São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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TODA MÍDIA

A Globo e a polarização

NELSON DE SÁ

Perto da meia-noite de domingo, lá estavam José Serra e Marta Suplicy, ao vivo no final do Fantástico.
Nem bem amanheceu e lá estavam eles de novo, ao vivo no Bom Dia São Paulo. E depois no Bom Dia Brasil, SPTV, Hoje, SPTV de novo, Jornal Nacional, em entrevistas exclusivas. A certa altura, a própria rede citou a noite mal dormida.
Isso, só na Globo. Ontem os dois falaram também a outras emissoras e às rádios CBN, Jovem Pan, Bandeirantes.
Não foi possível, nem seria saudável, acompanhar tamanha polarização tucano-petista. Mas o que importa é a Globo. E o que espalha como notícia.
Para a Globo, petistas e tucanos venceram. Da manchete do Jornal Nacional:
- O PT é o partido mais votado. O PSDB se firma como o principal da oposição.
O comentarista Franklin Martins, sempre ele, justificou depois a manchete:
- O PT e o PSDB têm o que comemorar. O PT porque cresceu e cresceu bastante, mostrando que a vitória de Lula não foi acidente. O PSDB porque se afirmou como principal partido de oposição, especialmente nas cidades mais importantes.
Mais argumentos:
- O PT chegou em primeiro: foi o partido mais bem votado em todo o país. Seus candidatos somados receberam 16.327.008 votos. A seguir veio o PSDB, com 15.710.476 votos.
Já o PFL "sofreu uma derrota feia: perdeu uma em cada quatro prefeituras que tinha. O PMDB, também". Até aí, o JN deixou os poderosos tucanos e petistas felizes.
Mas aí veio, por fim:
- Vamos ver agora o que acontece no segundo turno, especialmente em São Paulo, onde Serra larga com boa vantagem.

NA DÚVIDA

ft.com/Reprodução


Jornais europeus e latino-americanos já traziam ontem, em seus sites, reportagens próprias sobre as eleições no Brasil.
Para a maioria, talvez ainda sob o efeito da pesquisa de boca-de-urna da Globo, "o partido de Lula teve mais ganhos do que qualquer outro nas eleições municipais". Foi o que destacou o britânico "Financial Times" (ilustração acima), acrescentando depois o quadro de São Paulo, com a vantagem para o PSDB de José Serra no segundo turno.
Para o francês "Le Monde", o PT sai "reforçado" das eleições, mas está "em dificuldade" em São Paulo. No título do "El País", "o partido de Lula se consolida", mas um segundo destaque do jornal espanhol dizia que "a oposição social-democrata se impôs em São Paulo".
Na Argentina, "La Nación", "Clarín" e outros trouxeram reportagens semelhantes quanto a PT e São Paulo -assim como o "El Universal", do México.
Nos EUA, "New York Times" e "Washington Post" reproduziam em seus sites os despachos tanto da agência AP como da Reuters. O título da primeira:
- Partido do presidente do Brasil está mais forte.
E o da segunda:
- Partido governista enfrenta segundo turno em SP.

Os blogs e a oligarquia
Os blogueiros mais voltados à política, no Brasil, parecem estar mais interessados no que aconteceu aos "coronéis" do que em São Paulo. De Marcelo Tas:
- As urnas deram o recado: vitória das forças de esquerda nas principais cidades do Brasil. Nem nos currais tradicionais onde os velhos coronéis mandam, tipo Maranhão e Bahia, a direita teve sucesso.
Jorge Bastos Moreno, para quem "São Paulo estará bem servida" com Serra ou Marta, arriscou que "as três maiores lideranças do Nordeste perdem: ACM, Jarbas Vasconcelos e Tasso Jereissati".
Ricardo Noblat, de sua parte, foi ouvir Roseana Sarney sobre o tema, ontem. E ela teria dito com ironia, em referência ao interior do Maranhão:
- Pois é, a oligarquia se deu bem na eleição.
 
Nos blogs mais abertamente alinhados, Cristóvam Buarque escrevia ainda no domingo, mas não em referência direta às eleições, que "a esquerda morreu, viva a esquerda".
Luiz Carlos Bresser Pereira, em seu site, dizia que "a vantagem alcançada por Serra premiou o melhor", acrescentando que em "Belo Horizonte e Recife o PT não enfrentou candidatos tão fortes e dois bons prefeitos foram reeleitos".
Eduardo Graeff, também egresso do governo FHC, especulava "onde é que estavam escondidos esses sete-oito pontos de vantagem de Serra":
- Meu palpite é que foi eleitor pobre dos bairros "dominados" pelo PT. Gente que se assustou com as brigadas motorizadas e deu o troco na urna.


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