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Projetos com problemas batem recorde na Câmara
Entre 254 propostas devolvidas, há casos fora do regimento ou que ferem Constituição
Deputados apresentam ainda projetos idênticos ou que cabem só ao presidente da República; secretaria diz que reformulações são raras
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mais de um ano do fim da
atual legislatura, o número de
propostas devolvidas pela Câmara aos deputados por problemas primários já bateu recorde. De fevereiro de 2007 a
setembro de 2009, foram 254
projetos ou emendas constitucionais devolvidos por contrariar regras básicas que orientam o trabalho do congressista.
Há casos de projetos idênticos apresentados pelo mesmo
deputado, propostas que cabem apenas ao presidente da
República -como reestruturação da Abin (Agência Brasileira
de Inteligência) e criação de
universidades-, além de textos
com problemas estruturais:
apresentados como projeto de
lei em vez de projetos de resolução. Há ainda aqueles que ferem claramente a Constituição.
Em relação à última legislatura (fevereiro de 2003 a janeiro de 2007), quando 229 propostas foram devolvidas, houve
um crescimento pequeno até
agora. Mas, na comparação
com anos anteriores, a diferença é significativamente maior.
De fevereiro de 1999 a janeiro
de 2003, apenas 35 matérias foram devolvidas. Entre 1995 e
janeiro de 1999, somente 3.
Os dados foram levantados
pela Secretaria-Geral da Câmara a pedido da Folha e mostram que, cada vez mais, os deputados ignoram a Constituição e o regimento interno da
Casa -já que não houve mudança na forma de análise para
detectar problemas nos textos.
Depois de idealizar um projeto, o deputado deve protocolá-lo na secretaria da Casa, onde uma equipe de técnicos faz
uma primeira análise dos textos. Caso haja algum tipo de irregularidade clara, como inconstitucionalidade e afronta
ao regimento, eles são imediatamente devolvidos ao autor.
Os número citados referem-se a esses casos. No entanto, os
projetos ainda podem ser devolvidos após votação nas comissões de mérito. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pode detectar problemas
mais "graves" -não tão visíveis
na secretaria- e reenviar os
textos aos deputados.
"Acho que a Câmara ainda
devolve pouco. Deveria devolver mais, tinha que ser mais rigorosa para filtrar, evitando
perda de tempo e de papel",
afirmou o deputado Fernando
Coruja (PPS-SC), que teve dois
projetos devolvidos em 2007.
Ambos feriam claramente a
Constituição e nem chegaram a
ser reapresentados.
No ano passado, o deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
veterano na Casa, apresentou
dois projetos de lei idênticos a
outros dois apresentados por
ele mesmo. Um tratava da proibição da importação de pneus
usados e outro, da obrigatoriedade de colocação de pavimento apropriado para deficientes
perto de telefones públicos e
outras localidades.
O deputado disse não se recordar da primeira proposta.
Sobre a segunda, ele disse que a
reapresentou, pois ela havia sido rejeitada em uma comissão.
"Por isso eu apresentei de novo
e ela foi devolvida. A gente vacila e ela é rejeitada em alguma
comissão. Isso aí é coisa de interesse público, mas tinha esquecido que uma proposta só
pode ser reapresentada em outra legislatura", disse.
Quando um projeto é devolvido, o deputado tem cinco sessões para recorrer. Ele também
pode reformular o seu texto e
reapresentá-lo. O secretário-geral da Mesa, Mozart Viana,
diz, no entanto, que isso não
acontece com muita frequência. "Raramente alguém discorda da decisão dos técnicos,
poucas vezes vi isso acontecer."
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