|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLCLORE POLÍTICO
Historietas Nordestinas
JARBAS PASSARINHO
José Sarney, governador do Maranhão, recebeu, cavalheiresco,
o ministro da Educação que fora
proferir a aula inaugural da Universidade Federal.
À tarde, o programa ficou por
conta do ministro, que percorreu
a universidade, gravou mensagem para a TV local, recebeu delegação de estudantes e ouviu concisa explanação do reitor, o
escritor e acadêmico Josué Montelo. A cidade de São Luís estava
muito bem tratada. O poeta José
Sarney mudara os nomes das
ruas, fazendo-os voltar às românticas designações coloniais ou do
início do Segundo Império. O jantar seria no Palácio dos Leões,
uma bela arquitetura, sede do governo e residência oficial do governante.
Como o Ministério da Educação era também o da Cultura, foi
preparado, para o ministro, um
evento cultural típico do folclore
maranhense: a demonstração do
Boi Bumbá.
Um palanque fora providenciado para receber as autoridades,
enquanto o povo acompanhava
na orla marítima, próxima ao
Palácio, a evolução do aplaudido
elenco servido por pequeno conjunto musical.
Ao fim da exibição, o governador convidou o ministro para
confraternizar com os integrantes
do Boi Bumbá. Desceram todos
do palanque e ficaram em torno
dos figurantes que continuavam
a dançar.
O "tripa", que simulava o boi,
volteando ao som da música, veio
fingir que chifrava o ministro,
que não conhecia suficientemente
o auto folclórico.
Uma, duas, três vezes, até que o
governador Sarney lhe sussurrou
ao pé do ouvido: "Ministro, esse
boi quer ração..."
Só então o visitante entendeu
que precisava abrir a carteira de
dinheiro...
Já na Bahia, onde não havia o
Boi Bumbá, o governador preparou manifestação popular de
agradecimento ao ministro. Terminada a cerimônia, desceram
todos do palanque e dirigiram-se
para os automóveis.
Um popular, porém, não largou
o braço do governador que, afinal, meteu a mão na carteira e
dela retirou uma nota, oferecendo-a ao insistente admirador.
Mas não era "ração" o que ele
queria. Recusou a nota e disse:
"Governador, não quero dinheiro, quero é consideração..."
JARBAS PASSARINHO, 82, ex-governador do Pará (1964 a 1966), ex-ministro
do Trabalho no governo de Costa e Silva
e da Justiça no governo de Fernando
Collor, escreve aos sábados nesta seção
Texto Anterior: Mídia: Entre os "com-telefone", Lula oscila 1 ponto e atinge 44% Próximo Texto: Reta Final: Caso vença, Lula não anunciará ministério Índice
|