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ENTREVISTA
Para o professor americano Albert Fishlow, limitação do uso de MPs forçará eventual gestão petista a se aliar a tucanos e peemedebistas
Especialista vê aliança PT-PSDB em governo Lula
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A limitação para a edição de
MPs (medidas provisórias) aumentará a importância do Congresso no próximo governo e
obrigará uma eventual administração Lula (PT) a se aliar ao
PSDB para poder governar, na
avaliação do professor americano
Albert Fishlow, diretor do Centro
de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, de Nova York.
Para Fishlow, a tendência é a
conformação de uma aliança entre PT, PSDB e PMDB, próxima à
que sustentou Fernando Henrique Cardoso no seu segundo governo, com o PT ocupando o lugar que era do PFL.
Ele avalia ainda que o pior da
crise econômica já passou e que
ela poderá ser afastada de vez em
um período de até seis meses se o
próximo presidente demonstrar
que está seguindo o acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não acho que uma vitória do Lula altere alguma coisa,
porque ele foi um dos primeiros a
ratificar [o acordo]", disse ele em
entrevista ontem à Folha, por telefone, de Nova York.
Folha - A atual falta de investimentos externos na América Latina, e em particular no Brasil, se
agravará caso Lula vença a eleição?
Existe uma forma de evitar isso?
Albert Fishlow - Acho que o pior
já passou. Foi difícil para as pessoas no exterior começarem a assimilar essa possibilidade de eleição do Lula. Todo mundo estava
seguro, no início, de que José Serra [PSDB" venceria. Agora, com o
passar do tempo, os banqueiros
da Europa, dos EUA, do Japão, já
estão conscientes da possibilidade
da vitória do Lula. Por isso há essa
reação do mercado, com esse
grande prêmio de risco que o Brasil está pagando. Mas eu acho que
mesmo com uma eleição do Lula
a situação deve melhorar dentro
dos próximos quatro a seis meses,
por uma razão simples: vai haver
uma possibilidade de comprovar
se o Brasil está seguindo efetivamente o acordo feito com o FMI.
Evidentemente, isso não quer
dizer a necessidade de seguir todas as linhas em detalhes, considerando as dificuldades do Japão,
da Europa e dos EUA. Ninguém
está imaginando que se o Brasil
chegar a um superávit de 3,65%
em vez de 3,75%. Mas um eventual governo Lula poderá comprovar ao FMI e ao mercado financeiro que seguirá a estratégia
macroeconômica atual.
Folha - Pelo discurso de Lula, o sr.
acha que ele seguirá realmente essa política?
Fishlow - Ele foi um dos primeiros a ratificar o acordo. Ele foi à
reunião com o Fernando Henrique e já tinha preparado um documento no qual disse que o Partido dos Trabalhadores estava
comprometido a seguir a linha do
acordo. Além disso, há uma coisa
que eu acho importante destacar.
Na prática, uma vitória do Lula
significará uma mudança limitada. Será realmente a substituição
do PFL pelo PT na aliança governista dentro do Congresso. E o
Congresso terá uma importância
ainda maior, porque as medidas
provisórias, que foram utilizadas
ilimitadamente pelo atual governo, serão limitadas agora.
Folha - E no caso de haver um segundo turno, o sr. acredita que essa possibilidade de aliança entre o
PT e o PSDB continua válida? Porque vai haver naturalmente uma
disputa maior, uma rivalidade
maior entre esses dois partidos...
Fishlow - Certo, mas, por outro
lado, não vejo alternativa. Se não
for com o PSDB, com quem o PT
vai fazer aliança? Com o PFL?
Folha - E o PMDB, não poderia fazer esse papel?
Fishlow- O PMDB, evidentemente, faz parte de qualquer coalizão. Quando eu falo nessa aliança, estou me referindo realmente
em PT-PSDB-PMDB, exatamente
como foi antes com PSDB-PMDB-PFL. O PMDB faz parte,
mas o elemento mais importante
para uma nova coalizão dentro do
Congresso seria o PSDB.
Folha - O sr. acha que a relação
Brasil-EUA num eventual governo
Lula tende a ser mais conflituosa?
Fishlow- Não, não vejo isso.
Dentro da secretaria do Tesouro,
da Casa Branca, do Departamento de Estado, todos nos EUA estão
dizendo a mesma coisa, que a democracia está funcionando e que,
como sempre, é necessário reconhecer e aceitar as decisões nacionais. Nesse sentido, acho que a
eleição brasileira é uma eleição
aberta, sem interferência externa.
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