de Desenvolvimentos, ambos ligados a Rossetto.
Nomeações
Ontem, Rossetto assumiu a responsabilidade pela indicação dos
29 superintendente regionais do
Incra, quase todos eles ligados a
movimentos de trabalhadores
sem terra. O vínculo, alvo de críticas de "aparelhamento da máquina", também foi um dos motivos
da queda de Resende.
Em sua despedida do Incra, o
ex-presidente disse que todas as
indicações haviam sido discutidas
com o ministro e com o partido.
Todos os superintendentes deverão ser mantidos.
"Eu disponho de uma estreita
relação com os movimentos sociais. Isso não desabona, pelo
contrário. Isso cria melhores condições para uma reforma agrária
pacífica, dialogada e eficiente",
afirmou.
A posse do economista foi
acompanhada por deputados federais petistas ligados aos sem-terra, pelo senador Aloizio Mercadante (SP), líder do PT no Senado, e pelo presidente do partido,
José Genoino.
Texto Anterior: Concessões não aumentam gasto, afirma Palocci Próximo Texto: Ruralistas atacam sugestão de rever medida provisória Índice
|