São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Projetos com problemas batem recorde na Câmara

Entre 254 propostas devolvidas, há casos fora do regimento ou que ferem Constituição

Deputados apresentam ainda projetos idênticos ou que cabem só ao presidente da República; secretaria diz que reformulações são raras

MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mais de um ano do fim da atual legislatura, o número de propostas devolvidas pela Câmara aos deputados por problemas primários já bateu recorde. De fevereiro de 2007 a setembro de 2009, foram 254 projetos ou emendas constitucionais devolvidos por contrariar regras básicas que orientam o trabalho do congressista.
Há casos de projetos idênticos apresentados pelo mesmo deputado, propostas que cabem apenas ao presidente da República -como reestruturação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e criação de universidades-, além de textos com problemas estruturais: apresentados como projeto de lei em vez de projetos de resolução. Há ainda aqueles que ferem claramente a Constituição.
Em relação à última legislatura (fevereiro de 2003 a janeiro de 2007), quando 229 propostas foram devolvidas, houve um crescimento pequeno até agora. Mas, na comparação com anos anteriores, a diferença é significativamente maior. De fevereiro de 1999 a janeiro de 2003, apenas 35 matérias foram devolvidas. Entre 1995 e janeiro de 1999, somente 3.
Os dados foram levantados pela Secretaria-Geral da Câmara a pedido da Folha e mostram que, cada vez mais, os deputados ignoram a Constituição e o regimento interno da Casa -já que não houve mudança na forma de análise para detectar problemas nos textos.
Depois de idealizar um projeto, o deputado deve protocolá-lo na secretaria da Casa, onde uma equipe de técnicos faz uma primeira análise dos textos. Caso haja algum tipo de irregularidade clara, como inconstitucionalidade e afronta ao regimento, eles são imediatamente devolvidos ao autor.
Os número citados referem-se a esses casos. No entanto, os projetos ainda podem ser devolvidos após votação nas comissões de mérito. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pode detectar problemas mais "graves" -não tão visíveis na secretaria- e reenviar os textos aos deputados.
"Acho que a Câmara ainda devolve pouco. Deveria devolver mais, tinha que ser mais rigorosa para filtrar, evitando perda de tempo e de papel", afirmou o deputado Fernando Coruja (PPS-SC), que teve dois projetos devolvidos em 2007. Ambos feriam claramente a Constituição e nem chegaram a ser reapresentados.
No ano passado, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), veterano na Casa, apresentou dois projetos de lei idênticos a outros dois apresentados por ele mesmo. Um tratava da proibição da importação de pneus usados e outro, da obrigatoriedade de colocação de pavimento apropriado para deficientes perto de telefones públicos e outras localidades.
O deputado disse não se recordar da primeira proposta. Sobre a segunda, ele disse que a reapresentou, pois ela havia sido rejeitada em uma comissão. "Por isso eu apresentei de novo e ela foi devolvida. A gente vacila e ela é rejeitada em alguma comissão. Isso aí é coisa de interesse público, mas tinha esquecido que uma proposta só pode ser reapresentada em outra legislatura", disse.
Quando um projeto é devolvido, o deputado tem cinco sessões para recorrer. Ele também pode reformular o seu texto e reapresentá-lo. O secretário-geral da Mesa, Mozart Viana, diz, no entanto, que isso não acontece com muita frequência. "Raramente alguém discorda da decisão dos técnicos, poucas vezes vi isso acontecer."


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