São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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ACRE

Em depoimento, "cadastrador" confirmou ter aliciado moradores a pedido do candidato Ronivon Santiago, que oferecia R$ 100 por voto

PF prende acusado de cadastrar eleitores

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A RIO BRANCO

A Polícia Federal prendeu ontem em flagrante, em Rio Branco, o "cadastrador" de eleitores Advilson Nascimento de Lima. No depoimento, ele confirmou ter aliciado eleitores do bairro de Santa Inês, periferia da capital, a pedido do candidato a deputado federal Ronivon Santiago (PPB).
As investigações sobre a tentativa de compra de voto foram baseadas nas informações da Folha. A primeira reportagem sobre compra de votos no Acre foi publicada na edição de ontem.
Em 97, Ronivon era deputado federal do PFL quando foi acusado de receber R$ 200 mil para votar a favor da emenda da reeleição. Ele negou tudo, mas renunciou sem explicar o motivo.
Na casa de Advilson, foram encontrados cadastros com o nome de 400 eleitores, o número do título, a zona e a seção. Ele confirmou que as pessoas iriam, segundo promessas de Ronivon, receber R$ 100 por voto.
O "cadastrador" foi indiciado com base no artigo 299 do Código Eleitoral, que prevê até quatro anos de reclusão para quem oferecer dinheiro ou vantagens em troca de voto.
O superintendente da Polícia Federal, Paulo Fernando Bezerra, informou que enviaria ainda ontem uma cópia do auto de prisão, do depoimento de Advilson e dos cadastros de eleitores ao Ministério Público Federal. O objetivo da Procuradoria da República é pedir a cassação da candidatura do candidato Ronivon.
A polícia já ouviu quatro eleitores do bairro de Santa Inês, que confirmaram a tentativa de compra de voto. Os nomes dessas pessoas estão sendo preservados.
O esquema de aliciamento de eleitores de Ronivon era o seguinte: dividir a periferia de Rio Branco, onde está concentrada a maioria dos 369.700 mil eleitores do Acre, e contratar um "cadastrador" para cada um dos bairros.
A residência do "cadastrador" serve como uma espécie de comitê eleitoral no bairro. Em Santa Inês, Ronivon reuniu-se com eleitores na casa de advilson, há cerca de três semanas, e prometeu pagar R$ 100, a partir das 17h deste domingo, para quem votasse nele para federal. O cadastramento foi encerrado na terça.
Advilson disse à Folha na quarta, em Santa Inês, ter entregado a Ronivon uma lista com mais ou menos 500 nomes de eleitores. A Folha apurou, no entanto, que o total de cadastrados chega a cerca de 15 mil pessoas.
No esquema de compra de votos, também está incluído o irmão de Ronivon que concorre a uma vaga na Assembléia Legislativa com o nome de Santiago (PPB).
Na casa de Ronivon, em Rio Branco, onde ele atende eleitores, está pintado na parede a frase "trio parada dura" com a fotografia dos três irmãos políticos: Ronivon (que na verdade se chama José Santiago, mas tem esse apelido por ser considerado um "sujeito simpático"), Santiago (o deputado estadual) e Carlinhos Santiago (vereador).
Taxistas ouvidos pela Folha informaram que Carlinhos -que tem bom trânsito com os motoristas- distribuiu nos pontos da capital fichas de cadastro específicas, com lugar para preencher os dados de cinco eleitores.
Os motoristas que quisessem participar da reunião de cadastramento feita no dia 18, na casa de Carlinhos, deveriam apresentar a ficha com pelo menos três nomes preenchidos. Era o passaporte para concorrer a 25 litros de gasolina sorteados na ocasião para 50 taxistas que foram ao encontro.



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